Atualmente Manaus possui mais de 80 grupos de capoeira, tendo também mais de 80 mestres da arte. Mesmo com reconhecimento, líderes do movimento pedem maior apoio do poder público
(Foto: Arlesson Sicsú)
Uma das manifestações mais fortes da cultura popular é lembrada nesta quarta-feira, dia 3 de agosto, quando se comemora o Dia do Capoeirista. Considerada como patrimônio cultural imaterial da humanidade, a capoeira mistura esporte, luta, dança, música e brincadeira, e no Amazonas conseguiu vários adeptos, disseminando sua pratica e filosofia. O movimento surgiu no Estado no fim da decáda de 1960, sendo introduzido oficialmente na década seguinte, e atualmente conta com meio século de história dentro do Amazonas – principalmente em Manaus.
Originada no século 17, a atividade surgiu dentro dos primeiros movimentos de fuga dos negros escravizados. A palavra vem do tupi-guarani cáa-puêra, que significa “mato que já foi”.
De acordo com Luiz Carlos de Matos Bonates e Tharcísio Santiago Cruz, autores do livro “A Capoeira em Manaus – Amazonas”, o primeiro contato que estas terras tiveram com a arte foi em 1969, quando o famoso capoeirista baiano e lutador de vale-tudo, Waldemar Santana – também conhecido como Leopardo Negro, ou até mesmo Pantera Negra –, esteve no Estado para realizar apresentações de capoeira no Teatro Amazonas. Em 1972, Waldemar Santana retorna a Manaus, onde passa uma temporada de três meses.
Ainda segundo o estudo, ainda em 1972 o Mestre Gato de Silvestre vem para Manaus e introduz de forma definitiva o movimento no Estado. Cinquenta anos depois, o Amazonas possui, de acordo com a Federação Amazonense de Capoeira (FAC), atualmente Manaus possui mais de 80 grupos de capoeira, tendo também mais de 80 mestres da arte.
Entre eles está o mestre José Neto, um cearense que vive no Amazonas desde a década de 1980 e atualmente ocupa o cargo de presidente da FAC. Estando há quarenta anos dentro deste esporte/movimento, ele afirma que a vida dentro do movimento avançou para os praticantes, mas ainda há muito a se avançar, principalmente na questão de direitos.
“Os capoeiristas hoje têm dificuldade, porque nós não temos apoio governamental para trabalhar e isso não é de hoje. A Capoeira hoje é patrimônio histórico, mas não mudou muita coisa, e a pandemia foi a gota d’água na vida dos mestres de capoeira, porque durante esse período nós cansamos de ter que fazer vaquinha para enterrar alguns de nossos grandes mestres. Se a gente for puxar na memória, avançamos muito, até porque anos atrás éramos um movimento marginalizado, mas ainda sim tem que se melhorar muita coisa”, afirma Mestre José Neto.
(Foto: Arlesson Sicsú)
Atualmente ele comanda um projeto social no conjunto Petros, bairro Coroado, zona Leste de Manaus. Os encontros acontecem sempre na parte da noite, o que segundo ele é por conta da falta de apoio governamental, já que os mestres não conseguem/podem viver apenas da capoeira.
“Por tudo que a capoeira se tornou, ela devia conseguir adentrar nas escolas públicas para ministrar a capoeira, já que as leis municipais e estaduais não permitem isso, o que é muito complicado, mesmo com o oficio de mestre de capoeira sendo reconhecido como patrimônio histórico da humanidade", afirma.
Em 2008, a roda de capoeira foi considerada como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). E em 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) deu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Atualmente, a Capoeira está em mais de 160 países e é considerado um dos maiores difusores da língua portuguesa pelo mundo.
Em setembro, a Federação Amazonense de Capoeira irá realizar um curso para árbitros do esporte e também irá fazer o reconhecimento de novos mestres.