Esportes

Operário lança uniformes inspirados em suas origens

Clube de Manacapuru nasceu no bairro Terra Preta e teve trajetória vitoriosa no futebol amador

Deyvid Jhonatan
online@acritica.com
21/01/2023 às 20:37.
Atualizado em 21/01/2023 às 20:37

(Foto: reprodução)

Profissionalizado em 2009, o Operário disputa este ano apenas o seu quinto Barezão, divisão de elite do futebol amazonense. Fundado em junho de 1982, o clube de Manacapuru, é um dos mais tradicionais da atual edição do estadual, atrás de Nacional (110 anos), Rio Negro (109 anos) e do rival Princesa (51 anos).

Ciente de seus 40 anos de existência, o Sapão da Terra Preta vem apresentando um trabalho que vai além da busca pelo título. Através da valorização de suas raízes, que vai desde o orgulho de sua origem ao uso massivo do talento local, o clube cria um sentimento de pertencimento com seus torcedores e colaboradores.

O mais recente movimento neste sentido foi a divulgação oficial dos uniformes da equipe para esta temporada. Tanto a camisa preta quanto a branca foram produzidas por jovens que, na época, apenas estavam apresentando um trabalho de primeiro período para o curso de design gráfico da Uninorte. Porém, as referências utilizadas por Mateus Costa e Sanderson Renan acabaram chamando atenção, fazendo com que a direção do Operário adotasse o projeto.

"De começo, a gente analisou bastante o que poderia ser botado em prática. Fizemos algumas idéias, mas nada nos agradou. Então resolvi pesquisar mais sobre a história do clube", diz Sanderson, 21, que é natural de Manacapuru e é o idealizador do uniforme preto, que faz referência aos grafites presentes no Campo do Riachuelo, uma das praças desportivas por onde o Operário triunfou em suas disputas de torneios amadores.

"Tive a ideia de utilizar grafites na estampa da camisa, por conta da época em que o Operário era um clube amador e teve bastante sucesso. Dentre os locais onde eram realizados os jogos, um em específico me chamou a atenção, que foi o Campo do Riachuelo. Atrás do gol existem vários grafites e a tinta das listras no meio da camisa representam as cores do clube, que é detentor de muitos títulos do futebol amador".

Terra Preta

Bem mais antigo que o nascimento do Operário é a origem do bairro Terra Preta, com mais de 200 anos de fundação. A chamada 'Terra Preta', na língua tupi-guarani, significa 'terra onde índio habitou' e, no final do século 18, os Muras eram os habitantes da região. Não à toa, o escudo do clube carrega três cores simbólicas: preto, significando a cor da terra; vermelho, simbolizando o sangue dos Muras; e branco, representando a paz.

Mateus Costa, 19, é natural de Manaus e é o responsável pelo manto branco do Sapão, que faz referência aos Muras. Nas palavras do jovem, a ideia era aplicar conceitos que dessem sentido a história do Operário, mas mantendo os traços do uniforme tradicional.

"Pesquisando sobre a história da área, encontramos a origem da Terra Preta, do porquê ela era chamada assim e a história dos índios Muras, que eram da região e que posteriormente veio a se tornar a área onde o Operário se criou. Com a ideia dos índios Muras, pensamos em como iríamos aplicar isso na camisa".

"Assim, houve a modernização da listra já existente ao centro, em formato triangular e de flecha, lembrando uma forma mais forte e a adição de uma padronagem semelhante às dos indígenas locais. Mesmo não sendo as mesmas dos Muras, são inspiradas neles, criando o conceito de um uniforme visando a origem da Terra Preta e valorizando a cultura de Manacapuru", detalha.

O trabalho foi apresentado em junho de 2022, coincidindo com a época em que o Operário completou 40 anos. Mateus explica que o primeiro contato com a direção do Sapão foi para pedir autorização do uso da marca do clube - obtida com o diretor Félix Coelho. O jovem se diz satisfeito com o resultado, mas reconhece que não esperava ver o trabalho sendo abraçado e comercializado.

"Com a finalização do projeto, apresentamos os resultados para o Félix, que entrou em contato conosco para ver se nós queríamos continuar produzindo para o Operário. Eu não imaginava, mas depois de ver o projeto pronto, é muito bom ver que as pessoas estão gostando do que foi feito".

Sanderson, por outro lado, confirma que inicialmente não esperava tal êxito, mas que com o passar do tempo, esperava que o projeto tomasse a proporção que tomou.

"De começo eu não imaginava que ia tomar essa proporção, mas conforme o clube abraçou a ideia e ela foi sendo desenvolvida do ano passado até aqui, mudei de ideia. Era apenas um pequeno projeto mas a gente foi além".

Originalmente, o grupo que participou do trabalho para a faculdade foi composto por Sanderson Renan, Mateus Costa, Bárbara Lana e Arthur Carvalho. Citado por Sanderson e Mateus, o diretor do Operário, Félix Coelho, conversou com a reportagem sobre a ideia encabeçada pelos dois jovens que, após o projeto, participaram dos ajustes finais no uniforme do clube. 

"A equipe de universitários nos procurou para usar o Operário para a realização de um projeto da faculdade. Fizemos algumas reuniões online, eles nos fizeram várias perguntas sobre o clube e, ao final, após a apresentação do projeto, dois deles se dispuseram a continuar nos auxiliando sobre trabalhos envolvendo design e identidade visual. As camisas apresentadas, basicamente, são parte do projeto que eles apresentaram no projeto da faculdade, salvo alguns pequenos detalhes".

Fartura

A celebração da fartura é algo que faz parte da tradição dos Muras, índios guerreiros que lutaram contra a colonização portuguesa. No caso do Operário, a fartura vem dos talentos nascidos em Manacapuru, que vão desde Marcelinho, capitão e mais experiente atleta do elenco, até Raylison, mais novo entre os jogadores da equipe principal.

"Ano passado, devido a um imbróglio, não pudemos participar do Amazonense Sub-19 e vimos boa parte da nossa base brilhando no rival. Isso nos deixou felizes, vê-los mostrando um bom futebol, mas tristes por não poder estar com eles. Inclusive, no último treino coletivo que fizemos com a base sub-20, o professor Ademilson solicitou que três atletas fossem integrados à equipe principal", diz Félix, que também cita o apoio de empresas locais no atual trabalho do clube, fortalecendo a ideia de que o senso de pertencimento é real.

"No Operário, há lugar para todos, seja como patrocinador/investidor, seja como torcedor, seja como designer, onde o próprio Sanderson Renan é prova disso e assim vamos seguindo. A gente fala em nossas reuniões que não viemos tomar o lugar de ninguém, apenas estamos buscando nosso espaço e essa busca envolve o município, a cultura, o povo, etc.".

"Entendemos que nossa maneira de trabalhar contribui muito para que os empresários encontrem, no Operário, a confiança e a seriedade que buscam. A gente já pegou muito 'não'. Hoje, vemos empresas nos procurando para investir no clube e sempre dizemos: há lugar para todos, especialmente se for empresa local. E olha que hoje temos uma empresa de Manaus, com a logo estampada na camisa do Operário, hein!", finaliza o diretor.

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