Muros da desigualdade
A pesquisa sobre Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) escancara em números o tamanho da desigualdade vigente na sociedade brasileira. Os negros e pardos somam 64,2% do total da população desocupada, e no item de trabalhadores subutilizados o porcentual é maior: 66,1% desse universo.
Os números do IBGE indicam que a população negra corresponde a aproximadamente 56% do total da população brasileira e segue sub-representada nas demais instâncias da vida pública como em cargos de chefia nas organizações públicas, nas instituições, nos espaços de representação do poder, como o parlamento; nas organizações privadas, nas academias. É a expressão de um País que insiste em negar, a partir de uma política econômico-social-cultural, a presença negra assim como faz com os povos indígenas.
São milhares de brasileiros colocados a margem, tratados com seres humanos de segunda categoria. O agravante, nesse momento da história brasileira, é que os primeiros passos mais concretos para o Brasil encarar o racismo e a discriminação e combate-los a partir de políticas governamentais e públicas que não deveriam ser descontínuas estão sendo quebrados, desviados, interditados. Negros, quilombolas e indígenas estão sendo tratados pela lógica governamental como indesejáveis para os quais não deve haver direitos e sim o dever de se enquadrarem ao que as autoridades chamam de ‘mundo civilizado”.
Estudos como este do IBGE apontam que os negros somam 75,2% do total da população com menor ganho econômico deveriam servir para orientar ações de governo, da sociedade e do setor empresarial. Se, de fato, há interesse em reduzir desigualdades, como repetem as autoridades brasileiras, falta decisão que altere a regra do jogo por meio do qual se estabeleceu como algo normal essa assimetria. Não é incapacidade nem é incompetência dos negros, dos quilombolas e dos indígenas para acessar os postos de trabalho mais elevados, a formação educacional e os espaços de poder político-parlamentar. É a realização histórica de uma política que se impôs e se enraizou pela prática da exclusão ao definir a concentração de renda nas mãos de poucos como condição de acesso a padrão digno de vida.
O rosto e o corpo do Brasil se expõem por essa nódoa que é a desigualdade erguida.