Guerreiros da natureza

Livro conta a história da PF no combate a crimes ambientais na Amazônia

Delegado aposentado da Polícia Federal, relata, na obra, trajetória da unidade da PF especializada no combate a crimes ao meio ambiente

Emerson Medina
13/11/2022 às 11:39.
Atualizado em 13/11/2022 às 11:56

Delegado aposentado, Jorge Pontes, foi o primeiro diretor da Divisão de Combate aos Crimes Ambientais da Polícia Federal (Livro: Divulgação)

"Eram só tartarugas". A frase ecoa ainda hoje em Jorge Pontes. Ele a ouviu quando era agente da Polícia Federal (PF) em uma de suas primeiras missões na Amazônia de combate ao tráfico de drogas, no final dos anos 1980. A apreensão dos entorpecentes, um sucesso, foi celebrada pelos agentes, que deixaram  a outra carga de pouco mais de 100 tartarugas prosseguir, provavelmente para o abate ilegal.

Foi o estopim para que Jorge Pontes tomasse a iniciativa de criar dentro da PF uma estrutura para punir criminosos da fauna e da flora no País. Agora, a história da Divisão de Combate aos Crimes Ambientais da Polícia Federal (Editora Maplab - Rio de Janeiro, 2022) é contada no livro "Guerreiros da Natureza - A história do combate aos crimes ambientais na PF", de autoria do próprio Pontes, o primeiro diretor da divisão,  hoje, delegado aposentado, bacharel em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Amazonas  (Ufam) e escritor, sendo este último, o terceiro livro. 

Passadas duas décadas de criação da divisão, Pontes destaca os avanços em entrevista  ao A CRÍTICA, porém afirma o desapontamento com alguns retrocessos da questão ambiental no País. 

"A Amazônia sofre de maneira crônica da ausência de Estado. Outros governos também tiveram problemas, mas essa atual administração (do Governo Bolsonaro) aprofundou ainda mais o problema. Isso porque eles não estão preocupados em defender o meio ambiente. Eles são infiltrados para quebrar as resistências ambientais", diz Jorge Pontes.

Legislação

O livro traz essa trajetória com detalhes de informações e de como a unidade e a PF colaboraram com o arcabouço da atual legislação ambiental. "Nós fazíamos as operações e éramos chamados para ir ao Congresso prestar informações. Nós conversávamos com os parlamentares como o Fernando Gabeira (que assina o prefácio do livro), a Marina Silva e o Carlos Minc (ambos ex-ministros do Meio Ambiente)", lembra o autor.

Havia também a estratégia de ao falar com a imprensa reforçar aos jornalistas: "A legislação sobre isso é frágil, precisa melhorar".  

Para Jorge Pontes, a divisão da PF foi o início da presença maior do Estado na região e permitiu uma série de ações que puniu fraudadores do manejo de madeira, biopiratas que mandam partes de animais como artefato indígena, sem que nenhum indígena tenha tocado nos animais e garimpeiros ilegais. 

"O garimpo deixa uma série de problemas não só para o meio ambiente, mas para os ribeirinhos e com uma complicação para a saúde, porque o mercúrio fica ali por pelo menos 100 anos, nos mananciais", frisa o autor.  

Como essa presença do Estado foi minada nos últimos quatro anos, a região se vê assolada de criminosos do meio ambiente que estendem as redes para outras faces da criminalidade. 
É o que aconteceu com o episódio do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira  este ano na região do Vale do Javari. A suspeita é que os responsáveis pelas mortes estão envolvidos com a pesca ilegal e o tráfico de drogas.  

Conflitos

"O País teve redução no número de assassinatos, menos nas regiões onde há crimes ambientais. É uma relação entre o crime ambiental, os do tipo convencional e a corrupção  na área política, porque muitos políticos são financiados por esses criminosos que passam  a ter representantes nos municípios, nas capitais e em Brasília", denuncia. 

Segundo o escritor, as fronteiras podem ter o reforço das Forças Armadas, pois já há legislação que autoriza o uso como polícia dos militares  nessas áreas. E nos demais pontos, sugere grandes unidades da PF com um bom contingente e estrutura incluindo aparato tecnológico. 

"A questão do crime ambiental é que ele tem caráter de fatalidade pois afeta recursos importantes não só para os 20 milhões de habitantes da Amazônia, mas para o Brasil e o Mundo", alerta.

O livro, lançado no Rio de Janeiro, onde reside o autor, deve ter um evento para Manaus, mas ainda sem data e locais previstos.

"Manaus para mim é o epicentro para a defesa do Meio Ambiente, porque está na região de maior megadiversidade entre os países com megadiversidade. O mundo não olha mais para o Brasil por causa de futebol ou samba, mas por causa da Amazônia", diz Jorge Pontes.

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