Por R$ 500 anuais, pessoas contribuirão com preservação de centenas de espécies do Jardim Botânico do museu
(Foto: Euzivaldo Queiroz)
Acariquara roxa, Angelim pedra, Breu branco, Sucupira preta, Uchi. Estas são algumas das espécies raras de árvores nascidas há centenas de anos na área da Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada no bairro Cidade de Deus, Zona Leste de Manaus. Hoje, alguns desses exemplares estão reunidos no Musa Jardim Botânico, localizado em um segmento da Reserva. Trata-se de uma pequena amostra da evolução da floresta amazônica, cuja origem remonta há seis milhões de anos.
E pela quantia de R$ 500 anuais, você leitor (a) poderá adotar estas e de mais 500 espécies de árvores existentes no local, contribuindo para que plantas e sementes continuem brotando, e terá seu nome exibido em placas junto à classificação, características e localização da árvore. Lançado no dia 26 de junho, o projeto Amicus Flora alia ciência, conservação da biodiversdade e militância a favor do conhecimento especializado.
“Tínhamos uma antiga ideia de instalar placas de catalogação das espécies em nossas trilhas no Musa (Museu da Amazônia) e na Reserva Ducke”, explicou Ênio Candotii, diretor do museu, cujas atividades foram encerradas de forma temporária em razão da pandemia da Covid-19. Antes, o local recebia em média 70 mil visitantes por ano.
“Nossa receita foi a zero. Dependemos dela para manter as atividades básicas para custeio de manutenção e folha de pagamento”, comentou Candotti. Outro propósito da iniciativa, segundo o diretor, é “defender a floresta das agressões incendiárias terraplanistas”.
“É uma forma de aproximar as pessoas das plantas, além de ajudar o Musa a manter suas portas abertas. Acreditamos que, conhecendo mais sobre a biodiversidade, as pessoas se sentirão mais envolvidas e engajadas na preservação”, disse Veridiana Vazzoler, curadora do Jardim Botânico do Musa e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A lista das mais de 2.200 árvores classificadas e localizadas nas trilhas, canteiros de palmeiras e no lago do Jardim está disponível no link www.museudamazonia.org.br, aba “Amicus Flora”. Por meio do banner, os interessados podem escolher uma das plantas da lista e enviar um e-mail para amicusflora@museudaamazonia.org.br solicitando a adoção e o nome da planta preferida. Após receber a confirmação que a árvore ainda não foi reservada, o padrinho - ou a madrinha – é convidado a depositar o valor, que pode ser dividido entre vários padrinhos, cuja identificação vai constar nas placas do Jardim Botânico do Musa.
Tefé poderá implantar jardim
A proposta de custear a criação e a manutenção de jardins botânicos por meio de patrocínios de pessoas físicas pode ser ampliada para os municípios do interior, sugeriu o diretor do Musa, Ênio Candotti. Essa estratégia começou a ser pensada nas negociações para a implantação de uma unidade em Tefé, a 522 quilômetros de Manaus, interrompidas em respeito às medidas de isolamento social.
O secretário de Ciência e Tecnologia do município, Josivaldo Modesto, informou que a área já foi identificada e deve ser oficializada até o final deste ano. “Será um ganho imenso para todos (cidade, população em geral, estudantes, acadêmicos, instituições de pesquisa e etc). Tefé passará a contar com mais um espaço destinado à população e à produção de conhecimentos científicos voltados à Botânica da região”.
O espaço será custeado por investimentos públicos, “mas pretendemos acessar editais e outras oportunidades de fomento para este tipo de iniciativa”, complementou Modesto. Além da Prefeitura e do Musa, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Sedecti-AM) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) também participam do planejamento para a instalação do jardim botânico de Tefé.
“Todas poderão, dentro de suas autonomias, alavancar recursos para o projeto. Mas ainda precisamos nos reunir e discutir essas questões”, ponderou Modesto.
Nova mostra inicia em agosto
A programação do Musa conta hoje com duas exposições, “Peixe e Gente” e “Aturas Mandiocas e Beijus”, inauguradas em 2014. Em agosto, entra em cartaz mostra com o tema “Paleontologia na Amazônia”, onde serão apresentadas reproduções de esqueletos de animais, fragmentos e peças originais de fósseis. Já o acervo arqueológico é composto pela coleção da geóloga e paleontóloga Rosalie Benchimol, que reúne fósseis e amostras de minerais; peças coletadas nas proximidades do município de Autazes e materiais recolhidos em sítios da Amazônia Central, cedidos ao Musa pelo Iphan).
É uma forma (adoção de árvores) de aproximar as pessoas das plantas, além de ajudar o Musa a manter suas portas abertas. Acreditamos que, conhecendo mais sobre a biodiversidade, as pessoas se sentirão mais envolvidas e engajadas na preservação”
Veridiana Vazzoler, curadora do Jardim Botânico do Museu da Amazônia (Musa) e professora da (Ufam)