Investimento obrigatório de empresas do Polo Industrial em P&D tem permitido o avanço de outra atividade, a bioeconomia
Casal formado por economista e técnica em química criou o Eurydice, o primeiro gin amazônico licenciado pelo Ministério da Agricultura para ser produzido no Amazonas (Divulgação)
Com a entrega do relatório sobre a Reforma Tributária à Câmara dos Deputados nesta semana, a discussão sobre complementos ou alternativas à Zona Franca de Manaus (ZFM) voltou à tona. Isso porque, no documento produzido pelo grupo de trabalho que analisou o tema, a manutenção da ZFM é citada como essencial para a região Norte, enquanto se avança "na construção de um novo modelo".
Economistas discordam sobre se novas atividades possuem força suficiente para substituir por completo o Polo Industrial de Manaus, mas fato é que já existem negócios em andamento. Aliás, há exemplos que estão sendo impulsionados justamente por financiamento de empresas da ZFM.
Fundada em 2020, a Da Cruz Destilados é a criadora do Eurydice, o primeiro gin artesanal produzido 100% no Amazonas. No ano passado, a produtora de bebidas se candidatou e foi selecionada para receber incentivos para diversificação do catálogo por meio do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), que já apoia 15 cadeias produtivas de atividades ligadas à bioeconomia, no Amazonas.
O projeto criado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) capta investimentos de empresas do Polo Industrial e destina a negócios ligados à bioeconomia. A transferência é baseada na obrigatoriedade de empresas que recebem incentivos fiscais da ZFM de investirem em Pesquisa & Desenvolvimento na região, conforme a Lei de Informática.
Com os incentivos por meio do PPBio, conta ele, o objetivo é diversificar o catálogo da companhia. Além do carro-chefe, o gin Eurydice, devem entrar no catálogo vodka, bebidas alcóolicas mistas, pré-mix para coquetéis e outros itens ainda em processo de licenciamento.
O mesmo acontece com as laranjas e limões, utilizados para dar um gosto cítrico à bebida. "A gente vai na Banca da Japonesa, no Mercado Adolpho Lisboa, e compra ervas aromáticas e assim produzimos o nosso gin", conta.
O objetivo maior, ressalta Daniel, é criar uma cultura de consumo de bebidas produzidas na região, fortalecendo não somente o mercado, mas também enaltecendo recursos naturais da Amazônia.
Instituído em 2019 pela Suframa, o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) já foi o intermediário para mais de R$ 84 milhões investidos em bioeconomia. O projeto é coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam). Quem explica é o gestor do programa, Paulo Simonetti.
Atualmente, estão sendo executados 24 projetos por meio do programa. Além disso, outros 14 já foram finalizados e há ainda mais de 400 cadastrados.
Conforme os projetos atualmente disponíveis para investimento no site do PPBio, os aportes vão desde R$ 500 mil a R$ 3 milhões. Os negócios variam de produtos amazônicos a projetos de turismo.
Para a diretora-executiva do Idesam, Paola Bleicker, além dos incentivos, uma das maneiras de oferecer suporte a projetos ligados à bioeconomia é consumir mais produtos com origem certificada da região.
O Idesam é a organização social que coordena o PPBio. Para Bleicker, a bioeconomia é o caminho para manter a floresta em pé e gerar renda para toda a cadeia do produto.
Ecológico
A técnica em química Fabíola Benarrós, que assina a fórmula do gin, diz que a produção é 100% ecológica. “A produção de bebidas tem esse problema de contaminação do lençol freático, mas tivemos essa preocupação desde o início. Não geramos resíduos e nosso álcool, o que fica, transformamos em álcool 70%”.
Michele Lins
Economista e doutora em Desenvolvimento Regional