Evento contou com a participação de acadêmicos e cientistas não indígenas e indígenas, além de representantes institucionais e as lideranças ligadas ao setor de CT&I
Evento contou com acadêmicos e cientistas indígenas e não indígenas. (Foto: Daniel Brandão/Freelancer)
Com a temática “Sistemas de Conhecimentos: tradicional indígena e científico – Diálogos Possíveis”, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realizou uma conferência com o objetivo de, por meio do diálogo, considerar o ponto de vista dos indígenas, levando as demandas de uma política pública para viabilizar a formação de cientistas indígenas, reconhecendo e respeitando os processos de produção de conhecimentos.
O evento contou com a participação de acadêmicos e cientistas não indígenas e indígenas, além de representantes institucionais e as lideranças ligadas ao setor de CT&I.
De acordo com o diretor do Inpa, professor Henrique Pereira, a proposta é trazer para a discussão o tema sobre ciências indígenas, para debater a ciência ocidentalizada e o conjunto das ciências indígenas, pois eles também fazem parte da ciência brasileira.
Diretor do Inpa, Henrique Pereira disse que a proposta é trazer discussão sobre ciências indígenas (Foto: Daniel Brandão/freelancer)
A programação abordou a participação dos indígenas na pesquisa dos viajantes naturalistas até o século XX e as experiências de projetos e Programas de Pós-Graduação (PPGs) que buscam estabelecer um fazer científico dentro da área, além da apresentação de experiências de estudantes de povos indígenas distintos na universidade e em instituições de pesquisa.
O indígena antropólogo, João Paulo, citou a dificuldade do conhecimento indígena em instituições de ensino superior e que isso impede a inserção dessa comunidade.
O indígena e antropólogo João Paulo, disse que existem conhecimentos de outros povos, como a dos indígenas, que se constrói a partir das diferenças, é preciso compreender outras formas de pensar. (Foto: Daniel Brandão/freelancer)
O evento integra as preparatórias da V Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que acontecerá de 4 a 6 de junho, em Brasília-DF, com a finalidade de definir a estratégia de política científica do Brasil.
Várias organizações foram convidadas para participar da Conferência e manifestar suas propostas com vistas a propor recomendações para a elaboração da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI 2024-2030) e ações a serem executadas a longo prazo.
A pesquisadora do Inpa Ana Carla Bruno, antropóloga com 30 anos de história com os indígenas, destacou que historicamente a relação de pesquisa entre indígenas e não indígenas foi permeada pela condição onde os indígenas eram “temas, objetos, auxiliares e ‘informantes’ das pesquisas”.
O Inpa, uma referência mundial em estudos de biologia tropical, avança na inclusão de estudantes indígenas em seus Programas de Pós-Graduação. O Instituto desenvolveu projetos de pesquisas e trabalhos em comunidades indígenas e nos últimos anos trouxe para dentro da pós-graduação a presença institucionalizada de estudantes indígenas.
“Penso que este diálogo pode estimular, suscitar e nos fazer olhar este processo de construção de conhecimento e formas de categorizar e classificar o mundo a partir, com e através de outras perspectivas”, disse Ana Carla
Atualmente, dois dos nove Programas de Pós-Graduação do Inpa contam com ações afirmativas com destinação de vagas para indígenas, que são o Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia (MPGAP) e o Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPG-Ecologia), respectivamente com notas 3 e 7 na avaliação da Capes. Em 2023, o Inpa concedeu o primeiro título de mestre a um indígena Apurinã. Joedson Quintino tornou-se mestre pelo MPGAP.
ara o doutorando em Botânica do Inpa e membro da Comissão da Conferência, o biólogo Gildo Feitoza Makuxi, é fundamental um novo olhar sobre como as instituições podem receber a multiculturalidade e cosmovisões dos povos indígenas amazônicos, considerando que os indígenas já estão nas academias e centros de pesquisa.
“A nossa provocação é de propor sempre o diálogo da diferença, ampliar questões e sensibilizar para outras maneiras de pensar a ciência. Nós temos nosso conhecimento que também é científico, que também é ciência. E isso diz respeito à forma como a academia e os institutos de pesquisa se portam diante da nossa presença. Querem de fato construir conhecimento intercultural? Quantos indígenas existem no corpo docente? Quantas disciplinas sobre conhecimentos indígenas existem nos cursos de pós-graduação? Quantos livros e textos de indígenas os professores colocam para ler?”, questiona Feitoza.