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Operação no sul do AM gera onda de fake news

Redes sociais da extrema direita distorceram sanções aplicadas pelo Ibama a propriedades de pecuaristas que causaram queimada

Giovanna Marinho
07/04/2023 às 09:43.
Atualizado em 07/04/2023 às 09:43

(Foto: Divulgação IBAMA)

 A possibilidade de apreensão de gado em cinco municípios do Sul do Amazonas despertou uma onda de desinformação nas redes sociais. “Implantação do Comunismo”, “Venda da Amazônia para a China” foram algumas das fake news divulgadas nas redes sociais que fomentam o caos e alimentam redes da extrema direita. 

A situação perdura desde a semana passada, quando fazendeiros da região foram notificados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) a retirar o gado de terras embargadas pelo União em 5 dias, a contar da data de notificação. Os cerca de 500 mil bois precisariam ser transportados às áreas autorizadas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e caso a determinação não fosse cumprida a ordem era apreender os animais.

A comoção que tomou conta dos municípios ao Sul do Estado levou o governador Wilsom Lima (UB) a se reunir com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, na quarta-feira. No encontro, segundo ele, foi possível esclarecer pontos sobre a questão e criar um plano de ação integrada para avaliar individualmente as notificações e necessidade de cada pecuarista. 

“Corria muita notícia e fake news e foi o que causou uma animosidade naquela região de que seria todo o gado e todo mundo seria afetado, e não é bem assim. Mesmo aquelas áreas que foram notificadas e que tem a determinação judicaial, me garantiu o presidente do Ibama que também vai dar o prazo necessário para que se essas pessoas tem o prazo necessário para que se essas pessoas têm a titularidade da terra ou documentação que possa apresentar ou buscar a justiça para garantir seus direitos”, garantiu o governador. 

 Desinformação

 Em um dos vídeos que circulam em redes de extrema direita é um exemplo disso. Nele o influenciador Júnior Japa tenta conectar a retirada da gado das áreas embargadas às negociações entre Brasil e China. Em 10 minutos de vídeo, o influenciador foca principalmente em abordar manchetes negativas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O título do vídeo é “Clima tenso no Amazonas - Lula manda PF e Exército desapropriar terras de fazendeiros”.

A situação no Sul do Amazonas, no entanto, fica em segundo plano, com falas desconexas e desinformativas. Uma das mídias usadas pelo influenciador para justificar a fala teria sido publicado em uma conta do Twitter que sequer existe. Na falsa publicação, há uma mulher chamada Jakelyne Loyola afirmando que a retirada do gado das terras tinha relação com a documentação das terras, que estariam regulares. 

A questão no Sul do Amazonas, no entanto, não é ligada a problemas de documentação, e sim com o aumento em escala do desmatamento das áreas. O embargo, conforme o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMbio), é uma sanção administrativa e/ou medida administrativa cautelar que tem por objetivo propiciar a regeneração do meio ambiente e dar viabilidade à recuperação da área degradada. 

 Queimadas

 Nos últimos anos, a degradação na região vem aumentando. Em 2022, por exemplo, o Município de Lábrea registrou 4.324 focos de incêndio, sendo o 4° município do país. Na sexta posição, Apuí registrou 3.155 fogos de incêndio. Manicoré ocupa a 13° posição com 1.597 focos incêndio.

Outra publicação que circula nas redes sociais é de um vídeo divulgado no Tik Tok. Na publicação, aparecem imagens de um rebanho sendo transportado e em seguida um homem que diz se chamar Dario do Agronegócio convoca a população de Manicoré para “a guerra contra o comunismo”. No Instagram Dario se coloca como “pré-candidato ao governo do Amazonas”.

“A implantação do comunismo começou. Vai ter guerra. O povo não vai aceirar”, diz ele em um trecho. 

Em resposta à reportagem, a Secretaria Municipal de Agricultura, Produção e Abastecimento disse que aguarda uma resolução do Ibama sobre a situação, mas assegurou que até o momento nenhuma cabeça de gado foi apreendida e que a operação tem o intuito de zerar o desmatamento na área. 

 Negociação

 O município possui o maior número de notificações por embargos despachados para o Distrito de Matupi. O titular da pasta, Luciano Melo, disse que conversou com a Superintendência do Ibama no Amazonas e recebeu uma sinalização positiva para que haja negociações antes da remoção dos rebanhos. Os impasses, segundo ele, seriam resolvidos na quinta-feira passada durante a reunião convocada pelo Ibama com os municípios afetados pelos embargos, mas que não ocorreu. 

“Em um das fazendas com 2.400 cabeças foi embargada, mas se cessar o desmatamento eles não vai tirar esse gado. Outras foram notificadas mas ainda não foram embargadas”, disse Melo. 

“Não é questão de documentação, são questões ambientais mesmo como o desmatamento”, completou. 

Luciano Melo no entanto saiu em defesa dos produtores, pois, segundo ele, não há uma orientação aos pecuaristas por parte do Ibama para criação de um plano de integração lavoura-pecuária-floresta que asseguraria uma criação sustentável. Na avaliação dele, não seria necessário desmatar mas sim usar racionalmente a área disponível. 

“Eu acho que não é somente multar, tem que orientar e dar assistência para que eles possam modificar o sistema produtivo tornando-o mais sustentável. A gente reconhece que os pecuaristas estão errados em alguns casos, mas eles estão dispostos a adequarem, não tem incentivo nem um projeto norteador”, declarou o secretário.

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