Açaí

Produtores e empreendedores de Codajás apostam na popularidade do açaí para atrair renda

Produtores e município comemoram avanços na produção do furto amazônico, mas ainda enfrentam gargalos para expandir negócios

Giovanna Marinho
giovanna@acritica.com
04/05/2024 às 21:18.
Atualizado em 04/05/2024 às 21:18

Os mais variados produtos feitos com a polpa do açaí foram expostos da 33ª Festa Cultural do Açaí de Codajás (Semcom/Codajás)

Filho de Moadir Braga, um dos pioneiros no beneficiamento de açaí, aos 75 anos, Moacir Braga nem lembra a primeira vez que provou o sabor do ouro negro da Amazônia. Nascido e criado em um seringal, na zona rural do município de Codajás (a 240 quilômetros de Manaus), onde o fruto nativo era amassado na gamela - um tipo de tigela de madeira -, ele vê o avanço da cultura ganhar novas perspectivas para exportação em uma plantação livre de desmatamento.

Assim como 1,2 mil produtores rurais do município às margens do Rio Solimões, o agricultor sempre teve no açaí boa parte do sustento da família.

No fim dos anos 60, um amigo do pai dele que morava na capital foi um dos primeiros amazonenses a adquirir um trio de despolpadeiras industriais. Um dos equipamentos foi parar em Codajás mudando a forma de venda do produto e  dando início a fama do pequeno município, hoje reconhecido legalmente como a Terra do Açaí. 

Se depender dos codajeneses, o açaí puro não é a única opção para os amantes do fruto (Semcom/Codajás)

 Nos anos 2000, Moacir decidiu seguir o caminho do pai, mas queria fazer algo diferente da concorrência que desmatava a floresta para cultivar as palmeiras.

“Eu ia fazer a mesma coisa no primeiro momento. Quando eu cheguei lá na nossa terra, no seringal, onde eu vi um monte de açaizeiro de onde tirava açaí todo o ano, já tinha cacho, e eu teria de derrubar, pegar filho [da palmeira], plantar, passar 8 a 10 anos esperando para dar fruto. Eu disse: eu vou mudar”, afirma o agricultor

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Preservação

E assim foi feito. Ele aproveitou a mata nativa, com as seringueiras, castanheiras e jatobás, para construir o futuro. Hoje, as palmeiras de açaí dividem os 20 mil hectares da propriedade com diversas outras espécies.

“Todo mundo de fora que vem no terreno vê que esse sítio é diferente, porque a matéria orgânica cobre a bota”.

Moacir prevê a colheita de 1 mil sacas de açaí para esse ano e o melhor disso tudo, segundo ele, é que com a conquista do Selo de Indicação Geográfica para Codajás e a organização dos produtores, o valor do produto só cresce abrindo horizontes inclusive no exterior.

“A minha vida financeira melhorou muito. Você imagina só a gente que saiu de uma coisa muito pequena, que só a gente conhecia, e hoje você vê um selo desse lá no Japão, Estados Unidos, União Europeia. Quando a gente espalhar nosso açaí, que é o melhor do mundo, não vai nem dobrar, va

i triplicar o preço”, comemorou o agricultor.

Boa safra

Mesmo com as previsões de seca para esse ano, a prefeitura de Codajás prevê que a safra seja quase o dobro do ano anterior, segundo o secretário municipal de Produção Rural, Francisco Brasil. Em 2023, mesmo com a perda de 70 hectares de plantação por conta das queimadas, 18 mil toneladas do fruto foram retiradas do município, para esse ano a estimativa é de que 32 mil toneladas do fruto sejam escoadas.

O secretário credita o aumento da produção ao acompanhamento dos produtores pelo município e pelo Instituto de Desenvolvimento do Amazonas (Idam).

Além disso, as condições para escoamento ganham novos contornos com a abertura de e pavimentação de áreas  estratégicas que devem ampliar a chegada de produtos até a sede.

“Hoje, Codajás está ligada a Anori pela estrada. Creio que até o outro ano vamos ter o asfalto para acesso ao municípios vizinho que também é produtor de açaí”, contou o secretário. 

Os mais variados produtos feitos com a polpa do açaí foram exportos da 33ª Festa Cultural do Açaí de Codajás (Semcom Codajás)

Gargalos

 Apesar dos avanços, a produção ainda tem limitações. Do total de produtores cadastrados, apenas a metade é assistida devido a extensão territorial do município e a carência de técnicos agropecuários e de agricultura para atender a demanda

O açaí produzido atualmente em Codajás é vendido para empresas como Bela Amazonas, Fruits, Norte Polpas e os 65 pequenos batedores que mandam polpas para a capital, além dos atravessadores.

O maior fluxo ainda é intermunicipal para Manacapuru e Manaus, seguido do Pará, mas há envio do produto beneficiado no município para o Brasil e exterior.

“Hoje temos a indicação geográfica, nosso açaí já é reconhecido mundialmente e hoje temos uma cooperativa do açaí e a indicação geográfica veio para somar com o produtor e agregar valor ao nosso produto e mostrar para o mundo que Codajás é a terra do açaí”, finalizou Francisco.

Mil e uma possibilidades

As mil e uma possibilidades do uso do açaí é o que move parte do empreendedorismo codajense. Marinelfas Bastos Peroti, 46, por exemplo, aproveitou a expertise na cozinha e o gosto particular por pimentas para criar um produtos autorais à base da fruta. Parte do que o marido produz no sítio vai para a panela e se transforma em molhos, geleias e frutas cristalizadas. O primeiro produto foi pensado para dar a cara de Codajás.

“Eu pensei: tem que fazer algo da terra. A gente tinha feito uma geleia de açaí. Eu cheguei em casa e tinha um prato de macarrão e a geleia estava em uma prateleira em cima e pensei: já pensou se isso ao invés de açúcar tivesse sal e uma pimenta?”, narrou Marinelfas.

Foi assim que ele criou o molho de  pimenta com açaí que logo chamou atenção dos clientes nas redes sociais e criou a marca Molhos da Mary. Merendeira concursada, ela e o marido mantêm os três filhos, que são atletas de vôlei, em Manaus, com o complemento da renda que vem das vendas. 

A confeiteira, Daiane Correa tornou-se especialistas em doces feitos com o ouro negro da Amazônia (Semcom Codajás)

Doce sonho

 A confeiteira, Daiane Correia Praia, 29, é uma especialista nos doces de açaí, chegando inclusive a fazer demonstrações no Rio de Janeiro. No cardápio não faltam opções deliciosas que vão de de brigadeiros de açaí, trufas de açaí com tapioca, pudim, mousse, até a pasta americana dos bolos.

“A minha ideia era levar o diferencial para a população experimentar, diferente do vinho que as pessoas estão acostumadas. Meu foco é montar uma loja de delícias de açaí para que as pessoas que vêm de fora visitar Codajás ir lá e experimentar”, conta a empreendedora.
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