TEMOR DO GARIMPO

Balsa de dragagem de minérios liga alerta de moradores para atividade ilegal na região do Rio Purus

Há mais de 15 dias uma balsa com grandes máquinas de extração de minérios passeia pela região e atualmente está estacionada na comunidade Beabá, no município de Tapauá

Karol Rocha
online@acritica.com
16/05/2023 às 17:37.
Atualizado em 16/05/2023 às 19:54

Equipamentos usados na dragagem de minerais assustaram moradores da região de Tapauá, pois são comumente usados por garimpeiros ilegais (Foto: Divulgação)

A presença de uma balsa de dragagem de minérios pela região do Rio Purus, no município de Tapauá, distante 449 quilômetros de Manaus, vem alertando a população para a atuação de garimpeiros.

De acordo com moradores, há mais de 15 dias, uma balsa com grandes máquinas de extração de minérios passeia pela região e atualmente está estacionada na comunidade Beabá, no município. A presença da dragagem assusta os moradores, que temem a atuação de garimpo ilegal pela região.

"Eu desconfio é que quando eles perceberam que a quantidade de metal era muito maior do que eles pensavam, eles continuaram lá e deram a informação a outras balsas. É a primeira vez que a população tem contato com esse tipo de coisa, tanto é que ficamos atônitos, porque o temor é que haja uma contaminação e vá para a Reserva Biológica do Abufari, onde se reproduzem quelônios", contou um dos moradores da região, o advogado Dorgival Sabino, de 56 anos.

Segundo ele, é possível ver a robustez das máquinas que geralmente são utilizadas para a extração ilegal de minério.

"Essa balsa conseguiu passar pela Reserva Ecológica se dizendo pesquisadores minerais, só que o que nos deixou assustados é que, para se fazer pesquisa, você não precisa do equipamento que eles levaram. Eles estão com grandes máquinas de extração".

Contaminação de peixes

Outros moradores também temem a presença de garimpeiros, principalmente porque a atividade ilegal pode contaminar os peixes, a principal fonte de renda de centenas de famílias tapauenses.

"A comunidade tem medo de ser afetada porque é perigoso o mercúrio, né? Isso afeta os peixes e a maioria dos moradores vive da pesca. A nossa maior renda é o peixe", comentou um pescador de 32 anos, que preferiu não se identificar à reportagem.

Lyca Siqueira, de 24 anos, também é pescadora e conta que, junto com outros moradores, protesta contra o garimpo ilegal na região do Rio Purus. Os moradores já até fizeram o movimento "Juntos Por Tapauá: Não queremos garimpo aqui', com o intuito de chamar a atenção das autoridades para a atuação da atividade ilegal na região. "Tapauá é o município da pesca e 99% das famílias sobrevivem do peixe. A nossa cidade é muito farta de peixe e se um garimpo ilegal chegar aqui, vai acabar com a nossa cultura de peixe", reforçou a moradora.

Meio Ambiente de Tapauá faz um apelo aos órgãos estaduais

Ao A CRÍTICA, o secretário do Meio Ambiente e Turismo (Semmatur) de Tapauá, Jaciel Santos, afirmou que a atuação da balsa é característica de garimpo ilegal. Segundo ele, o órgão tomou conhecimento da existência da balsa com dragagem no dia 28 de abril e, naquele primeiro momento, uma primeira abordagem foi feita.

"Eles apresentaram uma licença do Ipaam e um alvará de funcionamento da Agência Nacional de Mineração, mas nós identificamos que em momento algum o município foi consultado previamente sobre a atividade", explicou ele. Segundo o secretário, a balsa estava na comunidade de Baturité, em Tapauá, quando foi solicitado que a estrutura deixasse o local.

"No dia 10, nós até pedimos de forma voluntária, até porque não temos bases legais para isso, para que eles se retirassem para evitar qualquer conflito, e eles concordaram em descer, mas acredito que eles estejam se articulando para subir de novo. Nós já acionamos todos os órgãos como Sema, Ipaam, Ibama e inclusive a Polícia Federal. Eles já têm ciência há mais de 10 dias desse caso, e hoje essa balsa se encontra em uma comunidade chamada Beabá, que fica a 10 minutos da cidade de Tapauá".

Ele explica que o órgão não tem poder legal para solicitar a retirada da balsa, por isso faz um apelo para que os órgãos estaduais e federais façam a retirada da estrutura das águas do Rio Purus.

"O maior apelo agora é buscar junto ao Ipaam a explicação dessa licença. Como eles permitiram atropelarem um trâmite, já que o município não foi informado sobre a atividade? Eles simplesmente chegaram aqui com uma licença de pesquisa, mas o que a gente encontra é um equipamento pesado, de dragas, é uma estrutura para se fazer mineração propriamente dita. Então é interessante questionar esses órgãos, do porquê eles deram esse aval e isso tem dificultado muito o meu trabalho enquanto município".

Sem respostas

A reportagem de A CRÍTICA fez questionamentos a órgãos como o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas (SSP-AM) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sobre a presença das balsas e se há fiscalização na atividade, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) também foram questionadas sobre o assunto, mas não responderam até o fechamento desta reportagem. Caso os órgãos se posicionem de forma oficial, o conteúdo será adicionado neste material.

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