Em busca de uma política ambiental

É fato que a Amazônia precisa de atenção especial do governo federal, tendo em vista o aumento de 30% no desmatamento em 2019, a péssima imagem internacional do País depois das queimadas do ano passado, e o esvaziamento de órgãos ambientais. Diante disso, o anúncio da criação de um Conselho da Amazônia soa como um alento, um sinal de que o governo está sensível a essas questões. O problema são as ideias que vão nortear as ações do conselho, o que será determinado pelas pessoas que dele devem participar. No entanto, outro ponto a considerar é que a formalização do conselho é também o atestado de ineficiência do Ministério do Meio Ambiente, sob o comando do ministro perdido e envolto em polêmicas, Ricardo Salles.
Cabe ressaltar, porém, que o cenário atual da questão ambiental no governo Bolsonaro não deve ser atribuída principalmente à incompetência do ministro, já que até sua escolha teve como principais critérios aspectos menos técnicos e mais ideológicos. Ao procurar por um ministro que não fosse um “xiita ambiental”, o governo acabou criando um “anti-ministério”. E este é um ponto fundamental: o meio ambiente – assim como a educação – não pode ser alvo da cruzada ideológica pessoal do presidente.
O conselho recém-anunciado não pode ser instrumento de tal cruzada, o que é um temor muito presente quando lembramos que o governo dissolveu centenas de conselhos que tinham como função assegurar a participação da sociedade civil nas ações governamentais. Será que ambientalistas farão parte do Conselho da Amazônia? Será que a comunidade indígena terá representantes legítimos, além daqueles já cooptados pelo bolsonarismo? Será que o colegiado não servirá apenas como tentativa de legitimar intenções polêmicas como a mineração em terras indígenas? São questões que só o tempo responderá.
A boa notícia é que a iniciativa pode resultar, sim, na criação de uma política ambiental que o governo ainda não tem. É possível que tal política trate a questão com a devida relevância, considerando o meio ambiente como fator indispensável nos projetos de infraestrutura, por exemplo. É possível que as políticas governamentais se descolem das convicções pessoais do chefe do Executivo, dando ao governo alguma esperança de realmente dar certo.