O filme amazonense, dirigido pelo cineasta Rafael Ramos, retrata o almoço de dois amigos e foi escolhido entre mais de três mil trabalhos inscritos
(Artistas Frank Kitzinger (à esq.) e Maria do Rio (à dir.) compõem o elenco da obra (Foto: Divulgação))
Finalizado neste período de pandemia, o curta-metragem “Manaus Hot City” estreia com repercussão global. A obra de 15 minutos do cineasta Rafael Ramos é a única representante da Região Norte selecionada para o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo – Curta Kinoforum, que acontece virtualmente de 20 a 30 de agosto.
A 31ª edição do evento contará com a exibição de 170 curtas-metragens, de 39 países diferentes. O filme amazonense centrado no almoço de dois amigos foi escolhido entre mais de três mil trabalhos inscritos. Diretor e roteirista da obra, Ramos já teve, em 2017, outra produção reconhecida pelo Kinoforum (o curta “Aquela Estrada”), mas a seleção deste ano tem um ‘sabor’ ainda mais especial.
“O ‘Aquela Estrada’ foi contemplado no edital municipal, então a gente gravou o filme com dinheiro na época. Se eu não me engano, era um valor de R$ 35 mil ou algo próximo a isso. Já com o ‘Manaus Hot City’, eu arrecadei R$ 1 mil no Catarse [plataforma de financiamento]. O resto foi dinheiro do meu bolso. Esse projeto foi uma parada muito da resistência. Não que o anterior não fosse, mas, quando se tem menos dinheiro, tudo exige um esforço redobrado. Isso, por um lado, é bom, porque estimula a galera a produzir aqui, acreditar que as coisas podem acontecer”, destacou.
Produzido em pouco mais de um ano, a contar do momento em que o roteiro foi iniciado, “Manaus Hot City” foi o primeiro trabalho independente de Ramos, sem a participação da Artrupe Produções Artísticas. Segundo o cineasta, que já dirigiu os curtas "A menina do guarda-chuva" (2014), "Aquela estrada" (2016) e "Formas de voltar para casa" (2017), foi como se esse fosse seu ‘debute’. “Senti muito a sensação de como foi fazer meu primeiro curta. Parece que nada tá muito seguro, sabe!? Quando você já tem certo amadurecimento e experiência na área, esse sentimento de insegurança se torna muito estimulante. E o trabalho com a equipe do filme foi incrível, uma galera super nova no ‘rolê’. Aprendi muito com todo mundo”, pontuou.
Com um enredo que trata sobre o ritual do almoço e a necessidade da conexão real com as coisas, o curta-metragem teve seu primeiro sinal de vida em 2018, quando Ramos ainda morava em São Paulo.
“Uma vez, recebi uns peixes de Manaus, aí chamei um amigo para almoçar em casa. Foi um dia bem agradável e guardei a situação: será que isso não daria um roteiro? As amizades hoje vivem de pequenos encontros, eu acho. Não sei se tenho pensado assim porque ‘tô’ ficando velho, mas as conversas longas e saborosas, o interesse pelos outros e os sentimentos estão ficando escassos. A ideia era que o roteiro fosse muito singelo, pautado nos diálogos, e que abarcasse Manaus e esse sentimento de distância que eu nutria. Na época, minhas grandes referências vinham da poesia: Matilde Campilho, Emily Dickinson, Ana Cristina César, Ferreira Gullar. Escrevi, então, o poema ‘Manaus Hot City’ como gênesis do projeto e, a partir disso, consegui desenvolver todo o roteiro”, detalhou.
Projetos na Pandemia
(Parte do 'making of' do filme se passa em barcos regionais/Foto: Divulgação)
As gravações do curta-metragem foram encerradas em outubro do ano passado e o processo de finalização foi feito este ano. Por conta da pandemia, o cineasta conviveu com duas realidades: o ‘home office’ e a exposição além das paredes do lar, dado o fato de ter feito a cobertura da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
“No caso do ‘Manaus Hot City’, que já estava num processo bem adiantado da finalização, foi tranquilo resolver via internet. Agora filmar na pandemia foi um lance meio filme de terror, com paranoia e desgaste emocional, por acompanhar a dificuldade do estado lidando com a crise da saúde”, ressaltou.
Ramos fala que há previsão de um novo trabalho com as gravações desse período tão desafiador. “Ainda não parei pra assistir as imagens, mas talvez saia um filme sobre esse tema”, adiantou.
Saiba mais
Criado em 1990, o Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo – Curta Kinoforum é um dos maiores e mais tradicionais eventos dedicados ao formato no mundo. Como consequência da pandemia, a 31ª edição do evento acontecerá de forma virtual. Totalmente gratuita, a programação será acessível em todo o Brasil via plataformas digitais. Além das exibições dos filmes, estão previstos encontros, debates e outras atividades paralelas.
Ficha técnica
Direção: Rafael Ramos
Roteiro: Rafael Ramos
Assistente de Direção: André Cunha
Direção de fotografia: Rafael Ramos
Direção de arte: Francisco Ricardo
Figurino e maquiagem: Oberdan Nogueira
Montagem: Maynard Stuart Farrell
Produção executiva: Rafael Ramos
Direção de produção: Karine Pantoja
Produção: Lucas Aflitos, Lucas Carvalho, Wallace Modesto
Som direto e edição de som: Taiara Guedes
Trilha sonora, edição de som e mixagem de som: Lívia Limeira
Finalização e cor: Leonardo Tavares
Legenda: Manuela Tavares
Elenco: Maria do Rio; Frank Kitzinger; Vanessa Moraes; Denis Lopes
Empresa produtora: Balsa Amarela Filmes