SAINDO DA ESCURIDÃO

Litro de luz: projeto leva iluminação a comunidades amazônicas que viviam no escuro

A solução usa garrafa pet, cano de PVC e energia solar, em um projeto inovador de geração de energia que já impactou diversas comunidades espalhadas pelo Amazonas, Brasil e o mundo

Amariles Gama
online@acritica.com
25/06/2022 às 12:13.
Atualizado em 25/06/2022 às 12:13

Projeto engenhoso facilita a vida dos moradores de locais que não possuem acesso a eletricidade (Foto: Divulgação/Uatumã Rocha)

A falta de energia elétrica pública ainda é a realidade de muitas pessoas. No Amazonas, quase 160 mil pessoas vivem sem iluminação. Com 3,9% da população sem energia elétrica, o estado é o segundo do país com maior percentual de população no escuro. Os dados são de um levantamento realizado em 2019 pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).  

Uma iniciativa da organização Litro de Luz tem levado iluminação para comunidades sem acesso ao serviço básico e buscado mudar a realidade dessas pessoas. A solução usa garrafa pet, cano de PVC e energia solar, em um projeto inovador de geração de energia que já impactou diversas comunidades espalhadas pelo Amazonas, Brasil e o mundo. 

No Amazonas, o projeto gerou impactos na saúde, na economia, na segurança e na qualidade de vida dos comunitários. Os moradores relatam que depois da chegada do projeto de iluminação, eles podem comer o peixe a noite sem engasgar com espinhas, ter mais segurança para caminhar a noite pela comunidade, se prevenir de animais peçonhentos, além dos benefícios à saúde e ao meio ambiente por conta da utilização de energia limpa e renovável.

(Foto: Divulgação/Uatumã Rocha)

Segundo o vice-presidente de Gente & Gestão do Litro de Luz, Rodrigo Eidy Uemura, a organização surgiu nas Filipinas, quando Illac Diaz resolveu fundar o movimento Liter of Light. No entando, a solução apresentada no projeto foi idealizada por um brasileiro, o mecânico Alfredo Moser, morador de Uberaba (MG), que criou a solução durante a crise energética ocorrida no país em 2001.

“Moser criou uma solução super simples com um grande impacto, que é basicamente pegar uma garrafa pet, colocar água, um pouquinho de alvejante, e metade dessa garrafa fica para fora do telhado e a outra metade pra dentro do telhado. Então, ele iluminava o cômodo com o equivalente a uma lâmpada de 60 watts”, explicou Uemura, ao destacar que a ideia foi replicada e acabou se espalhando pelo mundo todo.

Implantação

Em 2014, a ideia voltou ao Brasil, já com a organização Litro de Luz. Atualmente, o projeto está presente nas cinco regiões do país, impactando mais de 20 mil pessoas, e chegou a Manaus em 2016. No Amazonas, o Litro de Luz já levou o projeto a 26 comunidades. Foram 1.525 soluções instaladas e 4.994 pessoas impactadas diretamente com as ações do projeto. 

A organização também usa uma metodologia de desenvolvimento social, promovendo engajamento comunitário por meio das soluções de iluminação. Durante as ações, são os moradores que montam as soluções e aprendem como funciona a tecnologia. No Amazonas, a organização já formou 47 embaixadores em diversas comunidades.

(Foto: Divulgação/Uatumã Rocha)

É o caso do embaixador Aquiles do Nascimento de Lima, de 23 anos, morador da Comunidade Popuaí, na Reserva Extrativista do Médio Juruá, que se emocionou ao falar sobre os impactos do Litro de Luz em sua comunidade. Ele destacou que a iniciativa impactou 100% na vida das pessoas das comunidades, principalmente na vida dele. 

“É um benefício gratuito, porque a gente só coloca a placa no sol pra carregar e você não precisa ficar comprando pilha e lanterna para iluminar. Eu parabenizo muito quem teve essa ideia brilhante e parabenizo todo mundo que se empenha para mostrar que o Litro é referência em economia, porque você não precisa ficar gastando energia ou tirando dinheiro pra comprar pilha e lanterna”, disse.

Outro embaixador do projeto é Genis de Oliveira Costa, de 33 anos, morador da Comunidade Lindo Amanhecer, na zona rural de Manaus. Ele disse que considera a vinda do projeto à comunidade uma ‘benção de Deus’, e afirma que só tem a agradecer, porque o projeto trouxe muitas melhorias à sua comunidade. 

“Agora a gente tem a luz a noite todinha, e também temos os lampiões para iluminar dentro de casa e tem os postes também. Ficou muito bom! Às vezes, eu saio 5h pra pescar e ainda está ligado. A gente só tem a agradecer. Ficou muito bom o projeto e tem muita serventia pra comunidade toda”, disse Genis.

(Foto: Divulgação/Uatumã Rocha)

Sol como aliado

O voluntário do Litro de Luz em Manaus, Daniel Cid Vieira Prestes, explica que a geração de energia elétrica é feita por meio da energia solar. “A placa solar absorve energia, a energia, por sua vez, carrega a bateria, e a bateria carregada dá autonomia para que o poste ou lampião fique ligado de 4 a 6 horas. A garrafa pet é para proteger o LED que fica na ponta e as baterias são de lítio, ou seja são baterias bastante duráveis, com vida útil de mais de 6 anos”, explicou.

Há quatro anos como voluntário na organização, Daniel destaca o que Litro de Luz é muito mais que um trabalho, é um propósito do qual ele nunca pensou em desistir. “O propósito é o que mais nos move dentro dessa organização. É aquele olhar de esperança, mas não de esperar por alguma coisa. É aquele olhar do comunitário agradecido por a gente levar um pouco mais de qualidade de vida para ele”, disse.

Com materiais simples, o Litro de Luz apresenta três tipos de soluções a fim de levar iluminação solar para a população: o lampião solar, um dispositivo portátil para iluminar o interior das casas ou o caminho pela comunidade; o poste solar, que é uma iluminação fixa nas ruas, gerando mais segurança aos moradores; e a iluminação interna, solução ideal para espaços de convivência das comunidades.

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