Pesquisa analisa comportamento do pássaro dançador-estrela com o meio ambiente
Na pesquisa foi observado que o Dançador-Estrela tem forte ocupação de território e que seleciona espaços, sensorialmente, de acordo com resposta que possam receber das fêmeas. Em um ambiente que os tornem mais visíveis.

Destacados por suas danças elaboradas, os pássaros da família Pipridae, especificamente o Dançador-estrela (Lepidothrix serena), comuns na região de Manaus (AM), foram o objeto de estudo de Wanner Medeiros, sob a orientação de Marina Anciães, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPG Eco) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), que pretendeu estudar o comportamento da espécie com o ambiente sob o tema “Efeito do contraste da plumagem com ambiente de fundo: caso do Dançador-estrela na Amazônia Central”.
Medindo de sete a oito centímetros, o macho da espécie pode ser reconhecido pela sua cor preta com entradas branca, azul, amarela e laranja. São eles que fazem a dança e cantam para chamar a atenção das fêmeas - que podem ser reconhecidas por serem verdes com o ventre amarelado - para a reprodução.
Frutívoros, também se caracterizam pela sua forte ocupação de territórios, chamados de “leks”. São frequentes na região de Manaus até o escudo das Guianas e limitados a sul pelo rio Amazonas, a oeste pelos rios Negro e Branco e a leste pelo oceano.
A pesquisa
Visto que os machos piprídeos são muito fiéis aos leks e várias hipóteses já foram levantadas sobre o motivo dessa relação, o estudo focou na hipótese do favorecimento sensorial da qual prevê que os machos selecionam locais em resposta à comunicação eficiente, ou seja, locais onde são mais visíveis, onde há contraste de cores, e possam se apresentar para as fêmeas.
Na pesquisa foi observado que o Dançador-estrela tem forte ocupação de território e que selecionam estes espaços de acordo com resposta que possam receber das fêmeas. Em um ambiente que os tornem mais visíveis
“Há indícios de que a hipótese de favorecimento sensorial pode ser válida para o Dançador-estrela, por isso decidimos testar algumas premissas aqui na Amazônia Central, aplicando novas técnicas de estimativas de cores desenvolvidas nos últimos seis anos (com aplicações de fórmulas de Vorobiev e Osorio (1998) num ambiente digital desenvolvido por Stoddard e Prum (2008))”, explica.
A base da hipótese é de que o contraste entre machos e o ambiente varia entre locais e momentos, e que os machos selecionam seu ambiente de corte e seus momentos de apresentação em resposta ao contraste.
Técnicas de pesquisa
Medeiros se limitou a estudar 20 territórios da espécie, na Reserva Florestal Adolpho Ducke e nas áreas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF). Para o desenvolvimento do estudo, foi necessário o uso do espectrofotômetro (equipamento que mede cores) para medição da cor dos indivíduos, a cor das folhas no folhiço (cobertura de folhas secas sobre o chão) e na folhagem (conjunto de galhos ou folhas de árvores) dos locais em que se encontravam as espécies e a cor da luz ambiente, tanto em locais com a presença das aves quanto a locais sem sua presença.
Também foram coletadas luz e folhas nos leks e fora deles, além de outros dados - como taxa de atividades e números de indivíduos que visitaram as áreas. “Com os espectros estimei dois índices de contraste distintos, o primeiro entre plumagem e luz e o segundo entre plumagem e folhas. Depois, gerei modelos baseados em verossimilhança e obtive as variáveis que mais explicam a variação para cada uma das minhas perguntas”, explana.
“Como resultados notamos que os indivíduos não selecionam locais em resposta ao contraste de luz”, afirma o estudante.
Resultados divergentes
“Quanto ao contraste entre plumagem e folhas, notamos que o solo é um ambiente que reduz o contraste do macho com o ambiente e também que os leks que tiveram maior contraste foram aqueles com menor taxa de atividades, indo completamente em oposição a hipótese do favorecimento sensorial. As características da plumagem foram cinco vezes mais importantes para o contraste que as características ambientais”, informa.
Dessa forma, Medeiros afirma ainda que não há forças indicativas de favorecimento sensorial para esta espécie com exceção no que tange a seleção de estação produtiva. "Meu estudo mostra ainda que o ambiente é menos importante que a própria plumagem para os valores do contraste, indicando que o comportamento e a plumagem da espécie evoluíram por outras pressões, mas não por favorecimento sensorial. Acredito que este padrão, de maior importância da cor dos próprios organismos no contraste, deve ser o mesmo para as demais aves", conclui.