Jogos Paralímpicos

Elielton Oliveira estreia nos tatames dos Jogos de Paris nesta quinta-feira (5)

Amazonense disputa a competição pela primeira vez e irá lutar na categoria até 60kg, na classe J1 (cegos totais)

Camila Leonel
craque@acritica.com
04/09/2024 às 20:42.
Atualizado em 04/09/2024 às 20:42

Elielton Oliveira vai competir na categoria até 60kg na classe J1 (Foto: Renan Cacioli / CBDV)

O judoca amazonense Elielton Oliveira entra em ação para disputar, pela primeira vez, os Jogos Paralímpicos a partir das 4h (horário de Manaus) desta quinta-feira (5). Ele compete na categoria até 60kg na classe J1 (cegos totais). Atual segundo colocado do ranking mundial, o brasileiro começa a competir a partir das quartas de final, pegando o vencedor da luta entre Abdelkader Bouamer, da Argélia, e Vitoon Kongsuk, da Tailândia.

Caso vença na estreia, Elielton enfrentará o vencedor da luta entre Miguel Vieira, de Portugal, e Juanedi, da Indonésia. O número 1 da categoria de Elielton é o indiano Kapil Parmar, um dos atletas que Elielton cita como principal adversário na categoria. Além dele está o iraniano Seyed Meysam Abadi. 

“É o indiano [Kapil Parmar], que está no topo do ranking mundial – eu sou o segundo – e o iraniano [Seyed Meysam Abadi]. São sempre eles que brigam em cima. A gente tem estudado muito o que eles fazem de mais forte para tentar chegar lá e surpreender. Pela manhã, treinamos a parte técnica e o professor aplica o que esses adversários fazem de mais forte. E, é claro, além dos dois, os demais adversários são bem duros”, explicou o atleta em entrevista ao A Crítica.

Sobre os principais adversários, por exemplo, eles decidiram a categoria J1 até -60k nos Jogos Asiáticos, que aconteceu em Hangzhou, na China, e o iraniano levou a melhor. O indonésio Junaedi, que está do lado da chave de Elielton, foi bronze.

Mas se pela frente, Elielton terá adversários cascudos, o brasileiro também batalhou muito para chegar longe em Paris. Na seleção brasileira desde 2022, o amazonense foi Prata na categoria até 60kg nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; prata no Pan-Americano de Judô do Canadá 2022. Além disso, ele conquistou medalha de ouro no Grand Prix de Almada, em Portugal, em 2023, e prata no Grand Prix de judô paralímpico de Antalya (Turquia), em 2024. 

“Foi de extrema importância participarmos de várias competições antes de ir para Paris porque não será a primeira ou segunda vez que encontrarei esses adversários. Tenho lutado duas, três vezes ou até mais, então, eu sei quais são os pontos fortes e fracos deles para poder agora, nessa reta final, ajustar os detalhes”, disse o lutador que viajou para a França no dia 22 de agosto.

‘Sensação de dever cumprido’

Aos 28 anos, Elielton disputará os Jogos Paralímpicos pela primeira vez na carreira, que começou em 2014 ainda em Manaus. Após morar por sete anos na Vila Olímpica, ele decidiu mudar de cidade em busca de mais chances do esporte e por conta da logística das viagens para competir. Hoje ele vive em São Paulo, onde se dedicou para realizar o sonho que começa na madrugada desta quinta-feira.

“É uma sensação de dever cumprido. Chegar na Paralimpíada não é fácil. Passamos os últimos três anos brigando por uma vaga com adversários duríssimos, então, a expectativa é das melhores. Quero chegar lá na minha melhor versão em busca do ouro. Estamos treinando sempre pensando no primeiro lugar”, declarou o judoca que mudou de vida por conta do esporte e vê na modalidade a alegria, o sustento e uma família.
“O judô, para mim, é minha felicidade, o que eu gosto de fazer. Eu tenho prazer, tanto que já tive até uns probleminhas por excesso de treinamento. Na minha mente, isso já está consolidado: um dos meus prazeres é estar ali, no tatame, treinando com os amigos. O esporte é minha segunda família. Poder compartilhar o conhecimento com quem está ao nosso redor, incentivar quem pensa um dia em ser um melhor lutador”, contou.

Nascido em Manaus, o atleta cresceu no bairro Tancredo Neves, zona Leste da capital amazonense. Aos 12 anos, ele perdeu a visão após levar um tiro na cabeça, que o fez perder o globo ocular. Foi no esporte que ele encontrou uma ocupação, e uma chance para abandonar o vício em álcool e entorpecentes. E além do esporte, a amizade com o também judoca Marlison Duarte, que começou ainda na capital amazonense, e dura até hoje, em São Paulo, o ajudaram a chegar em Paris.

“O Marlison Duarte tem sido como um irmão para mim. Para onde eu vou, ele vai, até hoje. Ele me conheceu logo que perdi a visão, ainda tinha muito vício com entorpecente, então, tinha poucas pessoas que se aproximavam de mim. E ele nunca se afastou, ficava sempre perto apesar dos meus vícios. Ele sempre me chamava para treinar, chegamos a morar juntos. Até quando não tinha treino à noite, de madrugada, a gente marcava para treinar dentro da Vila Olímpica. Ele é um irmãozão para mim. Se, hoje, eu estou em Paris, ele fez grande parte disso. Um cara que me ajudou a terminar os estudos e me ajudou nesse percurso tanto no esporte quanto no caráter, de ser uma boa pessoa e me relacionar com as pessoas certas”.

Em busca do feito histórico

 Na Arena Campo de Marte, o judô paralímpico vive a expectativa de conquistar o melhor desempenho da história em uma edição. Até hoje, o recorde aconteceu em Pequim 2008, quando o Brasil ganhou um ouro, com Antônio Tenório – o último de um atleta da categoria masculina para o país –, duas pratas, com Karla Cardoso e Deanne Almeida, e dois bronzes, com Michelle Ferreira e Daniele Silva. Na última participação, em Tóquio, foram três medalhas: ouro, com Alana Maldonado – a primeira de uma judoca na história –, e dois bronzes, com Lúcia Araújo e Meg Emmerich.

Para quebrar a marca de Pequim, o Brasil contará com a maior quantidade de judocas em todas as edições: 15. O país estará representado em 14 das 16 categorias presentes no programa da modalidade. Em Tóquio, foram nove atletas.

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