Aos 70 anos, Edgar Monteiro de Paula conta história de pioneirismo e amor ao esporte
Edgar foi um grande atleta de vôlei, trouxe o handebol para o Amazonas, foi o famoso ‘Demolidor’, do Tele-ringue e, junto com seus irmãos, realizou muito mais no esporte
Edgar Monteiro de Paula Filho, que completou 70 anos nesta semana, pode ser definido como um dos grandes pioneiros do esporte no Amazonas. Ele e sua família fizeram parte da história de várias modalidades esportivas no Estado, e Edgar é lembrado até hoje como o grande atleta que foi e, principalmente, por ter dado vida ao personagem Demolidor, querido no Tele ringue – antigo programa de luta livre amazonense.
A história da família Monteiro de Paula é de pura ação. Edgar conta que seus pais sempre incentivaram ele e seus irmãos a praticarem esporte e, aos 11 anos, ele iniciou no voleibol do Olímpico Clube, de Manaus. “Comecei no voleibol, na quadra do Olímpico, que era descoberta, e logo depois fui para o basquete, porque já tinha boa impulsão. Fui crescendo dessa forma, até que aos 15 anos comecei a jogar no time titular de vôlei do clube, enquanto também colaborava com o basquete”, conta Edgar.
Depois, aos 17, o jovem atleta deixou o seu amado clube do Olímpico, dando um novo impulso, desta vez, para o conceituado Clube Pinheiros, de São Paulo. “Eles me viram jogar no Campeonato brasileiro e, graças a isso, passei um ano no Pinheiros”, conta ele, que depois retornou a Manaus, onde cursou a faculdade de engenharia.
A história de Edgar no vôlei foi marcante e, na última quarta-feira, ele ainda teve uma grata surpresa, que ficou sabendo através da personalidade amazonense, Roberto Gesta. É que em 1972, a CBDU indicou os 12 melhores atletas de voleibol do Brasil, e o seu nome e o de dois irmãos seus, Eduardo (Dudu) e Evandro, estão na relação. “Para nós, termos sido considerados os melhores daquele ano é uma surpresa muito interessante e uma honra”, afirmou ele.
Quando retornou de São Paulo para Manaus, em 1966, Edgar trouxe na bagagem um novo esporte para os amazonenses: o handebol. “No Pinheiros, havia uma quadra desconhecida pra mim, a do handebol. Eu ia assistir, brincava e, quando vim de volta pra cá, houve a oportunidade de lançar este esporte e estimulamos a prática, primeiro entre meus irmãos e, depois, todos se animaram”, relembra ele.
Edgar (quarto jogador da esquerda para a direita, de pé) trouxe o handebol para o Amazonas. Foto: Antônio Lima.
O primeiro jogo oficial no Amazonas aconteceu na Semana Rionegrina de 1971. Depois, o time do Amazonas, formado por jogadores de vôlei e basquete, foi disputar os Jogos universitários e o Campeonato Brasileiro de handebol. “Todos ainda jogavam as outras modalidades, numa noite, volei, na outra, basquete, na outra, handebol (risos)”, relembra Edgar. “Depois, o professor João Oliveira deu orientações mais técnicas sobre a modalidade para aos atletas. O Amazonas evoluiu, o feminino cresceu bastante”, afirma ele.
Durante sua vida universitária, Edgar e seus irmãos representavam a indústria da família, a Modiesel, nos Jogos Universitários. “Não havia muitas opções do que fazer na cidade, então, os Jogos universitários, os campeonatos amazonenses e Jogos estudantis eram as grandes atrações que atraiam a comunidade”, afirma.
Mas Edgar não participava apenas de jogos coletivos, e, sim, “se metia em tudo”, como disse ele: No atletismo também, sempre corri, fiz salto em altura, salto em distância, lançamento de peso, disco, dardo. Não posso dizer que eu era o atleta, mas que eu era eclético, disputava todos os esportes, menos os aquáticos”.
Após a universidade, Edgar chegou a ir morar nos Estados Unidos, onde jogou vôlei na YMCA, em Ilinois. “Eu tinha que pensar na minha profissão, se eu iria seguir a carreira de atleta, porque o esporte era um hobbie”, disse ele.
Parece muito, mas nem o vôlei, basquete, handebol e atletismo foram suficientes para os irmãos Monteiro de Paula, que também conheceram bem a arte marcial do karatê. “Treinamos karatê com um sensei argentino, numa época em que o esporte era feito para o combate, para a briga, sem regras tão bem definidas, e crescemos, conquistando o 1º Dan (faixa preta)”, conta Edgar, que também vivenciou o início dos campeonatos de karatê em Manaus. “Sempre tivemos uma conexão grande com o esporte”, ressalta ele.
Edgar retornou ao seu primeiro clube, o Olímpico, para a reportagem do CRAQUE, e ficou muito feliz em rever o local e alguns de seus troféus.
A história do demolidor
Faixa preta no karatê e com noções de jiu-jítsu, Edgar foi convidado pelo jornalista Arnaldo Santos para participar de seu novo projeto: o Tele-ringue, um programa de TV que transmitiria a luta livre, no Amazonas. Eram lutas previamente ensaiadas entre personagens criados para fazer parte do grupo dos bonzinhos e dos malvados. Edgar sempre lutava fantasiado de Demolidor, e ninguém, além de seus irmãos, sabia a identidade do lutador, que se tornou um dos mais admirados do programa. Mostrando a roupa que usava, Edgar explica a dificuldade de usá-la. “Era uma roupa toda coberta, muito interessante por guardar o mistério sobre quem a usava, mas limitava a respiração quando a luta estava muito intensa (risos)”, conta ele.
Mostrando o cinturão conquistado após sua vitória contra o Aquiles Matador, de Arnaldo Santos, Edgar explica como a luta foi importante. “Talvez tenha sido a grande decepção do Arnaldo porque ele dizia que ganhava do Demolidor e, por isso, ofereceu o próprio cinto”.
Edgar afirma que participou do tele-ringue por diversão, pelo esporte, e se surpreende ainda hoje com a repercussão que proporcionou. “Percebemos que marcou, e nunca passou pela minha cabeça que isso aconteceria, que o Demolidor chamaria tanta atenção. Mas as pessoas ficavam muito atentas, ainda que não fôssemos profissionais e, sim, praticamente amadores. Outra coisa é que o Demolidor era honesto, não trapaceava, e os jovens se identificavam com isso”, disse.
Assim, após infância, adolescência e vida adulta no esporte, Edgar afirma que nunca parou. “Sigo correndo com frequência, sempre em atividade”, resume.