Pesquisa do IBGE constata que o rendimento médio do trabalhador despencou 7,2% na comparação com o mesmo período de 2021
O recuo do índice de desemprego no País para um dígito pela primeira vez em seis anos é uma ótima notícia, mas que precisa ser melhor analisada para evitar interpretações equivocadas. Em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de quase 5%.
A taxa de desemprego ficou em 9,8% - já esteve próximo de 15% no primeiro trimestre de 2021. O menor índice de desemprego foi registrado em 2014, quando atingia apenas 6,5% da população.
Os números indicam que o mercado de trabalho segue em recuperação, em meio aos impactos da inflação na renda dos trabalhadores. O problema surge quando se avalia a qualidade do emprego e a renda associada a ele. Ocorre que a pesquisa do IBGE considera empregada toda pessoa que obtém renda a partir de qualquer atividade, seja trabalhando como funcionário de uma empresa, seja vendendo banana frita. A mesma pesquisa do IBGE constata que o rendimento médio do trabalhador despencou 7,2% na comparação com o mesmo período de 2021 e os mais pobres são os mais afetados.
Os funcionários públicos tiveram a renda média achatada 12,4%, enquanto os trabalhadores com carteira assinada viram sua renda encolher 4,4%. Isso sem mencionar os efeitos da inflação, que corrói o poder de compra, apertando ainda mais as finanças dos brasileiros. A recuo na renda é um dos fatores que explicam a alta na empregabilidade. Com as contas apertadas, mais pessoas nas famílias tiveram que buscar uma atividade remunerada para ajudar nas contas de casa.
Também por isso, a informalidade atinge níveis recordes. Um mercado de trabalho com 40% de informalidade ainda é um mercado em crise. Ser informal significa que você têm acesso a benefícios como seguro-desemprego, salário-família, auxílio-doença, entre outros, além de não contribuir para uma futura aposentadoria. São mais de 38 milhões de trabalhadores nessa situação hoje. É ótimo que o mercado de trabalho esteja reagindo, sobretudo em face das incertezas quanto aos rumos da economia global, mas é preciso um esforço do poder público para elevar a qualidade do emprego, incentivando as contratações com carteira assinada e conscientizando as pessoas a respeito da importância do trabalho formal e dos benefícios agregados.