TransAmazônida

Mulheres trans lançam coleção para o Festival de Parintins

Projeto de empreendedorismo e geração de renda viabiliza oficina de artesanato indígena para mulheres trans e travestis de Manaus

Robson Adriano
cidades@acritica.com
08/06/2024 às 08:59.
Atualizado em 08/06/2024 às 16:20

Emylee, 35 anos, e Juliana, 44 anos, usam acessórios indígenas confeccionados por mulheres trans e travestis da Assotram (Foto: Jeiza Russo/AC)

Penas, sementes e miçangas tomam forma de cocares, cordões e brincos nas cores de Garantido e Caprichoso. As peças feitas por mulheres trans da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (Assotram), compõe a coleção TransAmazônida. 

“Antes de começar as oficinas eu estava com medo de não conseguir. Mas, fui em frente. Antigamente, eu não trabalhava, fazia ‘pista’ (sic) e a Assotram tem me ajudado bastante”, declarou a estudante do ensino médio Emylee Almeida, 35 anos, agora artesã e torcedora do boi Caprichoso.

Os acessórios são vendidos em feiras de Manaus e com a venda as artesãs conseguem tirar um valor para si.

“Produzimos também para nós. O que conseguimos vender dá para tirar um dinheiro para se manter. A nossa barraca é a mais chamativa, ainda mais que levamos a bandeira LGBT. Os colares, pulseiras e agora os cocares tem mais saída”, pontuou Emylee.

Acessórios produzidos pela artesã são vendidos em feiras e outros eventos espalhados pela cidade de Manaus (Foto: Jeiza Russo/AC)

 Para Emylee, além de uma possibilidade de ganhos financeiros e a descoberta de um talento, confeccionar os acessórios indígenas também funciona como terapia.

“É uma terapia para a gente. Não somente dinheiro. A gente se distrai, ocupa a mente com algo, para não ir para a rua e também não fazer nada de errado”, disse. “É ótimo ter uma associação para nos acolher. A Assotram acolhe as meninas e aqui (elas) se sentem em casa. Elas se sentem bem e acolhida”, acrescentou.

Falta oportunidade

A cabeleireira Juliana Oliveira, 44 anos, torcedora do boi Garantido, relatou que há um ano não consegue atuar na área. Segundo ela, falta oportunidade para mulheres trans e travestis e as poucas vagas que surgem, o “não” é a resposta dos empregadores. “Minha renda mesmo é por esse projeto. Não temos oportunidade. É difícil. Somos também gente e aqui temos a oportunidade de mostrar o nosso trabalho”, declarou. 

Juliana, assim como Emylee, também se descobriu artesã e agora vê um novo horizonte profissional.

“Agora me descobri artesã (risos). Antes eu não sabia nem onde comprar as pedrinhas. Agora vamos em frente. Já sei fazer brinco, colares, pulseiras, sabonetes, velas, tudo isso eu não sabia fazer. Meu plano futuro é confeccionar, ter meu espaço e vender para poder me sustentar. Ter o meu trabalho. Se Deus quiser a gente chega lá”, disse a cabeleireira. “A minha mãe nunca me abandonou. Toda a minha família me aceita e são maravilhosos comigo”, acrescentou.

Coleção TransAmazônida lançada pela Assotram também inclui sabonetes produzidos pelas artesãs (Foto: Jeiza Russo/AC)

Projeto Estrela Guia

A coleção TransAmazônida integra o projeto Estrela Guia da Assotram, contemplado pelo edital LGBTI+ Orgulho do banco Itaú. A assistente social, Joyce Gomes, presidente da associação, explicou que muitas trans acham que o mercado de trabalho é uma realidade distante.

“É um edital de empreendedorismo e geração de renda, que é um dos grandes gargalos que temos. Muitas meninas não se reconhecem como trabalhadoras. Acreditam que é uma realidade distante da população trans. Aqui fazemos um trabalho de fortalecimento”, disse a assistente social.

 “Algumas pessoas não tem nenhum vínculo empregatício, então é uma maneira de ter uma fonte de renda. Tem meninas que comercializam as próprias peças e vendem. E uma pequena cooperativa que vende tudo centrado na instituição”, complementou Joyce.

Joyce frisa que a ausência de oportunidade de trabalho formal para mulheres trans as coloca na prostituição. “A RedeTrans afirma que 82% das mulheres trans estão na prostituição e por múltiplos fatores, que as coloca na marginalidade e enxergam na prostituição uma válvula de escape. É mais uma imposição como única fonte de renda”, ponderou.

Joyce Gomes, assistente social e presidente da Assotram, também atuou como modelo para coleção TransAmazônida (Foto: Divulgação//Felipe Medeiros/Aurora Boreal Produções)

TransAmazônida foi lançada no último dia 3 de junho no perfil @assotram no Instagram. Encomendas podem ser feitas pelo (92) 99203-6357. Os preços variam de R$ 30 a R$ 120. Na confecção atuam oito pessoas, o projeto contempla 20 entre mulheres trans e demais membros da comunidade.

“Algumas pessoas não tem nenhum vínculo empregatício, então é uma maneira de ter uma fonte de renda. Tem meninas que comercializam as próprias peças e vendem. E uma pequena cooperativa que vende tudo centrado na instituição”, explicou Joyce.

Dados escassos

Os dados sobre o mercado de trabalho e a população LGBTQIAPN+ são escassos, e os poucos existentes apontam para altos índices de desemprego. De acordo com a Aliança LGBTI, durante o período da pandemia de Covid-19, a taxa de desemprego chegou a 40% e sobiu para 70% para transexuais e travestis.

A plataforma nacional #TransEmpregos, que encaminha pessoas trans para o mercado de trabalho, registrou uma variação negativa de -7% (1.040 mil) em comparação com 2022, ano em que 1.113 mil profissionais trans conquistaram uma vaga no mercado formal.

Confira a coleção

(Foto: Jeiza Russo/AC)

(Foto: Jeiza Russo/AC)

(Foto: Jeiza Russo/AC)

(Foto: Jeiza Russo/AC)

(Foto: Divulgação/Felipe Medeiros/Aurora Boreal Produções)

(Foto: Divulgação/Felipe Medeiros/Aurora Boreal Produções)

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