ESPECIAL

Fator geográfico destaca AM na rota do tráfico internacional de drogas

Rota mais utilizada para transportar o entorpecente é o rio Japurá, que nasce na Colômbia

Filipe Távora
26/12/2020 às 16:47.
Atualizado em 09/03/2022 às 10:58

(Foto: Divulgação)

A Amazônia é uma das principais rotas de transporte de entorpecentes da América Latina. Isso se dá por um fator geográfico: a tríplice fronteira amazônica, formada pelas cidades de Tabatinga (Brasil), Santa Rosa (Peru) e Letícia (Colômbia). Enquanto que produtores peruanos levam cocaína ao Amazonas, a Colômbia é a maior produtora de skunk da América Latina.

Segundo o delegado Paulo Mavignier, do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), o skunk é o ‘carro-chefe’ do tráfico. 

“O skunk é uma super maconha, alterada em laboratório, que trouxe uma rentabilidade muito alta ao crime”, disse o delegado. Atualmente, a rota mais utilizada para transportar o entorpecente é o rio Japurá, que nasce na Colômbia e banha o Amazonas.

Embora seja a principal rota de escoamento do tráfico peruano e colombiano ao Brasil, o Amazonas não apresenta muito perigo no tocante à produção de drogas.

“O Amazonas é um corredor, uma rota de passagem dos dois maiores produtores de drogas da América Latina”, afirmou Mavignier.

Segundo Mavignier, a forma de combate ao narcotráfico da Denarc amazonense é diferente das divisões de outros estados do país. No Amazonas, devido ao fato de 90% das rotas do tráfico serem fluviais, as equipes policiais utilizam lanchas durante as operações de abordagem aos criminosos. “No resto do país, as vias do tráfico são terrestres”.

Piratas

Embora haja uma relação de benefício mútuo entre produtores de drogas, transportadores e facções, há um quarto grupo de criminosos atuantes nos rios amazonenses.

Os piratas são ribeirinhos cujo padrão de ação envolve o ataque a transportadores de drogas. “Eles roubam as armas, drogas e gasolina das embarcações utilizadas pelos transportadores e depois os matam”, disse Mavignier.

O conflito armado entre piratas e transportadores costumava acontecer no ponto de interseção dos rios Içá, Solimões e Japurá, principais rotas de transporte do tráfico no estado.

Após negociarem com produto res de entorpecentes, o conselho de facções enviava traficantes, por meio de lanchas, até Tabatinga, município fronteiriço de Santa Rosa (Peru) e Letícia (Colômbia).

Em posse das drogas, os traficantes voltavam a Manaus, pelo rio Solimões, e, ao chegarem às redondezas de municípios como Alvarães, Tefé, Coari ou Codajás, sofriam o ataque dos piratas.

“Esse conflito virou um problema crônico para o Denarc. Esperávamos o carregamento de drogas descer, pelo Solimões, e, antes de interceptá-lo, ele acabava roubado por piratas. Além disso, eles também assaltavam embarcações de civis e aterrorizavam as comunidades próximas ”, afirmou Mavignier.

Segundo o diretor do Denarc, o ataque dos piratas a transportadores de drogas, que atrapalhava as operações de apreensão do Denarc, diminuiu com o lançamento da Base Fluvial Arpão, inaugurada em agosto deste ano, com o objetivo de dar suporte a operações policiais de combate ao narcotráfico no Amazonas.

Fixada no município de Coari, a embarcação atua no rio Solimões. “O principal intuito da base Arpão foi atingido: estrangular a atuação dos piratas”, disse o delegado.

A população pode realizar denúncias, anonimamente, à polícia por meio do disque-denúncia 181.

Grande apreensão de drogas

Em setembro de 2020, a polícia apreendeu meia tonelada de skunk, avaliada em R$ 2,5 milhões, no município de Japurá, distante 744 quilômetros de Manaus.

Os entorpecentes foram oriundos da cidade colombiana de La Pedreira e tinham como destino Manaus e estados do restante do país. Os transportadores dos entorpecentes conseguiram fugir antes que fossem capturados pelas equipes policiais.

Três piratas morrem em confronto

Em agosto de 2020, uma operação conjunta da Base Arpão e das Polícias Civil e Militar de Coari resultou na morte de três piratas. 

Um dos mortos foi Jardel Pinheiro Gomes, 19, conhecido como “Kael”, suspeito de estuprar e esquartejar a turista britânica Emma Kelty, 43, em setembro de 2017, em Coari.

Os outros dois mortos foram: Ronaldo Magalhães, 18, e Thiago Santos Rios, de 17 anos. Uma troca de tiros ocorreu entre os piratas e os policiais, quando os agentes chegaram à casa de um deles e foram recebidos a tiros, segundo a Secretaria de Estado de Segurança (SSP).

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