Aniversário

A Crítica 75 anos: fatos viram história no maior jornal do Amazonas

Há 75 anos, jornal fundado por Umberto Calderaro registra o cotidiano político, social, cultural e econômico do Estado

Waldick Júnior
waldick@acritica.com
19/04/2024 às 08:39.
Atualizado em 19/04/2024 às 12:07

Biblioteca Pública do Amazonas mantém acervo de 35 mil exemplares de A CRÍTICA para consulta da população. O jornal é o único que ainda envia todas as suas edições (Foto: Waldick Júnior)

Em mais de sete décadas de circulação no Amazonas, o jornal A CRÍTICA imortalizou uma série de acontecimentos em suas páginas. Se para alguns o impresso é mídia ultrapassada, para outros, os jornais ainda têm uma relevância e credibilidade difícil de ser combatida por outros meios de comunicação.

Como parte de uma série de reportagens para marcar os 75 anos do jornal A CRÍTICA, nossa equipe foi até a Biblioteca Pública do Amazonas, onde são guardadas como documento histórico as edições de A CRÍTICA que circularam desde 1949 até hoje. É neste espaço que a importância do periódico ganha ainda mais evidência.

“Temos cerca de 115 títulos no nosso acervo e o A CRÍTICA é, com certeza, o mais procurado pelos pesquisadores, que são nosso principal público. Isso acontece devido ao fato de o jornal ter uma linguagem mais direta e também porque é o título com mais edições catalogadas aqui no acervo”, comenta a bibliotecária responsável pelo espaço, Pâmela Souza.

Nesta sexta-feira (19), a Biblioteca do Amazonas inaugurou uma exposição temporária para marcar os 75 anos do jornal A CRÍTICA, completados no mesmo dia. Foram dispostas para o público capas históricas do periódico, dentre elas, as que marcaram os aniversários de 10, 25, 50 e 60 anos do jornal. A entrada é gratuita.

Tão importante é o registro dos fatos feito nas páginas do jornal que o acervo de periódicos da Biblioteca possui dois estagiários do curso de História trabalhando no cuidado com os arquivos e recebendo o público que visita o espaço em busca de informações datadas.

Para o estagiário Jhonatan Castro, aluno da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os jornais continuam sendo uma fonte essencial para a obtenção de informações que não estão disponíveis em outro lugar.

Jhonatan Castro, aluno da Universidade Federal do Amazonas (Foto: Waldick Júnior)

 “O jornal serve como uma fonte primária justamente por ser um ponto de partida para pesquisa. Entender o jornal como fonte histórica é compreender que ele dá noções sobre contexto, política e cultura de determinada época. Existem pesquisadores que vêm aqui para consultar jornais de décadas sobre as quais não têm tanto registro na internet ou em outras fontes”, comenta ele.

A busca por informações não se limita ao campo da pesquisa. Jhonatan conta que uma de suas memórias mais especiais cuidando dos jornais foi quando uma mulher trouxe a filha, que havia acabado de passar no vestibular, para procurar uma edição de A CRÍTICA que trouxe o nome da mãe como aprovada no vestibular décadas antes, no ano 2000.

“Foi muito emocionante. Quando nós encontramos a edição, ela ficou impressionada, porque achou que não conseguiríamos. Ela mostrou o nome para a filha e chorou, feliz. Foi muito bonito de ver aquele momento”, relembra.

 Filtro

 Na visão do também estagiário de História da biblioteca e aluno da Ufam, Rafael Segadilha, é comum que as pessoas entendam o jornal como uma reprodução fiel do momento no qual foi publicado. Para ele, um periódico possui visão própria e defende uma ideia. 

Rafael Segadilha, estagiário de História da biblioteca e aluno da Ufam (Foto: Waldick Júnior)

 “O jornal registra o que acontece a partir de uma visão, uma ideia. É interessante as pessoas pensarem que o jornal é a representação de uma época, mas não é, necessariamente. O próprio A CRÍTICA nasce como um caderno de O Jornal, que não circula mais. Naquele época, o Umberto Calderaro escrevia para O Jornal e, por vários motivos, talvez até diferenças de ideias, ele acaba fazendo algo próprio, o A CRÍTICA, onde vai mostrar sua visão, suas ideias”, afirma.

Assim como seu colega Jhonatan, o estudante Rafael tem a sua própria história sobre a importância do impresso. Um momento que lhe marcou foi quando uma mulher visitou a biblioteca para procurar uma foto da qual ela só tinha uma vaga lembrança. A história era curiosa, mas verdadeira: queria o registro de quando apertou a mão de um príncipe inglês.

“Ela disse que havia trabalhado como Gari em 2009, no ano em que o príncipe Charles, da Inglaterra, veio a Manaus, e que tinha saído uma foto dele, no jornal, com garis. Ela estava na foto e chegou a aparecer apertando a mão dele. A gente encontrou esse registro no A CRÍTICA e ela ficou muito feliz, chorou mesmo”, afirma ele.

 Credibilidade

 Para a estudante de jornalismo da Ufam, Liandre Coutinho, mesmo com a possibilidade de a população obter informações por outros meios, os jornais impressos continuam tendo a sua própria relevância.

(Foto: Waldick Júnior)

 “Como estudante de jornalismo, aprendi que o Amazonas não é um estado homogêneo. O cenário, seja socioeconômico ou político, é bem diversificado, mesmo na capital. Por isso, os jornais impressos são essenciais para muitas pessoas. Além disso, estas publicações contam com uma credibilidade difícil de contestar”, comenta a jovem.

Liandre destaca ainda que entende o jornal como uma maneira de fazer registros para posteridade. “Inclusive, existe certa magia em folhear as páginas de edições antigas. É quase como viajar no tempo, na história do nosso estado. Os principais assuntos, as grandes personagens, ou até mesmo os eventos aguardados e as reivindicações de cinquenta anos, setenta anos atrás … Está tudo registrado nos jornais”, destaca.

 Tecnologias

 Doutora em Processos Socioculturais na Amazônia, a jornalista Ivania Vieira afirma que os jornais, em especial A CRÍTICA, ainda são importantes para que se busque por respostas por inquietações da sociedade.

“Por que continuamos, em muitas áreas, convivendo com padrões do subdesenvolvimento? Por que a Natureza amazônica é apreciada em cartões postais impressos e em plataformas virtuais enquanto a Amazônia é cenário de ecocídio?  As páginas de A CRÍTICA  podem oferecer respostas e impulsionar outras atitudes tanto para os rearranjos dos acordos, do poder e da manutenção desse estado  quanto à superação da subserviência e à transformação real do Amazonas”, sugere.

Para além da importância dos periódicos, Ivania reconhece o processo de crise pelo qual os jornais estão passando. Ainda assim, compreende que o contexto não impede a continuidade desse tipo de jornalismo em um novo ambiente, o digital.

“As crises porque passam os impressos, com decretação do fim de muitos jornais e reconfiguração de outros tantos, a partir da internet, não impedem as formas adotadas de registrar os acontecimentos. Eles estão aí, sendo contados todos os dias, por enquadramentos da interlocução pretendida,  e, agora, com atualizações diárias”, ressalta.

Em uma reflexão sobre o papel de A CRÍTICA, Ivania diz que o periódico está enraizado historicamente na cultura socio-política-econômica do Amazonas, trazendo os valores de diferentes grupos que formam a sociedade amazonense. 

“Em cada edição os valores dos humanos e não humanos, das elites locais, do empresariado, dos trabalhadores, das mulheres, das juventudes e das infâncias, dos sujeitos da Natureza estão impressos e podem, a qualquer momento, ser buscados como subsídios às reflexões críticas a partir desse território jornalístico”, pontua.

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