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Ambientalistas veem com desconfiança promessa de Musk para Amazônia

Segundo ambientalistas ouvidos por A CRÍTICA, o problema do desmatamento e das queimadas na Amazônia Brasileira não é a falta de monitoramento, mas sim, a inação do governo federal

Jefferson Ramos
online@acritica.com
21/05/2022 às 17:40.
Atualizado em 21/05/2022 às 17:49

A intenção do bilionário Elon Musk, dono da SpaceX e da fabricante de carros elétricos Tesla, de lançar um programa de "monitoramento ambiental" de queimadas e desmatamento da Amazônia, que deverá ser implementado pela SpaceX é vista com certo ceticismo por ambientalistas do Amazonas. 

Segundo especialistas da área de Meio Ambiente ouvidos por A CRÍTICA, o problema do desmatamento e das queimadas na Amazônia Brasileira não é a falta de monitoramento, mas sim, a inação do governo federal que não investiga os alertas emitidos por plataformas públicas de monitoramento. 

A socioambientalista e ex-secretária de Coordenação de Políticas para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, Muriel Saragoussi, afirma que não há a necessidade de o Brasil investir em uma plataforma privada de monitoramento. Segundo ela, o presidente Bolsonaro deveria investir mais recursos na estrutura governamental que monitora a Amazônia. 

“O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que é um instituto brasileiro, federal, do nosso governo, já trabalha desde 1989 fazendo monitoramento do desmatamento de corte raso e seletivo. Esses dados são dados públicos, confiáveis e um presidente realmente brasileiro deveria pedir e garantir recursos para o Inpe continuar a fazer esse trabalho. É um trabalho reconhecido internacionalmente.”, analisa Muriel. 

A socioambientalista afirma ainda que desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) o Inpe sofre com cortes de recursos. “Temos satélites brasileiros que estão no espaço fazendo monitoramento, não tem por quê pedir para um Elon Musk, tem que colocar  dinheiro na tecnologia nacional”, complementa Saragoussi.

O geógrafo e diretor da organização não-governamental Internacional Wildlife Conservation Society (WCS-Brasil) no Amazonas, Carlos Durigan, disse que a intenção do bilionário e do governo brasileiro ainda não está muito clara e explicou que a iniciativa privada, através de instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil organizada já realizam o monitoramento do desmatamento, mas também da biodiversidade, e de outros aspectos naturais, como a qualidade da água. 

“Certamente, o nosso principal problema não é a falta de monitoramento. O problema hoje é mais nas frentes de ação, de comando e controle, combater delitos ambientais, que incluem ações de desmatamento e de queimada, mas também temos problemas com o garimpo ilegal, exploração ilegal de recursos”, aponta Carlos. 

Na manhã desta sexta-feira (20), em visita ao Brasil, Musk foi questionado por alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) sobre como as operações da Starlink na Amazônia ajudariam no monitoramento e proteção da floresta. 

O bilionário fez referência ao apoio de conectividade e transmissão de dados que seus sistemas poderiam oferecer para quem está em solo atuando, estratégia diferente da usada por sistemas que flagram do espaço o desmate com sistemas óticos e geram alertas para órgãos fiscalizadores.

O Brasil já tem dados suficientes para direcionar sua fiscalização contra o desmate e a oferta de "conectividade" feita por Musk não tem impacto direto no rastreamento da devastação, segundo os analistas.

Atualmente, o desmatamento é monitorado por ao menos três sistemas com dinâmicas que se completam.

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