Cooperação vem em um momento de agravamento das atividades ilegais no Alto Solimões, que inclui o Vale do Javari, e a cobrança da população por uma maior presença do Estado
(Foto: reprodução/internet)
A Polícia Federal e a superintendência do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas estão em diálogo para que um prédio do departamento da PF em Tabatinga seja cedido ao órgão ambiental. A cooperação vem em um momento de agravamento das atividades ilegais no Alto Solimões, que inclui o Vale do Javari, e a cobrança da população por uma maior presença do Estado.
"Está havendo um esforço para reabrir essa unidade do Ibama em Tabatinga e eu estive lá [no prédio da PF], conheci o local e apresentei um relatório ao presidente do Ibama para que nós façamos um acordo de cooperação técnica e possamos usar o prédio da PF", afirmou para A CRÍTICA o superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo.
De acordo com ele, a ideia é que o local seja utilizado como base operacional, abrigando servidores que estejam realizando ações na região. "Futuramente queremos reestabelecer uma unidade do Ibama [em Tabatinga] com todos os requisitos, com servidores e quem sabe até um prédio próprio", pontuou.
Em entrevista para a Folha de São Paulo, em março, o presidente do Ibama, Rodrigo Constantino, já havia expressado vontade de reativar a base, apesar de alegar dificuldades. "Não temos condições de reabri-la imediatamente, mas está no nosso planejamento, assim que resolver o problema do efetivo [de servidores]", disse.
Necessidade
A base do Ibama funcionou em Tabatinga até 2018, quando foi fechada definitivamente. Antes, outra representação do órgão em Humaitá já havia sido encerrada em 2017, após o prédio do Ibama ser incendiado por garimpeiros, em retaliação a uma operação. A última base no interior do Amazonas ficava em Parintins, mas foi fechada em 2019.
Hoje, todas as ações partem de Manaus ou Brasília (DF). Apenas para efeito de comparação, a capital do Amazonas fica a mais de 1,1 mil quilômetros de Tabatinga, colocando a distância como uma barreira para a fiscalização na região.
"Já conversei sobre isso [reabrir a base em Tabatinga] com o presidente do Ibama logo no início da nossa gestão e ele também já vinha entendendo que isso deveria ocorrer. A ideia é ser uma base regional para atender todo o Alto Solimões e o Vale do Javari", afirma Joel Araújo.
Nesta semana em que os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, completam um ano, indígenas voltaram a criticar a ausência do Estado na região. Em 2019, o Alto Solimões também foi palco do assassinato do servidor da Funai Maxciel Pereira, em Tabatinga.
"Não mudou nada [depois dos assassinatos no Vale do Javari]. Está do mesmo jeito. Ameaças continuam. E a presença dos pescadores continua", afirmou à Agência Pública o novo presidente da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Bushe Matís.
Apesar da ausência de uma base, o superintendente do Ibama afirma que o órgão tem intensificado operações desde o início do ano. "Já executamos duas operações de combate ao garimpo lá [no Vale do Javari], uma de pesca predatória com toneladas de peixes sendo apreendidas e fiscalização na feira [do município] com apreensão de carne de caça", disse.