Alerta!

Casos de derrame e infarto disparam com o 'estresse eleitoral'

Estudo norte-americano aponta aponta que houve aumento de internações nos cinco dias após as eleições dos EUA em 2020. Especialistas brasileiros afirmam que algo semelhante pode, sim, acontecer no Brasil, em outubro

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
21/05/2022 às 10:16.
Atualizado em 21/05/2022 às 10:16

Novo estudo realizado no sul e no norte da Califórnia (EUA) aponta que houve um aumento de 17% em internações por ataque cardíaco, derrame e insuficiência cardíaca nos cinco dias após as eleições de 2020. A comparação foi feita com os 19 dias antes do pleito. Naquele ano, a disputa estava acirrada entre o democrata Joe Biden e o agora ex-presidente, Donald Trump. 

O resultado do estudo foi publicado em abril deste ano no Jama Network open, periódico da Associação Médica Americana. O trabalho foi realizado por médicos da Kaiser Permanente, um serviço privado de saúde dos Estados Unidos, com informações de 6,3 milhões de pessoas. 

Os dados chamam a atenção por mostrarem a relação do estresse psicológico de uma disputa eleitoral acirrada e a saúde do corpo. E se você já está se perguntando se algo assim pode acontecer no Brasil, a resposta é “sim”, segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Amazonas (SBC-AM), Mônica Hosannah e Silva. 

Cardiologista Mônica Hosannah e Silva (Divulgação)

“Quando as eleições são muito disputadas, o nosso corpo entende que isso é um estresse psicológico, então ele vai fazer o que sempre faz para nos defender, que é liberar adrenalina e noradrenalina. E esses hormônios acabam gerando resistência vascular, aumentando a possibilidade de prejuízos à saúde”

, explica a médica.

Condições

Ao detalhar o processo no corpo, a especialista destaca que há maior possibilidade de prejuízos à saúde em pessoas com algum histórico de problemas ligados ao sistema cardiovascular ou com outra condição de saúde, como obesidade e diabetes.

“Existe um processo chamado de aterosclerose, que é quando fatores de risco alteram o endotélio, a camada que reveste os vasos sanguíneos. A partir do acúmulo de colesterol, isso acaba gerando placas de gordura. Então, toda vez que você passa por um momento de estresse, o corpo libera adrenalina e noradrenalina, que tornam o vaso sanguíneo mais resistente, fechado, indo de encontro àquela placa de gordura e ocasionando eventos como o infarto ou derrame”, afirma Mônica.

Emoção

O psicólogo José Trintin Junior, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e Psicologia Positiva, ressalta ainda que é preciso sempre pensar o corpo como um organismo interligado. Para isso, ele cita as doenças psicossomáticas, enfermidades que afetam diretamente a saúde mental e fisiológica.

Psicólogo José Trintin Junior (Divulgação)

“Sabe-se que a grande maioria das doenças físicas são de ordem psicossomática e um período de turbulência política, de guerra, pode causar sim, distúrbios funcionais-psíquicos em decorrência do estresse envolvido. Esse processo todo é o que acaba gerando parte dessas doenças físicas”

, explica o psicólogo.

Dentre os sintomas psicológicos das doenças psicossomáticas está a ansiedade, irritabilidade, impaciência, tristeza, falta de interesse e exaustão. Já no corpo, essa condição pode se manifestar de diferentes formas, como a queimação no estômago, náusea, diarreia, falta de ar, aumento da pressão arterial, dor de cabeça e insônia. 

“É lógico que a gente se preocupa com o destino do país. Se você é de direita, se preocupa que a esquerda possa vir tomar o poder. Se você é de esquerda, fica revoltado que a direita está no poder. Todos têm os seus interesses e quando isso é ameaçado, causa essa razão emocional”, afirma Trintin.

Eleição conturbada

As eleições de 2020 nos Estados Unidos ocorreram sob enorme pressão. Além de os votos em cédulas de papel terem sido contabilizados por dias, o então presidente Trump acusou o sistema eleitoral de ter sido fraudado. Esse clima atingiu o ápice no dia 6 de janeiro, quando o candidato à reeleição incitou manifestantes a invadirem o Congresso dos Estados Unidos, onde ocorreria a sessão que confirmaria a vitória de Biden. O motim resultou em cinco mortes. 

Em um caminho similar, a disputa política brasileira está acirrada entre dois polos. De um lado, o ex-presidente Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), público admirador de Trump. Nas últimas semanas, devido a posicionamentos de Bolsonaro que questionam o sistema eleitoral, nomes de cargos importantes da República passaram a defender com maior veemência as eleições. 

Um exemplo é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, que nesta semana anunciou que a corte já convidou uma série de observadores internacionais par acompanhar as eleições, dentre eles, o Parlamento do Mercosul e a Rede Mundial de Justiça Eleitoral. "Não admitiremos qualquer circunstância que obste a manifestação da vontade soberana do povo brasileiro de escolher seus representantes”, disse Fachin em outra ocasião, na semana passada.

Na última segunda-feira, durante entrevista ao programa Roda Viva, foi a vez do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) defender o sistema eleitoral. “Não há dúvida quanto à lisura das urnas eletrônicas”. No mesmo sentido, se posicionou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro. “O sistema é confiável”, disse ele durante evento nos Estados Unidos, em 10 de maio.

Segundo o analista político Carlos Santiago, atualmente há um espanto na própria classe de formadores de opinião e cientistas políticos acerca do momento em que vive o país. Apesar disso, ele analisa que esse tensionamento da política será cada vez mais frequente.

“Esses conflitos de poderes, de grupos políticos, vieram para ficar, pois esses embates são típicos da democracia. O Brasil está em um momento de alcance de maturidade política e a democracia é um regime político em que o conflito é permanente. Isso não está acontecendo só no Brasil, mas também no Chile, nos Estados Unidos, na França, no Reino Unido”, comenta.

Blog

Carlos Santiago
Cientista político e e advogado

Esse momento de luta pelo protagonismo político, o conflito entre grupos diferentes , entre os poderes da República, esse estágio veio para ficar. Digo isso, inclusive, independentemente do término das eleições. E, claro, o embate constante causa sim, um mal-estar na política, no social e no corpo do indivíduo. Algumas pessoas até por questões emotivas adoecem ou então agem de forma não pensada e acaba partindo para violências, o que é desprezível, mas na forma geral, o embate entre diferentes ideias é típico de um país que está respirando democracia. Isso precisa estar claro. Por outro lado, o presidente Bolsonaro tem feito críticas às urnas eletrônicas muito antes de ter sido eleito chefe da Nação, porém isso ganha força porque ele está nesse cargo, o que comunica essa ideia para os seus seguidores. Ainda assim, não vejo a possibilidade de um golpe ou eleições sem transparência neste ano. Não vejo também chance de ação do Bolsonaro ou das Forças Armadas contra a democracia, porque não há amparo nos outros poderes, na opinião pública ou no contexto internacional em que vivemos atualmente.

Dicas dos especialistas

- Buscar outros focos de interesse além da política.

- Praticar atividades físicas.

- Para os casos de pré-disposição para doenças,  buscar o diagnóstico e tratamento.

- Realizar terapia.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2024Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por