Na carta, os indígenas ticunas solicitam que o curso seja ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no campus em Benjamin Constant
Indígenas do povo ticuna da região do Alto Solimões, no Amazonas, escreveram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo a implantação de um curso de Medicina Tropical, em Benjamin Constant (município distante 1.119 quilômetros de Manaus). O documento é assinado pelo líder indígena ticuna, Paulo Honorato Mendes, e foi entregue ao presidente Lula durante uma visita a Manaus ainda na campanha eleitoral.
Na carta, os indígenas ticunas solicitam que o curso seja ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no campus em Benjamin Constant. O pedido quer incentivar a formação acadêmica e profissional de jovens de indígenas, mas o documento ressalta que a “solicitação visa alcançar não apenas os povos indígenas como também o restante da população não indígena”.
O líder indígena Paulo Honorato disse ao A CRÍTICA que a implantação do curso no município é fundamental visto que é uma região muito distante da capital. Segundo ele, muitas vezes os jovens até são aprovados no vestibular, mas o deslocamento para a capital requer recursos que eles não têm.
“O alto Solimões é um lugar muito distante, às vezes, nossos jovens são selecionados em vestibulares, mas quando chega hora viajar nós ficamos sem apoio para passagem. Aí nós tivemos a ideia de fazer esse pedido ao presidente do Brasil caso eleito. Para nós era a única solução, vindo do presidente que nós já sonhamos acompanhando o trabalho dele e confiamos nele e que ele é único”, relatou a liderança indígena.
Na carta entregue à Lula, os indígenas destacam que o povo ticuna é o maior povo indígena do país com uma população de cerca de 60 mil pessoas, sendo a maioria na região do Alto Solimões, onde está localizado o igarapé Eware.
DIFICULDADES LOGÍSTICAS
De acordo com o documento, há um crescimento populacional acelerado e por isso eles acreditam ser urgente reforçar as antigas demandas pela formação acadêmica e profissional de jovens indígenas. “Uma das demandas principais é na área de saúde, que apesar de alguns avanços nessa política pública, nossas comunidades continuam carentes de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde”, afirmam.
O documento também cita que frequentemente os indígenas precisam se deslocar até a cidade de Manaus para tratar doenças tropicais como malária, dengue, febre amarela, doença de chagas, leishmaniose, hepatites, entre outras que afetam a população indígena.
“Neste sentido, apelamos para vossa sensibilidade para que viabilize a instalação do Curso de Medicina Tropical na UFAM localizada em nossa região, pois isto facilitaria bastante o acesso de nossos alunos indígenas que enfrentam muitas dificuldades para conseguir se formar em áreas de saúde, pois não possuem condições financeiras de ir estudar e morar na cidade de Manaus”, diz trecho da carta.
A demanda pela abertura do curso, segundo a liderança indígena, ultrapassa as necessidades do povo Ticuna, abrangendo também as necessidades dos demais povos indígenas. “Os Kokama, Cambeva, Kaixana, Kanamari e Witota do Alto Solimões e ainda dos povos indígenas do Vale do Javari Maubo, Mayuruna, Matis, Kulina e Kanamari que são nossos vizinhos”, destaca.
A carta finaliza destacando que o pedido tem como objetivo beneficiar não apenas os povos indígenas como também o restante da população não indígena de Benjamin Constant e municípios vizinhos.