Trabalhos com artesanato favorecem a inserção de migrantes no Amazonas
Feira promovida no pátio do Sebrae comercializou produtos artesanais elaborados por refugiados e migrantes venezuelano
Mais de 80 venezuelanos, entre refugiados e migrantes, expuseram seus negócios no Encontro Empresarial: Contratação de Refugiados e Migrantes, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que encerrou ontem. O evento iniciou na última quarta-feira e foi realizado em parceria com o Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), a Agência da Organizações das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR) e a ONG Hermanitos.
Diante do cenário de crise política, econômica e social que se instaurou na Venezuela, o Brasil tem recebido, desde 2013, os venezuelanos que adentram a fronteira, em busca de um recomeço e novas oportunidades. De acordo com a Polícia Federal, cerca de 212 mil venezuelanos encontram-se no País, dos quais mais de 21 mil reconhecidos como refugiados. Só em Manaus, o número estimado é entre 16 mil e 20 mil refugiados e migrantes.
O desafio de se manter financeiramente em um novo país leva essas pessoas, que muitas vezes já possuem diploma de curso superior a arriscar um novo negócio. É o caso da profissional de Turismo Ninfa Marin, que encontrou no artesanato uma forma de sustento.
“Quando cheguei aqui tentei procurar trabalho na minha área, mas não tive sorte. Fiz um curso de formação turística, mas não deu certo. Então fiz esse curso que nos ensina a reciclar. A partir da folha de bananeira é possível produzir cadernos, marcadores de página, cadernetas, é um trabalho lindo e motivador”, contou.
Voltar a sonhar
Para outra venezuelana que faz o mesmo trabalho, a exposição inspira a chance de voltar a sonhar, por meio do empreendedorismo artesanal.
“Na Venezuela fui assistente de farmácia, atendente de restaurantes e auxiliar de cozinha. Isso aqui é uma oportunidade muito boa, nos permite voltar a sonhar, pensar em coisas bonitas para o futuro”, disse.
Dentre os produtos em exposição confeccionados pelos venezuelanos chamam a atenção também: cestas feitas de palha de buriti, pratos da culinária local e bjuterias.
Mãe e filha, Leda Navarro e Leda D'Ângelo chegaram ao Brasil em outubro do ano passado. Primeiro passaram por Pacaraima, e depois vieram para Manaus. Elas trabalhavam em um negócio próprio no país de origem, mas com as dificuldades econômicas não conseguiram manter.
“Nós tínhamos uma microempresa formada por mim na Venezuela, mas por todo o problema da economia viemos para o Brasil. A economia não dava mais para nós, porque era muito difícil de sustentar. Fazemos salgados, doces, esfirras, gostaríamos de ampliar o cardápio. Vendemos também arebas, prato típico do nosso país de origem. Temos muito trabalho, mas é só assim que você terá bons frutos”, resumiram.
Legislação exige residência
Para se tornarem microempreendedores, os venezuelanos precisam se adequar à legislação brasileira. De acordo com o Sebrae, é necessário seguir alguns critérios, como utilizar documentação de regularização migratória ou a residência temporária.
A norma determina que eles apresentem comprovante de residência e já esteja morando no Brasil há um ano ou mais. E é exatamente nesse sentido que essas instituições de apoio atuam, ajudando o estrangeiro a adquirir a documentação necessária para se formalizar, oferecendo cursos de língua portuguesa e cursos de aprendizagem, entre outros.
A diretora superintendente do Sebrae-AM, Lamisse Cavalcanti ressaltou que o mais importante é devolver a essas pessoas o direito de serem reinseridas ao mercado de trabalho, valorizando suas aptidões e adequando-as à legislação em vigor.
“Acolher o refugiado e o migrante é entender a solidariedade e prepará-los a empreender, principalmente porque eles têm formação, e só precisam ser orientados a partir da legislação brasileira", explicou a diretora.