Com pressão para a votação de pauta caras ao Amazonas, como a Reforma Tributária, deputados expõem suas prioridades para o mandato
(Divulgação)
De maioria conservadora, a nova bancada amazonense na Câmara dos Deputados eleita no ano passado, assume no dia 1° de fevereiro com uma postura aberta de diálogo e negociação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dos oitos deputados federais, quatro são novatos: Amom Mandel (Cidadania), Adail Filho (Republicanos), Saullo Vianna (UB) e Fausto Júnior (UB). Do outro lado estão os parlamentares com mais de uma passagem pela Câmara: Sidney Leite (PSD), Átila Lins (PSD), Silas Câmara (Republicanos) e Capitão Alberto Neto (PL).
Apenas o deputado Capitão Alberto Neto (PL) afirmou que pretende fazer oposição a Lula. No entanto, ele disse que na área econômica concorda com a reforma tributária petista que pretende extinguir o IPI, coluna cervical da Zona Franca de Manaus (ZFM) como forma de incentivar a economia.
Alberto Neto, oficial da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), foi eleito pela primeira vez em 2018 na onda de direita provocada pela eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi o segundo deputado mais votado nas eleições de 2022, com 147,8 mil votos.
O deputado reeleito Silas Câmara disse que o seu partido, o Republicanos, vai atuar de forma independente no Congresso e que o partido dará apoio ao governo Lula em medidas importantes para o Brasil. Silas afirmou que defende uma economia pragmática que tire burocracia do atual sistema fiscal ao mesmo tempo que garante as vantagens comparativas da ZFM.
Pastor Evangélico da Assembleia de Deus (Ieadam), Silas Câmara registra que irá defender pautas conservadoras como a proibição do aborto e a valorização da família ‘tradicional’ (baseada na união heteroafetiva), liberdade e pátria. Silas teve uma votação de 185.068 mil votos.
“Sou crente, evangélico. Sou pastor. Está em mim esse espírito natural de defesa da vida, família tradicional, princípios cristãos, liberdade. Estou na Câmara Federal desde 1998 e nunca tive nenhum problema de relacionamento ou dificuldade de trabalhar junto com seja quem for”, comentou Câmara.
Ex-prefeito de Maués, reeleito para o segundo mandato,o deputado Sidney Leite (PSD) declarou que pretende ter uma relação de colaboração com o governo federal. Na economia, o parlamentar questionou o patamar atual dos juros, inflação e o lucro estratosférico dos bancos. Para ele, o mercado impõe “determinadas coisas”.
Saullo Vianna eleito, Fausto Júnior e Adail Filho ainda não deixaram qual será a postura deles na Câmara. Eles não responderam à reportagem. Pela redes sociais, Fausto Júnior sugere que atuará na oposição do governo petista com publicações de tom crítico a Lula. Já Saullo e Adail Filho mantém um tom neutro e institucional em suas redes sociais sem, porém, apoiar ou escrutinar ações do governo federal.
Entidades que representam o comércio e a indústria do Amazonas afirmaram à reportagem que depositam voto de fé e confiança na atuação da bancada amazonense na Câmara. Eles afirmam que estão prontos para colaborar com os deputados federais na defesa dos interesses do Estado.
O presidente da Federação do Comércio do Estado do Amazonas (Fecomércio), Aderson Frota disse que teve conversas com três deputados federais eleitos. Conforme Aderson, os parlamentares ouvidos foram bastante receptivos com as preocupações do comércio.
“Falei com o Saullo, Adail e o Amom. Disseram que estamos abertos ao diálogo e que conhecem o momento difícil que o comércio passou na pandemia. Vamos convidá-lo para uma outra conversa para colocar posicionamentos sobre a reforma tributária”, declarou Frota.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, ainda não conversou com os novos parlamentares.
“A bancada tem que agir. É para isso que ela foi eleita. Estamos prontos para subsidiar a bancada, trabalhar em conjunto com a bancada. Não tive contato com nenhum novato ainda. Tentamos uma reunião na Fieam, mas não houve quórum”, finalizou.
Os oitos deputados eleitos terão direito a uma Cota para o Exercício da Atividade (Ceap), conhecida popularmente por Cotão para bancar despesas do mandato como deslocamento. Por causa dos preços de passagens aéreas, o valor da verba varia de estado para estado. No caso do Amazonas, os deputados recebem 43.570,12.
O quarto maior valor só atrás de Roraima (RR), Acre (AC) e Rondônia (RO), respectivamente. O vereador Amom Mandel adiantou que não pretende usar a Ceap e que vai bancar as despesas do mandato com o próprio salário. Amom já abria mão do recurso na Câmara Municipal de Manaus (CMM).
Apesar da escolha, o uso do dinheiro não é ilegal e é previsto por lei tanto no caso da CMM como na Câmara federal. Sem mencionar ainda que além da Ceap, os deputados ainda contarão com R$ 111.675,59 por mês da verba de gabinete usada para pagar salários de até 25 secretários parlamentares, que trabalham em Brasília.
Eles são contratados diretamente pelos deputados, com salários de R$ 1.025,12 a R$ 15.698,32. Conforme a Câmara, a legislatura passada gastou R$ 3,6 milhões da Ceap e outros R$ 8,7 milhões da verba de gabinete.
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Marcelo Seráfico - Cientista social