Zona Norte de Manaus

‘Cracolândia’ coloca em risco moradores da rua Seriano no bairro Cidade Nova

Cerca de 20 dependentes químicos consomem drogas diariamente à beira da rua e em casebres abandonados

Thiago Monteiro
cidades@acritica.com
16/09/2023 às 08:46.
Atualizado em 16/09/2023 às 08:46

Moradores da rua Seriano afirmam que há um ano têm que conviver com pessoas consumindo drogas à luz do dia (Foto: Junio Matos)

Tráfico de drogas, uso de substâncias ilícitas, prostituição, mendicância e sexo de viciados em entorpecentes no meio fio são alguns dos problemas enfrentados diariamente por moradores, pedestres, trabalhadores e comerciantes da rua Seriano, no bairro Cidade Nova, zona Norte de Manaus.

Segundo uma moradora, de 48 anos, que pediu para não ter o nome divulgado, cerca de 20 pessoas ficam perambulando todos os dias na região pedindo esmolas e usando drogas em casebres abandonados ou até mesmo no meio fio.

“Há exatamente um ano estamos com esse problema aqui na nossa rua, já pedimos ajuda, mas ninguém resolveu a situação até o momento. Uma das piores situações foi ver um homem fazendo as necessidades fisiológicas em frente à minha casa”, explicou a mulher.

Um comerciante, de 39 anos, que trabalha na localidade há dois anos, que também preferiu ficar no anonimato relatou que na última quinta-feira (14), por volta de 14h, a filha dele, de 21 anos, estava no caixa do estabelecimento dele, quando um dos usuários a agrediu com um tapa no rosto.

“Ela (filha) disse que somente o patrão, eu no caso, poderia  dar a comida para esse usuário. Com a negativa, o rapaz ficou furioso, cuspiu no rosto dela e deu um tapa nela. Tentei registrar o caso no 6º Distrito Integrado de Polícia (DIP), no entanto, eles pediram para eu dar o nome do agressor. Como eu não tinha, o Boletim de Ocorrência não foi registrado”, informou o trabalhador.

Outro comerciante, de 30 anos, que por medo de represálias também não divulgou o nome, contou que a situação está longe do fim. “São mulheres e homens em situação de vulnerabilidade que encontraram aqui neste local uma área para se  divertir com drogas e sexo. Realmente, não sabemos mais o que fazer”, disse.

Equipe de reportagem hostilizada

A reportagem de A CRÍTICA esteve “in loco” na via, na quinta (14), onde chegou a ser hostilizada pelas pessoas em situação de vulnerabilidade. Durante a apuração, questionamentos sobre a problemática aos moradores e comerciantes da região, uma das mulheres  pegou uma pedra com o objetivo de jogar no automóvel da equipe.

No meio fio também foi encontrado latinhas usadas para o consumo de pedras de crack, garrafas com urina, camisas e dentre outros objetos.

Abordagem policial e críticas

Na última terça-feira (12), o sargento da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), Alexandre Salazar, foi acionado pelos moradores da área, chegou a retirar e dispersar os usuários de drogas, porém, na última quinta, eles voltaram para o local, onde foram flagrados pela reportagem de A CRÍTICA.

O PM foi alvo de críticas nas redes sociais por ativistas do Observatório de Pobrefobia do Estado de São Paulo, que realiza estudos, pesquisas e denúncias contra aporofobia (aversão/ódio aos pobres), por usar uma arma de fogo contra os usuários de drogas.

A reportagem tentou entrar em contato com o coordenador do observatório, o sociólogo Paulo Escobar, e o padre Júlio Lancellotti, este último que também faz parte da instituição, mas ambos não quiseram falar sobre a situação e postagem sobre a abordagem do policial amazonense.

Por telefone, o sargento Alexandre Salazar afirmou que sabia dos riscos ao tentar ajudar os moradores da região e relatou que sua postagem sobre o caso foi derrubada pelos ativistas de outro estado.

"Não cometi nenhum excesso, um dos usuários, que estavam no local já tinha sido preso pela minha equipe policial  e responde na justiça por tráfico de drogas. Meu objetivo só era ajudar a população daquela área na Cidade Nova”, comentou.

PM se manifesta

Em nota, a PMAM informou que tomou conhecimento do fato envolvendo o sargento Salazar e determinou instauração do processo administrativo disciplinar pela Diretoria de Justiça e Disciplina (DJD) da instituição para que o caso seja devidamente apurado e que as medidas administrativas em relação ao ocorrido sejam tomadas.

A PMAM, segundo a nota, informa ainda que não compactua com abusos, excessos e comportamentos que contrariem a lei e a ordem.

  

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