DIA DO ORGULHO NERD

Fãs falam sobre como é estarem inseridos no universo do anime, cosplay e K-pop

O ‘geek’ é pop: para eles, o preconceito não é maior que a influência positiva em suas vidas

GABRIELLY GENTIL
bemviver@acritica.com
25/05/2024 às 13:10.
Atualizado em 25/05/2024 às 13:13

Guilherme Lestat é produtor cultural da área geek (Reprodução/Instagram)

Os entusiastas da cultura ‘nerd’ e ‘geek’ são, além de fãs de tecnologia, jogos, animes, quadrinhos e afins, pessoas que incorporam suas paixões e interesses em suas vivências diárias. No Dia do Orgulho Nerd, celebrado neste sábado (25),  reunimos um fã de anime – animação produzida no Japão –, um cosplayer – representação de um personagem por meio de fantasias – e uma kpopper – pessoa que gosta do gênero K-pop – para falar acerca de suas inserções nesses universos. Para eles, trata-se de um estilo de vida que rompe barreiras e ultrapassa preconceitos.

O jornalista, produtor cultural e organizador de eventos Átila Simonsen fez o seu primeiro cosplay completo aos oito anos de idade, quando se vestiu de Fred Krueger (“A hora do pesadelo”). Há nove anos, ajudou a fundar o Conselho Jedi Amazonas (fã-clube oficial de Star Wars) e voltou com o cosplay de Darth Vader. “A gente cresce e o orgulho nerd continua para além da infância: coleções de quadrinhos, itens colecionáveis, máscaras e camisas sempre estiveram em meu armário”, diz ele.

Átila Simonsen ajudou a fundar o fã-clube oficial de Star Wars do Amazonas (Reprodução/Instagram)

 Átila se constrói e alicerça no mundo ‘geek’ desde sempre: tem um talkshow sobre matemática, é influencer do Multiplex Cine Araújo, líder de comunidade da Campus Party, trabalha e realiza eventos nerds e vive cercado de referências. “Eu sou Um com a Força e a Força está comigo”, declara.

“Eu literalmente vivo desses eventos da temática ‘geek’. Minha segunda fonte de renda é o meu propósito, para mim e para os meus um sentimento de pertencer, de saber que há iguais e que podemos nos reunir (virtual ou presencial) para celebrar nossas paixões”, acrescenta o produtor cultural.

Ele inclusive lamenta por quem considera esse um estilo de vida “infantil”. “Tenho pena de pessoas que ainda pensam assim, pois não têm empatia de ver alguém feliz sendo quem é (e sim, isso vale pra tudo): ou levam a vida a sério demais ou invejam quem é livre. E são ingratos, porque toda a tecnologia foi pensada e realizada por um nerd, da internet a grandes construções arquitetônicas, viagens espaciais e no nosso dia a dia. Você sabia que o lápis foi criado porque na lua não tem gravidade o suficiente para descer a tinta da caneta? O mundo ‘geek’ é ‘tech’ e agora é pop, e não tem nada de errado nisso”, pontua Simonsen.

‘Na moda’

A cultura oriental influencia 100% o lado profissional e pessoal do produtor cultural da área ‘geek’ Guilherme Lestat. Ele começou a consumir animes, ainda na infância, totalmente em japonês e sem legendas. Hoje em dia trabalha com esse universo (@casageek42) e tem uma banda que toca somente músicas de animes e geek (@bandakyuubi).

“Como produzo estes tipos de eventos é gratificante ver o público de todas as idades curtindo aquilo que você fez com todo carinho pensando neles, de fã para fã. E o melhor é ver não somente os jovens, mas também famílias indo prestigiar, num ambiente alegre, pacífico e sem confusão”, declara Lestat. 

No entanto, apesar de citar o ambiente saudável, o produtor ainda lamenta o preconceito envolto nesse universo. “Ainda existe preconceito, principalmente de pessoas que não entendem que esta é uma forma de se divertir, extravasar e viver. Assim como quem não entende têm seus gostos particulares, o ‘geek’ também tem os seus, basta somente respeitar”, diz ele. 

“Já fui considerado de maneira negativa como ‘nerd’, mas hoje em dia o ‘nerd’ é pop, tá na moda, é impossível não encontrar alguém que não curta ao menos algo, mesmo que indiretamente. Difícil sair na rua e não esbarrar com alguém de qualquer idade usando uma camisa de animes, heróis e K-pop”, acrescenta. 

Enfrentando os preconceitos

O primeiro contato da jornalista Amanda Postigo com o gênero K-pop foi por volta de 2016, quando assistiu ao clipe da canção “Fire” do BTS. A partir disso, ela começou a seguir o grupo coreano nas redes sociais, acompanhar as músicas, os lançamentos e tudo mais sobre o BTS. Foi quando virou Army (fã do grupo musical). 

Postigo passou a acompanhar o K-pop e a assistir K-dramas, e durante a pandemia também começou a colecionar cards e álbuns do BTS – além de ir a eventos e festas do gênero em Manaus. No começo, a família estranhou. 

“Eu sempre fui fã de boy bands como a One Direction e o 5 Second of Summer, então quando comecei a acompanhar o BTS acharam estranho no início porque era algo pouco divulgado ainda, não eram conhecidos mundialmente. Então questionavam ‘por que você gosta disso?’. Teve muito aquele choque cultural das roupas deles, danças, músicas e performances, como eles pareciam ‘afeminados’ (por causa da cultura e etc.). Então foi meio difícil explicar tudo isso, mas depois começaram a aceitar. Sobre apoiar, meio difícil”, lamenta. 

“No início tinham muitas piadinhas sobre eu gostar deles, sobre acompanhar e me emocionar com as músicas e etc. As pessoas acham estranhas essas diferenças, estão acostumadas com ‘boybands’ e artistas com influência europeia e estadunidense, então ver os grupos de K-pop gerou esse preconceito e eu, por gostar deles, sofri com isso. Eram sempre aquelas frases tipo ‘olha a cara deles, parecem mulheres assim; tu entende o que eles dizem?’, além de outras frases preconceituosas”, complementa.

No entanto, a jornalista não se deixou abater, acima de tudo, pela influência que o K-pop tem na sua vida. “São quase nove anos inserida nesse gênero até agora, e é meio difícil pensar em mim sem essa influência. Posso dizer que as músicas, a linguagem e a cultura muito diferentes da nossa me fizeram ter mais curiosidade, a querer saber mais sobre o País, sobre sua história e costumes sociais e políticos”, conclui Postigo.

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