Mudança de vida

Dia do Trabalhador: amazonenses ‘caem de cabeça’ nas profissões da modernidade

Pandemia, novas tecnologias e a oportunidade de melhoria de vida foram alguns dos fatores para o trabalhador virar a chave e buscar novos desafios

Amariles Gama
online@acritica.com
01/05/2022 às 09:36.
Atualizado em 01/05/2022 às 09:36

(Divulgação)

Em terras barés já é comum que pessoas larguem os trabalhos mais tradicionais para tentar uma renda melhor no mundo virtual. A CRÍTICA conversou com algumas dessas pessoas que tomaram decisões que mudaram suas vidas

Em busca de emprego e uma oportunidade de renda, os amazonenses topam do tradicional ao moderno. Com a explosão de novos itens tecnológicos trazidos pelas novas tecnologias que surgem a cada dia, novas modalidades de profissões emergiram e começam a tomar conta do mercado de trabalho, principalmente entre os jovens.

No Dia do Trabalho, comemorado neste domingo (1º), A CRÍTICA ouviu integrantes dessa ‘nova modernidade’ e procurou especialistas para entender como a sociedade se adequa aos novos tempos. 

A influenciadora digital amazonense Carol Heinrichs, largou o trabalho formal para se dedicar exclusivamente à produção de conteúdo apenas três anos depois de criar um blog de moda e beleza, em 2009. Ela conta que o trabalho na internet deu tão certo que acabou trazendo rendimentos financeiros que superaram o seu salário como nutricionista, sendo necessária a tomada de decisão que mudou a sua vida.

“Eu vi nisso uma chance de fazer um extra e acabou que tomou uma proporção muito grande. Eu abandonei a minha profissão de nutrição e a partir dali resolvi largar tudo para viver só de internet, só com os lucros do meu blog. Foi uma decisão difícil porque eu era concursada. Mas eu tive o apoio da minha família, e mesmo com muita insegurança, a gente viu ali uma chance de eu ser feliz e bem-sucedida”, relata Carol, que acumula 226 mil seguidores no Instagram.

Motorista de APP

Jeann Nycollas Castro, de 23 anos, começou a trabalhar como motorista de aplicativo em 2020, no auge da pandemia. Ele conta que viu na profissão uma oportunidade de ter mais autonomia sobre os seus horários de trabalho. “Eu não estava conseguindo emprego e queria ter uma fonte de renda. Como tinha a faculdade também, eu queria um trabalho que não me prendesse em horário, que eu pudesse escolher a hora que eu quisesse trabalhar”, disse.

O motorista trabalha com carro alugado e conta que a crise econômica e a alta no preço da gasolina têm trazido dificuldades para a categoria. “A rotina é bem cansativa por causa do trânsito e do calor. Tem dias que você não consegue fazer nem o da gasolina, porque as corridas são muito baratas e a gasolina está muito cara. Mas tem dias e dias. Dá pra tirar um dinheiro”, afirma o motorista, que tem a profissão como principal fonte de renda. 

Social Media

Já o publicitário Bruno Rodrigues, de 27 anos, há seis trabalha como social media, sendo responsável pela gestão de perfis de empresas nas redes sociais. Uma profissão nova e em ascensão no mercado de trabalho. “Cada vez mais as mídias sociais estão ganhando um espaço significativo na vida das pessoas, aproximando os públicos e melhorando até o consumo de produtos”, disse Rodrigues.

“Isso tornou necessário ter uma pessoa gerenciando a imagem nas redes sociais. É nesse momento que o social media aparece. Ficamos responsáveis por cuidar desse relacionamento virtual, sempre acompanhando as tendências do mercado, prevenindo possíveis crises, e gerenciando, da melhor maneira possível, a imagem da sua marca e como ela é vista pelos consumidores”, explicou. 

O que essas profissões têm em comum?

Carol, Jeann e Bruno exercem profissões que ainda não são regulamentadas por lei. Segundo o advogado trabalhista e sócio do escritório Araújo & Gonzaga, Luís Felipe Araújo, a legislação trabalhista brasileira não tem conseguido acompanhar a evolução do mercado.

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 Com isso, as novas modalidades de trabalho que surgem acabam ficando sem regulamentação. Isso acontece, segundo ele, porque as relações de trabalho são muito dinâmicas e cada vez mais utilizam meios tecnológicos.

Porém, na avaliação do advogado, a Reforma Trabalhista que entrou em vigor em 2017 fez com que a negociação entre empregado e empregador ganhasse força. “O que vem acontecendo, na prática, é que muitas das vezes essas pessoas acabam prestando um serviço como autônomo, celebrando um contrato de prestação de serviço onde se estabelecem alguns direitos trabalhistas, como remuneração e jornada de trabalho”, explicou. 

Impactos na economia

Para a economista Denise Kassama, as profissões ligadas à tecnologia são tendência, e quanto mais tecnológica forem, mais chances terão de crescer. “De uma forma geral, estar empregado é bom para a economia. Se você tem renda, você consome. Se você consome, você estimula o comércio, e o comércio é estimulado, estimula então a indústria. Se a indústria está estimulada, ela cresce e contrata mais gente, gerando mais pessoas com renda”, explica a economista.

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“É importante que se busque outras áreas. Algumas realmente estão em cima do esgotamento. Da mesma forma que a indústria 4.0 maximiza o processo e uso da tecnologia, reduzindo a necessidade da mão de obra, outras profissões acabam surgindo para absorver parte dessa mão de obra que está desempregada, mas não toda. Então, é preciso sempre acompanhar as tendências tecnológicas, porque quanto mais se acompanha essa evolução, mais você tende a permanecer nesse campo”, completa a especialista. 

O sociólogo Marcelo Seráfico explica essa evolução no mercado de trabalho e como o perfil social e profissional das pessoas vem se modificando com o tempo. “É um processo histórico que se desenvolve ao longo de décadas. Não é uma coisa resultante apenas da pandemia, algo inusitado e súbito. Também não é uma determinação tecnológica. Na verdade, tem a ver com as escolhas políticas feitas diante de uma série de alternativas possíveis”, começou.

“[A partir das escolhas políticas] aí sim tem a ver com a tecnologia disponível e os objetivos que a sociedade estabelece para si e para o uso dessas tecnologias. Ou seja, o uso da tecnologia pode gerar desemprego, mas também pode gerar menos hora de trabalho pra todos os cidadãos e maior bem-estar. A nossa sociedade tem feito uma escolha e as classes que dominam as nossas sociedades têm feito a escolha por desemprego, aumento e concentração da riqueza em algumas camadas e, portanto, expansão da desigualdade social”, avaliou o sociólogo.

“Há uma série de questionamentos que coloca o trabalhador numa perspectiva ultra individualista que sequer reconhece a relação de trabalho, às vezes. Porque implica em relações informais, relações que não dão conta de satisfazer, do ponto de vista do trabalhador, garantias básicas de direitos que são necessárias pra convertê-las em cidadãos, e não apenas pessoas que vendem, de maneira intermitente ou não, a sua força de trabalho para alguém que os contrata sem que esse contrato implique vínculos mais formais e direitos”, completou Seráfico.

 Colaborou: Michael Douglas

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