Venezuelanos

Migrantes e refugiados encontram no segmento de bares e restaurantes esperança de emprego

Pesquisa realizada pela Acnur mostra o potencial do mercado de trabalho para venezuelanos em Manaus

Amariles Gama
cidades@acritica.com
04/12/2022 às 09:15.
Atualizado em 04/12/2022 às 09:15

A jornalista, cientista política e pesquisadora Bertha Maakaroun, responsável pelo estudo, durante a apresentação da pesquisa (Foto: Arlesson Sicsu)

O segmento de bares e restaurantes é o que mais emprega refugiados e migrantes venezuelanos, em Manaus. Porém, grande parte dessa população estrangeira ainda tem dificuldades para a inserção no mercado de trabalho, sendo as principais delas a proficiência em língua portuguesa e a validação de documentos. 

É o que aponta uma pesquisa inédita divulgada pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur), o Instituto Pólis e a Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI). O estudo tem como objetivo evidenciar o perfil e o potencial do mercado de trabalho local para a contratação de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas em Manaus.

A jornalista, cientista política e pesquisadora Bertha Maakaroun, responsável pelo estudo, destacou que a motivação em pesquisar e buscar dados científicos para apresentá-los à sociedade vem da possibilidade de transformar a vida de pessoas através da pesquisa. Ela se emocionou durante o lançamento do estudo com o depoimento de uma venezuelana que agradeceu a ela "por falar sobre eles".

"Se eu tenho uma situação de diagnóstico que eu preciso trazer uma política pública assertiva de intervenção, então eu preciso trabalhar com pesquisa, com métodos científicos que vão proporcionar um levantamento de dados com qualidade. O dado com qualidade é um dado que te permite fazer intervenções que vão transformar, que vão trazer modificações na vida dessas pessoas", destacou Maakaroun.

Os dados levantados mostram que todos os setores produtivos pesquisados apontam qualidades positivas percebidas na mão de obra venezuelana. Segundo as representações, eles são disponíveis e compromissados; esforçados no aprendizado e execução das tarefas; bom relacionamento e facilidade em fazer amizades; e introdução de novas formas de trabalhar e nova cultura no ambiente do trabalho, o que é considerado enriquecedor.

Também foram realizadas, em Manaus 11 entrevistas em profundidade em novembro de 2021, que levantaram informações sobre o setor produtivo de Manaus, oportunidades de emprego e de renda, bem como demandas por qualificação em diferentes atividades.

Setores

Segundo a pesquisa, os setores com potencial para a absorção da mão de obra venezuelana são: o Polo Industrial de Manaus, Serviços e Comércios, Industria da Construção Civil, além da Industria do Turismo que, apesar de não empregar muitos venezuelanos, tem potencial evidente.

Os dados também mostram que os segmentos que mais empregam refugiados e migrantes venezuelanos em Manaus são: o setor de bares e restaurantes (28,2%), estabelecimentos comerciais (17,3%), indústria da construção civil (10,9%) e limpeza e manutenção (6,4%).

Para o representante do Acnur no Brasil Oscar Sanchez, a partir dos dados apresentados, é preciso concentrar nas áreas em que o estudo remarca a possibilidade de agência apoiar com a capacitação para que a população de refugiados e migrantes venezuelanos possam ser inseridos no mercado laboral. 

Ele destacou também a importância da integração entre os vários atores da sociedade civil e o Estado para que haja execução de políticas públicas voltadas a população estudada.

A venezuelana Mirna Acosta é assistente social, mas desde 2016, quando chegou ao Brasil, ainda não conseguiu a revalidação do seu diploma, e trabalha atualmente como voluntária no Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), de onde obtém a sua renda através de trabalhos temporários e informais. Ela confessou que não sabia que havia a possibilidade de atuar no Brasil com a sua profissão, e quando chegou vendia doces e salgados.

Direitos

De acordo com a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas (MPT) Alzira Melo Costa, o migrante ou refugiado, independentemente da nacionalidade, tem direitos trabalhistas equiparados ao cidadão brasileiro. Ela destaca ainda, se o direito não for garantido, o cidadão estrangeiro deve procurar a Justiça do Trabalho, para ocorrência individuais, e MPT para ocorrências coletivas. 

“Se ele estiver em um emprego de contratação formal, por via da carteira de trabalho assinada, ele tem exatamente os mesmos direitos e deveres de um brasileiro, ou seja, ele tem direito a um salário mínimo, as horas de jornada de trabalho fixadas, tem direito a férias, 13º, FGTS, todos os direitos e garantias que são previstos para um nacional, também é previsto para um cidadão estrangeiro que se encontra em situação de migração ou de refúgio”, destacou Alzira.

Assistência

O secretário executivo da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, diácono Afonso Oliveira destacou o trabalho da instituição voltado à população de migrantes e refugiados na capital amazonense. A entidade oferece gratuitamente cursos de língua portuguesa e cursos profissionalizantes, com o apoio de instituições parceiras.

“A necessidade de dar autonomia a eles é uma coisa muito importante. Então, nós temos buscado o apoio de parceiros de modo que possam, após o curso profissionalizantes, eles terem a possibilidade de construir o seu próprio negócio, juntando grupos ou individualmente, mas que eles tenham essa condição de autonomia e de poder continuar a sustentabilidade a partir deles mesmos”, disse Afonso.

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