Futuro da Amazônia entra em pauta com vitória de Joe Biden
Relação com os EUA deve sofrer mudanças após posse de democrata, que refuta negacionismo ambiental do Governo Bolsonaro
A proteção da Amazônia está entre as promessas de campanha do 46° presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden. Apesar do medo por parte da ala mais conservadora brasileira de uma intervenção norte-americana no país, o economista e doutor em desenvolvimento regional, José Alberto Machado, vê nessa retórica um leque de possibilidades para economia local.
Mais de uma vez, durante a conturbada corrida eleitoral, o democrata citou a possibilidade de reunir esforços internacionais para combater a questão do desmatamento em território brasileiro. Biden inclusive falou sobre a possíveis sanções econômicas, caso um plano concreto de desenvolvimento sustentável não seja estabelecido pelo governo de Jair Bolsonaro.
O economista entrevistado pelo A CRÍTICA, porém, não vê o novo presidente norte-americano com um caráter radical de proteção ao meio ambiente, mas sim, de defesa à geração de negócios e uma economia mais moderna e sustentável, alinhada as novas políticas arquitetadas nas grandes agências econômicas, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que abrem as portas para financiamentos de projetos "verdes".
“A equipe do Biden tem a visão econômica do meio ambiente, não de proteção ou de preservação intocável, mas sim, de fazer com que o ambiente seja incluído na equação econômica e possa gerar negócios e isso é o que a Amazônia precisa”, enfatiza Machado.
José observa, ainda, que Biden não tem uma postura intervencionista, pois é reconhecido pelo diálogo e "está pronto para buscar ajuda internacional para apoiar o governo brasileiro". Contudo, uma preocupação do economista é com o forte discurso ideológico do presidente Jair Bolsonaro, pois “é uma posição que não se sustenta muito, embora ela possa causar estrago”.
Para ele, o ativismo do presidente brasileiro deve se limitar à retórica e a saída dos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Fraga, para ele, é dada como certa.
Mourão à frente
A figura do vice-presidente Hamilton Mourão também deve receber destaque neste momento para interlocução com as embaixadas, devido a sua postura mais sensata e proximidade com a causa da Amazônia.
Durante coletiva de imprensa na última quinta-feira (5) em Manaus, Mourão, disse não estar preocupado com a relação entre os EUA e o Brasil, caso a vitória de Biden fosse confirmada.
A afirmação foi proferida antes da conquista de Binden em estados-chaves para definição da eleição norte-americana.
Mourão sinalizou que o Brasil precisa fazer "o trabalho de casa" e mostrar para o mundo que está defendendo o patrimônio verde do país e a população que habita a região amazônica. "Cada um tem que buscar seus interesses. Algo que é básico na diplomacia, é a busca do benefício mútuo e nós sempre estaremos buscando o benefício mútuo e eu sei que o Estado Unidos da América também agirá dessa maneira", enfatizou o vice-presidente.
Biotecnologia poderá ser impulsionada
Para o economista José Machado, a política mundial de incentivo ao desenvolvimento sustentável deve favorecer o Amazonas com um poder de ‘barganha’ maior devido o volume de floresta preservada. Com essa tendência, negócios do ramo da bioeconomia, piscicultura, turismo, agronegócios alinhados a polícia ambiental e produtos nativos da floresta devem ter o acesso a financiamentos facilitado. O Polo Industrial de Manaus (PIM), também pode ganhar força, devido a política norte-americana de incentivo a indústria nos Estados Unidos para substituir produtos importados de países como a China. Entretanto, o Amazonas precisa de gestores com a visão estratégica e sustentável, pois o estado, sai atrás do Pará e Acre na busca por investimentos devido a ausência de um plano de ação a longo prazo na economia alinhada a questão ambiental.
Análise: Gilson Gil, Sociólogo
“Em termos concretos, o alinhamento unilateral com Trump não chegou a produzir resultados palpáveis. Nenhum acordo comercial relevante foi feito. Não houve os investimentos aqui que o presidente esperava. Todavia, a pandemia foi um problema, não podemos esquecer. Os democratas sempre se pautam por temas como diversidade e meio ambiente e a Amazônia é um tema central nesse debate eleitoral. O governo de Bolsonaro não conseguiu apresentar planos reais que articulassem a proteção com a exploração sustentável. Creio que, agora, terá de prestar mais atenção a esse binômio e elaborar planos concretos que articulem, de fato, essas duas dimensões preservação e desenvolvimento. Penso que, assim como em outras áreas, o governo brasileiro terá chance de pensar esse binômio que citei, articulando a proteção com o desenvolvimento em novas bases. Os democratas não vão refrescar nosso país. Vão querer interferir nesse tema, sem ilusões. Penso que o governo precisa se rearticular e começar a ter propostas concretas para a Amazônia e o meio ambiente, mostrando real disposição de integrar tais temas às articulações internacionais, mas sem perder a soberania. Acho que virão muitas cobranças. Até certas imposições, não vejo como um mar de rosas para nós , amazônicos no futuro em curto prazo. O governo brasileiro reluta em definir marcos legais para temas como garimpo, indígenas, agronegócios, queimadas etc”.
Propostas
Entre as propostas ambientais estabelecidas por Joe Biden, está o investimento federal de US$ 1,7 trilhão em pesquisas de tecnologias verdes, a emissão líquidas zero de gases poluentes até 2050, reingresso do EUA no Acordo de Paris e a união de países em prol do meio ambiente.