BOIZINHO DE PANO

Dona de loja histórica de Parintins supera luto e fala dos desafios na retomada do Festival

Após perder marido para Covid-19, dona da ‘Q Boi’ aposta em sua linha exclusiva para crianças, a Baby Boi

Isabella Pina
25/06/2022 às 19:46.
Atualizado em 26/06/2022 às 12:08

Dona da loja Q Boi exibe produtos (Arlesson Sicsú)

Com uma sacola na mão, batendo de porta em porta, dona Ester Maria Almeida começou sua jornada em 1996. Hoje ela é uma das empreendedoras de maior sucesso de Parintins. Da sacola, ela pulou para uma pequena prateleira no escritório de contabilidade do marido, onde vendia produtos e souveineirs bovinos. Hoje, 26 anos depois, é dona da famosa loja "Q Boi’ e, entre o luto da perda do marido para a Covid-19, dívidas hospitalares e um recomeço "pós-pandêmico", ela narra sua jornada de resistência na luta pela independência financeira feminina.

“Comecei a vender de porta em porta. Meu marido tinha um escritório e eu pedi licença pra colocar na prateleira dele, que ele me deu o espaço. Ele era um dos mais famosos contadores da cidade. O povo sacaneava ele, dizia que ele tava brincando de empresário e ele dizia ‘não, é hobby da minha mulher’. Aquilo me enervava. No ano seguinte, já aluguei meu espaço ao lado. No ano 2000, conseguimos comprar um espaço prórpio”.

Foi da motivação de fazer seu nome e seu próprio dinheiro, que Ester deu início aos produtos bovinos. A demanda veio quando percebeu que o Boi Caprichoso, do qual o marido dela era integrante, não tinha produtos originais. Já com espírito empreendedor, encontrou a deixa que precisava. 

“Quando percebi que iam atrás de patrocínio e não tinham um agrado para dar às pessoas, fui atrás de algo para presentearem as pessoas. Dei a ideia de uma camisa. De uma marca oficial. Fiz uma cestinha de vime. Fiz eu mesma as primeiras camisas oficiais, que foram feitas pela Q Boi, lá em 96”, lembra.

Luto e luta

Há um ano e três meses, o amado marido, seu companheiro de uma vida, com quem estava junta desde que tinha 14 anos, faleceu de Covid-19. Com a perda, a família passou a acumular dívidas - entre hospitalares e outras - que ultrapassam a casa do milhão. Da adversidade, veio a motivação para colocar o negócio de volta aos trilhos, a mão na massa junto aos quatro filhos, e reconstruir a vida.

O maior dos sucessos recentes da marca, que tem puxado essa retomada, foi o lançamento explosivo da linha Baby Boi, que começou com bonecos de pano de pequenos bois. O sucesso foi tão grande que explodiu pela cidade e gerou demanda passiva em plena pandemia. Fruto de uma ideia que surgiu do dia pra noite, e que, até hoje, é produzida artesanalmente por Ester e um pequeno grupo de costureiras. A marca é patenteada e assegura parte gigante da renda da famosa marca.

“Eu não sabia desenhar, então ia pra internet e procurava desenhos de vacas, imprimia, ficava recortando os modelos e ia testando até fazer um modelo pro meu neto brincar. Consegui fazer um modelo que deu certo e falei com as minhas costureiras. Deu certo e fizemos 30. Deu muito certo. Nao paramos mais. Trabalhava dia e noite, enchia manualmente. Meu marido dizia que não tinha porquê trabalhar assim. Eu explicava que era pela satisfação, não pelo dinheiro”, conta.

Da linha dos bonecos de pano, o negócio deslanchou. De diferentes tamanhos e acabamentos (agora ela venda também o Baby Boi de pelúcia), Ester partiu para novas empreitadas da linha baby: camisetas com patinhas e rabinhos, além de mochilas. Em terra bovina, onde boi é paixão mor, não há falta de demanda. Essa foi a explosão que deslanchou - e carrega ainda - a marca da Q Boi por este novo ano de retorno do festival. 

“Eu disse para as pessoas: se vocês forem fiéis comigo neste ano, no retorno deste festival, a 'Q Boi' volta ainda com maior força no ano que vem. Nós não vamos parar. Somos uma grande família e nos dedicamos de alma para isso. A história é essa. Na pandemia dei o meu jeito. A ideia, no fundo, é essa: é a independência financeira feminina, e é disso que vou sempre atrás”, resume.

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