Projeto, ainda sem previsão de lançamento, teve imagens gravadas recentemente no município de Novo Airão, no Parque Nacional de Anavilhanas
(Segundo Jandr, projeto busca incentivar a preservação do local (Foto: Pedro Marinho/Divulgação))
Assim como o símbolo das mãos humanas que poluem os rios, as entranhas dos rios pedem socorro pelo lixo que habita suas profundezas. É esse o impacto emocional que a videoinstalação “Mãos que matam”, do artista plástico Jandr Reis, causa a quem a observa. Retratado com luvas descartáveis amarelas preenchidas com isopor e que parecem “emergir” das águas, o projeto teve imagens gravadas recentemente no município de Novo Airão, no Parque Nacional de Anavilhanas. O registro virará um filme - ainda sem previsão de lançamento - a ser divulgado nas redes sociais do artista plástico.
A primeira etapa de gravações do projeto aconteceu no dia 23 de maio, na Avenida Eduardo Ribeiro, próximo ao Relógio Municipal de Manaus, e faz um clamor acerca da poluição gerada pelo descarte de lixo nas ruas e águas. “Muitas vezes, o simples fato de jogar um copo, uma lata ou uma garrafa pet na rua é prejudicial ao meio ambiente. Esse dejeto, se não descartado em local apropriado, pode chegar ao rio através das fortes chuvas amazônicas. Muitos dos dejetos e descartes irregulares vão direto para o fundo dos rios, prejudicando não só a água, mas também a vida marinha. Muito do lixo não é visível a olho nu, a vida marinha também é prejudicada e a natureza agoniza” complementa Reis.
O artista escolheu levar as gravações da videoinstalação para Novo Airão com o intuito de sensibilizar acerca da preservação do local. “O arquipélago de Anavilhanas é próximo da capital e ainda está preservado. Não podemos deixar a sujeira chegar naquele ambiente. Essa instalação serve como alerta para que as pessoas pensem sobre a poluição que pode chegar lá”, declara.
Logística
Para registrar as imagens no Parque, a equipe fez a locação de uma lancha do estilo “voadeira” para navegar nos igapós formados no labirinto natural do local. “O lugar é muito exuberante, incrível e de uma energia incrível. Procurei um local onde tivessem esculturas naturais para que a instalação conversasse com a natureza. O grande desafio foi mergulhar no local, por receios de animais silvestres. Foi uma aventura”, comenta Jandr. Nas duas etapas de gravação, as luvas tiveram descarte correto, e foram entregues para a reciclagem.
A videoinstalação, agora na etapa de edição, tem seu lançamento planejado para acontecer em algum evento ligado ao meio ambiente como congresso, ou alguma reunião importante sobre o tema, de acordo com Reis. “A mensagem que essa arte traz é a preservação da biodiversidade e alerta que o lixo pode deixar nossos rios poluídos. Esta seria uma boa ocasião para o lançamento”, finaliza o artista.
Encontro do texto e da imagem
A crônica “Mãos que matam”, da autoria do ambientalista Fernando, também acompanhará o conteúdo da videoinstalação. O texto será declamado pela cantora Márcia Siqueira. “A crônica faz um relato de ações destrutivas, instrumentais e capitalistas que matam a natureza, impregnadas na ideia da natureza como objeto apropriável privadamente”, pondera Jandr.
Ainda segundo ele, o poema faz o alerta de que não são todos os “homens” com seus pensamentos e suas práticas que matam a natureza, como se diz hoje com o conceito de “antropoceno”. “Existem ‘homens’ e ‘mulheres’ ancestrais (como os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, tradicionais) com pensamentos e práticas em harmonia entre os seres e elementos (ar, água, terra, mata, fogo) que não matam a natureza”, completa Reis.