Desmatamento

Amazonas tem três municípios entre os que mais desmatam no Brasil

Só Humaitá (AM) é o município brasileiro com o maior aumento de desmatamento em um ano, quase o dobro (95,8%) em comparação a 2020

Wlaidick Junior
19/07/2022 às 10:28.
Atualizado em 19/07/2022 às 10:28

(Foto: Reuters)

Três municípios do Amazonas estão entre os que mais desmataram no Brasil, em 2021. Os dados são da rede ambiental MapBiomas e colocam Lábrea, Apuí e Humaitá em terceiro, sexto e décimo lugar, respectivamente. Além disso, pela primeira vez o Amazonas ficou em segundo lugar no ranking de desmatamento entre os estados.

As informações estão no novo Relatório Anual de Desmatamento 2021, divulgado nesta segunda-feira (18) pela rede. A iniciativa, que está na terceira publicação anual, busca fornecer dados e relatórios sobre o desmatamento nos biomas brasileiros. Do total de 16.557 km² de desflorestamento no Brasil, mais da metade (59%) ocorreu na Amazônia, no ano passado.

Impulsionado pela explosão de desmatamento no sul do estado, o Amazonas saiu do quarto lugar (MapBiomas-2020), ultrapassou o Maranhão e o Mato Grosso e ocupa agora o segundo lugar entre os que mais desmataram em 2021, o que representa crescimento de 50% em apenas um ano. Foram 1.944 km² desflorestados no ano passado, território apenas um pouco menor que o município de Iranduba (2.216 km²), na região metropolitana de Manaus.

Para o geógrafo e diretor da organização WCS Brasil, Carlos Durigan, o aumento do desmatamento no Amazonas está relacionado ao que ele pontua como enfraquecimento de políticas ambientais no Brasil.

“Tivemos uma mudança radical no rumo de políticas ambientais no atual governo, inclusive, outros crimes ambientais têm aumentado na Amazônia desde 2019. Isso tem a ver com a fragilização das estruturas de estado que eram responsáveis não só pelo comando e controle desses problemas, mas também por projetos alternativos ao desmatamento”, explica ele.

Além dessa problemática, o especialista ressalta que o sul do Amazonas faz fronteira com regiões muito ligadas à agropecuária, recebendo forte influência desse setor. “É um processo de expansão que vem do Mato Grosso e de Rondônia e que adentra no Amazonas, em áreas, inclusive, de proteção ambiental, como de indígenas e da União”, comenta.

*Humaitá*

Em Humaitá, no sul do Amazonas, o desmatamento praticamente dobrou (95,8%) em 12 meses. O município é o que mais registrou crescimento proporcional de desflorestamento em comparação a todos os outros do Brasil, incluindo, portanto, outros biomas que não o amazônico.

Para o secretário municipal de Meio Ambiente de Humaitá, John Auler, o desmatamento no município é “inércia do estado e da União”. Ele diz que o desflorestamento em Humaitá ocorre fora do perímetro urbano e que na zona rural a prefeitura não é procurada para atuar em conjunto com outros órgãos.

“Não temos comunicação para uma ação em conjunto, inclusive, o orçamento, se você for analisar, todo ele vai do Fundo Estadual de Meio Ambiente, dos bancos de investimentos, para o estado. O município não tem acesso a nada. Aí eles querem sempre atribuir a culpa ao prefeito, à gestão municipal”, disse ele.

O secretário comentou ainda que a atuação de madeireiros e grileiros ilegais é muito forte no município, fazendo com que driblem a fiscalização. “Eles derrubam a mata no inverno, aí agora no verão vão lá e queimam e depois saem. Aí quando vem a fiscalização não encontram ninguém, só a terra desmatada”, afirmou.

 Ilegalidade

 Para a ex-secretária de Coordenação de Políticas para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, Muriel Saragoussi, o aumento do desmatamento está associado a um sentimento que ela denomina como “liberou geral”, se referindo à falta de fiscalização.

“Durante algum tempo, se criou uma serie de unidades de conservação e se fez muita fiscalização nessa área, mas agora isso não ocorre. E como não está sendo feito, tem-se um ar de liberou geral. O agronegócio espera os grileiros e madeireiros fazerem o primeiro trabalho, para depois comprar áreas já sem floresta, porque eles – do agro - estão sujeitos a muita pressão internacional. Daí, se questionados dizem que não desmataram, que já estava desmatado”, afirma ela.

 Combate

 Em nota para esta reportagem, o governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) informou que tem atuado no combate aos crimes ambientais no sul do estado, inclusive, com ações de incentivo à bioeconomia.

“O Estado informa que acompanha os dados do MapBiomas, entretanto, as análises internas [do governo] são feitas a partir dos dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desta forma, em 2021, o estado do Amazonas acumulou, segundo o DETER, 1.831,4 km² em alertas de desmatamento - aumento de 42,40% em relação a 2020”, diz trecho da nota da Sema, também evidenciando o aumento do desflorestamento.

Segundo o governo, de todos os alertas de desmatamento emitidos em 2021, apenas 5,2% ocorreram em áreas de gestão do governo estadual. Outros 72,15 do total ocorreram em áreas federais, como unidades de conservação e terras indígenas.

Procuramos o Ministério do Meio Ambiente (MMA) para saber quais ações estão sendo tomadas para coibir o problema, mas não obtivemos retorno até o momento. Não conseguimos contato com os municípios de Apuí e Lábrea. O espaço continua aberto para manifestações.

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