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‘Prudência em excesso’, diz economista sobre queda menor nos juros

Anúncio de redução abaixo do esperado provocou críticas à diretoria do Banco Central

Lucas dos Santos
politica@acritica.com
09/05/2024 às 17:02.
Atualizado em 09/05/2024 às 17:02

Economista Denise Kassama (Foto: Arquivo / AC)

A economista amazonense Denise Kassama avalia que o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou prudência em excesso ao reduzir o corte da taxa básica de juros. Nessa quarta-feira (8), o comitê determinou queda de 0,25% na taxa Selic, com voto de desempate do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Apesar de ter apostado em uma queda de 0,50%, ela ressaltou que a decisão não foi unânime entre os membros da diretoria.

“Optaram pela prudência, talvez até em excesso, muito por conta do processo [eleitoral] nos Estados Unidos, que pode pressionar. Há uma tendência de risco também, considerando a questão do Rio Grande do Sul, que é um grande produtor agropecuário, e provavelmente depois dessas chuvas vai ter a produção bastante comprometida e pode incorrer em aumento de preços no mercado”, disse.

Ainda assim, de forma geral, Denise considerou que “toda baixa é interessante” e deve impactar positivamente em pessoas endividadas com cartão de crédito e bancos.

“Juros mais baixos estimulam o consumo, que é importante tanto para a indústria quanto para o comércio. Então, se o dinheiro está mais barato, estimula o consumo, o comércio vende mais, demanda mais da indústria, a indústria produz mais, entrega mais e gera renda para poder consumir mais. E aí a roda da economia gira. Está na hora do Brasil voltar a crescer e mostrar a potência econômica que ele representa”, concluiu.

Desempate

A decisão de cortar a taxa de juros em 0,25% ocorreu por voto de desempate. Por 5 votos a 4, o Comitê de Política Monetária (Copom) definiu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 10,5%. Essa foi a sétima vez consecutiva que o comitê reduziu a taxa. No entanto, a velocidade nos cortes diminuiu.

Por um lado, os diretores Ailton de Aquino Santos, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira – indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – votaram por um corte de 0,50%. Na outra ponta, os diretores Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes – indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – votaram por um corte menor de 0,25%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, deu o voto de desempate a favor dos diretores indicados pelo governo anterior.

Nas justificativas, o Copom informou que o cenário externo se agravou que a inflação subjacente, que elimina preços mais voláteis, está acima da meta de inflação. Além disso, o comunicado defendeu que o arcabouço fiscal aprovado no ano passado tenha credibilidade. Ao contrário das últimas reduções, o Banco Central não deu nenhuma indicação sobre o que fará nos próximos encontros.

Críticas

Entidades e políticos criticaram a decisão do Copom. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), chamou a redução desacelerada de “crime” e que não há nenhuma fundamentação econômica na aprovação.

“É um crime contra o país a decisão do Copom, de cortar apenas 0,25 ponto da maior taxa de juros do planeta. Não há fundamento econômico para isso e houve divergência de quatro diretores nessa decisão. A inflação está sob controle e em queda, o ambiente de investimentos melhora, os empregos também. O nome disso é sabotagem. Contra o desenvolvimento, contra o Brasil. Esta é a consequência da ‘autonomia’ do BC, que permitiu o prolongamento do mandato de uma direção bolsonarista, que faz política e oposição ao governo eleito pelo povo”, escreveu em suas redes sociais.

O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, também criticou a redução do Copom e disse que não há “nenhum argumento técnico que justifique”.

“É manifestação ideológica que prejudica o desenvolvimento e a geração de empregos. Seguimos trabalhando com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o setor automotivo, mas os juros precisam cair mais e mais rápido”, disse.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também repudiou a decisão, afirmando que ela é “incompatível com o atual cenário de inflação controlada e torna impraticável continuar o projeto de neoindustrialização do país com altos níveis de taxa de juros”.

“Reduzir o ritmo de corte na taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de empregos e renda”, disse Ricardo Alban, presidente do CNI.
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