Música

Amazonense Djuena Tikuna recebe o Prêmio Grão de Música

Pela primeira vez, em oito edições, a premiação conta com representantes dos povos indígenas entre selecionados

Lucas Vasconcelos
03/08/2021 às 11:00.
Atualizado em 09/03/2022 às 00:32

(Foto: Divulgação)

Com a canção “Paetaguruu Utuu” (O Som Sagrado), a jornalista, cantora e compositora amazonense Djuena Tikuna foi contemplada na oitava edição do Prêmio Grão de Música (PGM). Essa é a primeira vez que há presença indígena na premiação, dedicada à valorização e à promoção da música brasileira de todas as regiões do Brasil.

Além da cantora do povo Tikuna, a artista cearense Maria de Lourdes da Conceição Alves – conhecida como Cacique Pequena e considerada uma das primeiras caciques mulheres do País – compõe a lista de selecionados da edição. Ao todo, 15 artistas foram eleitos para receber o troféu do prêmio e participar da coletânea Grão de Música.

Em entrevista ao A CRÍTICA, Djuena comenta que se sente honrada em ter sua trajetória como artista indígena reconhecida. Para ela, o prêmio é um reconhecimento do seu trabalho e, ao mesmo tempo, símbolo de ocupação e resistência dos povos indígenas.

“Acho que, mais do que qualquer prêmio, é importante estar ocupando esse espaço que, por muito tempo, nós povos indígenas não podíamos participar. Então, enquanto artista que vem fazendo um trabalho de militância, principalmente em Manaus, é uma honra. Essa premiação não é só para a Djuena, mas para todos que envolvem meu trabalho, meu povo, meus parentes. É para eles que dedico essa premiação”, destaca.

A seleção de Djuena foi realizada após a audição do conjunto de sua obra. Entre as composições, a curadoria do PGM escolheu a música do álbum “Tchautchiüãne” (Minha Aldeia), o primeiro de sua carreira, lançado em 2017 no Teatro Amazonas. A música selecionada fala sobre os elementos sagrados que o povo Tikuna usa em manifestações culturais, como rituais.

“Todos os elementos que usamos nos nossos rituais têm seu significado, como o tambor, o chocalho, o avai (chocalho). O povo Tikuna, por exemplo, é dividido em clãs. Eu sou do clã da onça e ‘Djuena’ significa onça que pula no rio. Logo, o avai que uso na música tem a representatividade desse clã. A música fala sobre esses elementos sagrados”, descreve a artista.

PremiaçãoA cerimônia de entrega da premiação acontece no dia 23 de novembro, no Teatro D, em São Paulo (SP). Djuena receberá um troféu criado pelo artista visual Elifas Andreato (uma escultura em bronze maciço apoiada sobre uma base de mármore).

Junto aos outros 14 artistas contemplados, ela também participa da coletânea Grão de Música 2021, um CD de canções disponibilizado para o público no formato digital. O álbum com as faixas selecionadas está disponível no site oficial da premiação (https://premiograodemusica.com.br/).

“Vai ser muito importante receber esse reconhecimento e me conectar com os outros artistas que estão sendo premiados. Estou muito feliz. Espero que a gente, enquanto indígenas, ocupe cada vez mais espaços e que as pessoas possam ouvir nossas histórias. Que possamos ser os protagonistas dessa luta. Que a resistência seja através da arte, da música, da política, dando voz a quem por muito tempo foi silenciado”, comenta Djuena.

O PGM teve início em Salvador (BA), em 2014, por iniciativa da cantora e compositora paraibana Socorro Lira. O foco principal da curadoria é ‘garimpar’ e revelar talentos escondidos e fora dos circuitos habituais da música brasileira.

InternacionalNão é a primeira vez que Djuena é reconhecida pelo seu trabalho. O lançamento do álbum “Tchautchiüãne” (Minha Aldeia) – gravado no Teatro Amazonas com presença de público majoritariamente indígena – rendeu à cantora uma indicação ao “Indigenous Music Awards”, que acontece anualmente em Winnipeg, Canadá. Djuena foi a primeira artista indígena a representar a Amazônia brasileira na premiação.

“Quanto mais parentes indígenas participando e recebendo premiações, ficamos felizes por eles e por nós. Nossa luta é em coletivo. Não é só para o povo Tikuna, Sateré, Munduruku e sim para todos os povos indígenas do Brasil. É importante ter esse espaço, receber esses convites e prêmios como reconhecimento de todo um trabalho”, declara.

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