LEGIÃO VERMELHA

Multidão vermelha e branca toma as ruas de Parintins na Alvorada do Boi Garantido

Nem a chuva que caiu ao longo da madrugada desanimou os brincantes do boi da Baixa do São José que ao longo do percurso de, aproximadamente, três quilômetros cantaram toadas pelas ruas da cidade

Robson Adriano
online@acritica.com
01/05/2024 às 11:33.
Atualizado em 01/05/2024 às 11:33

Festa do Boi Garantido tomou as ruas de Parintins durante a madrugada desta quarta-feira (Foto: Junio Matos)

Parintins - O sol clareou o céu desta quarta-feira (1º) e anunciou o fim da Alvorada Vermelha do Garantido, em frente à Catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins (distante 369 quilômetros em linha reta de Manaus). Nem a chuva que caiu ao longo da madrugada desanimou os brincantes do boi da Baixa do São José que ao longo do percurso de, aproximadamente, três quilômetros cantaram toadas pelas ruas da cidade.

Por volta de 5h30, os fogos anunciam a chegada do boi Garantido e acompanhado dos vaqueiros passa no meio da multidão que param para fazer fotos e passar a mão no rosto do bovino. Os vaqueiros se organizam na praça da igreja, abrem um círculo e o Garantido começa uma evolução que fecha com a alvorada do dia. O trio com Israel Paulain, Sebastião Jr e David Assayag passa na avenida Amazonas ao som de “Anunciei Boi na Cidade”.

Após o fim do show dentro do Curral Lindolfo Monteverde, na Cidade Garantido, os torcedores saíram em caminhada na direção do primeiro curral, chamado de Curralzinho, onde o trio e a batucada aguardavam o momento da saída. Novamente a tradicional contagem é feita e a multidão acompanha as toadas. Os triciclos são como ilhas onde os brincantes se reúnem para pular e abastecer com já conhecido 3 por R$ 10.

Ao longo da rua Lindolfo Monteverde, moradores antigos do bairro aguardavam o boi Garantido passar. Como a aposentada Raimunda Cimas, 85 anos. Vestida com à caráter para a festa, ela enfeitou a casa com bandeirolas e um estandarte na janela para ver o boi passar. “Eu lembro da época quando era aqui no antigo curralzinho. Os torcedores dos dois bois não podiam se encontrar senão era briga”, relembrou. 

Ana Rita Cimas e Raimunda Cimas, torcedoras do Boi Garantido (Foto: Junio Matos)

Ela e a filha, a autônoma Ana Rita Cimas, 50 anos, esperam todos os anos o Garantido passar na rua.

“O sentimento não tem explicação. É um amor que não se explica. Estamos debaixo da chuva e só o Garantido faz isso. E o Garantido faz pra gente. Ver essa multidão aqui é um sentimento inexplicável. É um amor pelo nosso boi. É algo que a gente sente por essa festa, só quem vive e mora aqui sabe o que é”, disse.

A aposentada Rosa da Silva, 73 anos, também aguardava o boi Garantido passar.

“Nasci e me criei na rua. Eu morava quando criança com a minha avó, dona Catita, e ela só dormia depois que o boi saia na rua. Ele saia na véspera do Dia de Santo Antônio e ia até a rua da casa do Farinha e voltava. Quando o meu tio vinha, ela abria a porta para ver a batucada passar e só então ela dormia. Lembro disso”, relembrou.

Rosa da Silva (à direita), torcedora do Boi Garantido (Foto: Junio Matos)

Sentada em uma cadeira de madeira, a aposentada Maria do Carmo Ribeiro, 65 anos, esperava o momento do boi passar. Ela é irmã mais velha de Denilson Piçanã, tripa do boi Garantido. A jornalista Valeria Melo, 26 anos, explicou que após a morte de Nazareth Matos, 81 anos, mãe de Maria do Carmo, em 2014, Piçanã dança em frente a casa todos os anos.

“Depois que a mãe dela faleceu passamos a arrumar a casa para que o Piçanã possa continuar a tradição que ele fazia com a mãe dele, a dona Nazareth, em memória. A gente ornamenta a nossa casa. Até porque a gente está no nosso núcleo. Estamos na baixa onde tudo começou”, explicou. “A Alvorada é uma tradição que acalenta o coração. É um pé dentro do bumbódromo. Alvorada é isso: emoção e tradição”, disse Valeria.

Raimundo Rocha, 58 anos, reuniu os amigos em casa para festejar a Alvorada do Garantido.

“O boi começou uma brincadeira e agora é uma atividade e uma referência da cidade para o Brasil. A nossa cultura indígena, nossa história, ritmo, música e isso é muito legal. Virou uma atração nacional. A festa do boi é muito importante para o município e também uma forma de valorizar a nossa identidade e cultura”, frisou o homem.

 A festa também tem espaço para os mais jovens torcedores. O atleta Gabriel Junior, 22 anos, acompanhado de um grupo de amigos retornou para uma segunda Alvorada.

“A primeira vez foi incrível. Sensacional. Já é prelúdio do festival. É a minha cultura. Eu sou daqui. A gente vê e rever e não cansa de brincar. Isso aqui é brincar de boi e isso aqui é ser Garantido”, disse.

Gabriel Júnior (de preto) e amigos, todos apaixonados pelo Boi Garantido (Foto: Junio Matos)

Com uma tiara de corações na cabeça, a artesão Joice de Souza, 45 anos, disse que todo ano participar do evento.

“Para mim é maravilhoso. Todo o ano eu tô aqui linda e maravilhosa. É uma forma de eu conseguir recursos também e uma renda extra com o artesanato”, disse. “Eu sou Garantido e estou confiante na vitória. O Garantido é povão, é maravilhoso. É perreché e eu sou da Baixa”, acrescentou.

Joice de Souza, torcedora do Boi Garantido (Foto: Junio Matos)

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