Capela do prédio histórico passa a ser ocupada de forma proveitosa, com vistas à revitalização. O local é o mais antigo templo religioso secundário da cidade
(Primeira missa em anos foi realizada no domingo passado (Foto: Gisele Gomes/Pascom))
Reavivar e resgatar a capela da Santa Casa de Misericórdia, localizada na rua 10 de Julho, no Centro de Manaus, é a missão dos fiéis católicos e da sociedade civil organizada. O espaço, que fica dentro o prédio centenário do antigo hospital, até então fechado e esquecido, dá seus primeiros passos à reocupação.
Desde o dia 23 de setembro, a paróquia São Sebastião realiza a Santa Missa, que acontece todos os domingos, a partir das 10h, na capela do prédio histórico. A missa é presidida pelo frei Paulo Xavier, pároco da Igreja de São Sebastião. Ele diz que reocupar também significa levantar o debate sobre o lugar, bastante deteriorado.
“Não podemos ficar indiferente diante do descaso desse espaço que poderia muito bem servir para tantas situações como, por exemplo, acolher os moradores de rua. Seria interessante que o poder público olhasse com carinho para esse lugar e transformá-lo em uma casa de acolhida”, disse.
A capela da Santa Casa de Misericórdia é o mais antigo templo religioso secundário (interno de outras instituições) da cidade. Seu espaço inicialmente foi ocupado por um necrotério, inaugurado em 1º de março de 1903. O prédio sofreu adaptações estruturais e passou a funcionar como templo religioso a partir de dezembro de 1922.
“O objetivo é reocupar esse espaço a partir da capela, mas por que a capela? Por que os frades capuchinhos de São Sebastião sempre estiveram aqui. Todos os domingos havia missas, visita aos doentes, então estar aqui de novo é uma forma de a gente olhar esse lugar como espaço da misericórdia. É um apelo que a Santa Casa está fazendo para nós que estivemos sempre ligados a este espaço. Não podemos fugir disso”, diz o frei.
Na primeira missa, da semana passada, houve a celebração ao Santo Misericordioso, São Padre Pio de Pietrelcina. As missas vão continuar sendo realizadas aos domingo, às 10h. Conforme o pároco, todas as medidas necessárias para adentrar a capela foram solicitadas e autorizadas pela Justiça.
“É necessário ocupar com qualidade e com determinação. Nós fomos à Justiça Federal pedir permissão para a gente poder assumir esse local da capela e foi dado deferimento, então eu acho que não podemos voltar atrás, agora é levarmos adiante até essa obra começar. Esse lugar é a história da gente”, acrescenta.
A Arquidiocese de Manaus também está ciente. “Já conversamos com o Conselho Presbiteral da Arquidiocese de Manaus e dissemos com que finalidade nós entraremos aqui e de que maneira nós estamos entrando para ser um espaço religioso e torná-lo bonito da misericórdia de Deus para a sociedade e para todos os irmãos e irmãs que precisam”, finalizou frei Paulo Xavier.
Uso digno reabilitará espaço
O historiador Otoni Mesquita participou da primeira missa em resgate a capela. Como conhecedor dos espaços antigos de Manaus, ele diz que é preciso a população frequentar mais os lugares históricos da cidade.
“Eu não diria que é mesma coisa restaurar, mas, à medida que se tenha um uso digno, o espaço é reabilitado. Se você restaurar um imóvel e não ocupar, ele se degrada naturalmente”, observa.
“Eu acredito que, a partir dessa ocupação, a tendência é de que as pessoas passam a fazer exigências, porque a situação desses imóveis históricos da cidade, eles degradam não é por outra coisa, mas por falta da desconexão que há com a sociedade. A grande parte das pessoas quer lá tudo bonitinho e tudo arrumado na vitrine, mas não vão visitar, eles vão para o shopping”, afirma o historiador.
Restauração determinada
Em decisão publicada no último dia 25, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou os embargos de declaração da Prefeitura de Manaus e manteve a ordem para restauração do prédio da Santa Casa de Misericórdia. Os embargos foram negados de forma unânime pela 2ª Turma. Conforme o advogado Ivo Paes Barreto, que faz a defesa da Santa Casa, agora, a Prefeitura de Manaus precisará cumprir, de fato, a medida determinada pela Justiça.
A decisão a qual a prefeitura tentava recorrer foi originada em 2016 no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM). Na decisão, constava que o Município deveria colocar tapumes em torno do prédio e dispor de uma equipe de guarda em volta do edifício para evitar a continuação do vandalismo que deixou em ruínas a estrutura do antigo hospital.
Cuidar para que não haja destruição
A reocupação patrimônio também envolve a contribuição da sociedade civil por meio das associações que ajudam na limpeza e melhorias na capela. Antes da primeira missa, foi retirado o entulho e lixo que havia no local. Foram sensibilizados artistas, historiadores, religiosos, ex-funcionários da Santa Casa, dentre outros, tudo para reavivar a capela do prédio histórico. A Associação de Cultura do Amazonas (ACEAM) criou o projeto chamado SOS Santa Casa em 2016, como forma de cuidar do lugar e também chamar a atenção de toda a sociedade e poder público.
“Se a gente não ocupar os espaços, eles estarão sujeitos à depredação e a sujeira. O objetivo é estar presente nesse espaço, fazer com que a capela fique aberta ao público, e que possamos fazer mais eventos voltados para a cultura”, diz a presidente da ACEAM, Rosa dos Anjos