Mesmo distantes da família, crianças ganham com tempo integral
Um método de ensino que é muito praticado em países do primeiro mundo é oferecido por algumas escolas em Manaus

A rotina dos pais do pequeno Lucas Gabriel mudou e pra melhor. Este ano, o garoto de sete anos começa sua jornada educacional numa escola de tempo integral pela primeira vez. São dez horas diárias no colégio. Para o estudante, desafio e semanas de adaptação. Para os pais, alívio e despreocupação.
“Passo o dia no trabalho mais tranquila pois sei onde ele está. Sei que na escola ele será bem alimentado e estará seguro”, diz Nazaré Almeida, supervisora de alimentos.
O funcionário público Fabrício Ferreira compartilha da mesma opinião. Ele que já teve a filha Ester na escola de tempo integral, agora matriculou o filho Victor Hugo.
“Não tem aquela preocupação de saber com quem ou como vai ficar. Acho excelente o tempo que ele passa lá e ficou bem mais esperto”, comenta Ferreira.
Lucas Gabriel e Victor Hugo estudam na Escola Estadual Helena Araújo, melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Amazonas em 2011 com nota 7.
Mas o que fazer em tantas horas direto na escola? Jucinorma Lima, diretora da instituição pública afirma que o tempo é bem aproveitado. “Trabalhamos com alunos do 1º ao 5º ano de 6 a 10 anos. Ao chegar às 7h eles tomam café da manhã e assistem aula normal. Depois almoçam e descansam. À tarde é a vez das aulas de reforço, inglês, arte, xadrez e esporte”, conta a diretora.
Escolha dos pais
A escola particular Martha Falcão oferece aula em tempo integral como opcional aos pais de alunos, conforme explica Lúcia Barbosa, coordenadora do horário integral bilíngue do colégio
“Do 2º período da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental os pais é que escolhem se querem os seus filhos em tempo integral ou não. A mensalidade é menos que o dobro, mesmo o aluno passando o dia todo na escola”, comenta Lúcia Barbosa.
Ainda segundo a pedagoga, o “objetivo da escola em tempo integral é desenvolver uma rotina organizada de estudo, pesquisa, disciplina, bons relacionamentos, além de aprender uma segunda língua”, diz.
Além das atividades diferenciadas à tarde, o aluno de tempo integral no Martha Falcão tem aula de reforço e faz o dever de casa que foi passado pela manhã.
Na opinião da coordenadora, a única desvantagem é que as crianças passam mais tempo longe da família.
Primeiro mundo
A educação em tempo integral é típica dos países de primeiro mundo, segundo Edson Mello, diretor de políticas de programas educacionais da Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
“É uma tendência mundial colocar o aluno com mais tempo de estudo. Isso influencia bastante os índices educacionais e deixa o estudante mais preparado, semelhante ao de países de primeiro mundo”, comenta Mello.
A origem do conceito
Por mais que pareça um assunto contemporâneo, a concepção de escola integral ou educação integral remonta à antiguidade clássica, mais precisamente ao conceito de educação da Grécia Antiga, que buscava uma formação do homem como um todo: estético, moral, ético, metafísico, físico.
De acordo com a pesquisadora Lígia Martha Coimbra da Costa Coelho, em seu artigo “História(s) da Educação Integral”, publicado no periódico Em Aberto nº 80, “esse modo (dos gregos) de ver e perceber a formação do homem corresponde à natureza do que denominamos de educação integral: uma perspectiva que não hierarquiza experiências, saberes, conhecimentos”.
Ainda em seu artigo, a pesquisadora aponta que a educação integral só voltou a ser discutida de maneira mais organizada a partir do século 18, à luz dos ideais da Revolução Francesa, e recebeu contribuições teóricas e práticas ao longo dos dois séculos seguintes, com pensadores como o anarquista Mikhail Bakunin, ou, no Brasil, Anísio Teixeira, passando pela ideia de formação defendida pelos integralistas na década de 1930: “espiritualidade, o nacionalismo cívico e a disciplina”.