Infraestrutura de transporte

Parecer do GT aponta a reconstrução da BR-319 como prioridade do governo federal

O Grupo de Trabalho (GT), no Ministério dos Transportes, foi criado por Lula para analisar a viabilidade ambiental e econômica da reabertura da rodovia

Waldick Jr.
waldick@acritica.com
29/03/2024 às 13:16.
Atualizado em 29/03/2024 às 13:16

Com 885 km de extensão, a rodovia federal que liga Manaus a Porto Velho, a BR-319, interliga 22 municípios (Márcio Silva)

A reconstrução da rodovia BR-319 (Manaus - Porto Velho) é apresentada como prioridade do governo federal em um relatório do Ministério dos Transportes obtido pelo site Brasil de Fato. O documento foi produzido pelo Grupo de Trabalho (GT) da BR-319, criado pelo presidente Lula (PT) para avaliar se a recuperação da estrada era viável ou não. 

O documento foi finalizado em fevereiro e continua em discussão interna no governo, sem previsão para ser tornado público. De acordo com o site que obteve uma minuta do relatório, o texto propõe soluções para impedir o desmatamento, como a criação de Unidades de Conservação (UC) e aumento da governança na região por meio da cooperação de órgãos estaduais, Polícia Federal, Exército e Ibama.

“O compromisso do governo federal, além de garantir o desenvolvimento econômico, e o social, com o direito de ir e vir do cidadão, deverá assegurar que a BR-319 seja considerada uma obra modelo, no que diz respeito à proteção do meio ambiente, de forma a promover o desenvolvimento sustentável da região”, diz um trecho da minuta publicado pelo Brasil de Fato.

Para A CRÍTICA, o Ministério dos Transportes voltou a afirmar na terça-feira que o relatório segue em análise interna. “Tão logo essa etapa seja finalizada, o documento será amplamente divulgado”. A pasta também disse que não havia um porta-voz disponível para conceder entrevista sobre o tema.

Análise interna

Em fevereiro, o coordenador do GT da BR-319, Cloves Benevides, informou que o relatório ficaria pronto naquele mês, porém, seguiria em análise interna. Já naquela data, ele adiantou que não havia previsão para o documento ser tornado público.

No entanto, Cloves ressaltou que o relatório deveria trazer um cronograma e metas para a recuperação da estrada, já indicando que a discussão sobre se a estrada era viável ou não, para o governo, havia sido vencida. 

“Ele fará a apresentação das medidas de mitigação de riscos e controles relacionados à pauta ambiental, propostas pelo Ministério para o trecho do meio, além do que já foi implementado, como as unidades de conservação. Trará também um debate sobre governança, mas ainda serão validadas internamente”, explicou o coordenador.

No último dia 12 de março, o superintendente do Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Orlando Machado, esteve na Assembleia Legislativa para tratar da BR-319. Ele foi levado pelo deputado estadual e presidente do PT Amazonas, Sinésio Campos, defensor da recuperação da via. A expectativa era que Orlando apresentasse o relatório do GT, mas ele informou que o documento permanecia em discussão interna. 

Para A CRÍTICA, o coordenador do grupo explicou que um dos dispositivos presentes no cronograma do relatório será a apresentação ao Ibama, pelo Dnit, dos novos documentos necessários para obtenção das licenças.

Com 885 km de extensão, a rodovia federal que liga Manaus a Porto Velho, 319 interliga 22 municípios, e ainda depende de licença ambiental para início das obras de reconstrução do trecho do meio, que vai do km 250 a 655 km, cerca de 405 km.

Estrada ficou de fora do PAC

Quando o governo federal anunciou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), projeto que prevê a realização de uma série de obras de infraestrutura no Brasil, chamou a atenção a ausência da BR-319. O principal fator que pesa contra a estrada é o risco de aumentar ainda mais o desmatamento e as queimadas na Amazônia.

O Amazonas, que costumava ficar em quarto lugar no ranking nacional, subiu para a segunda posição nos últimos quatro anos, segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). As áreas mais críticas são no Sul do estado, na fronteira com Rondônia e no entorno da BR-319.

Outro novo foco de preocupação foram os municípios de Careiro e Autazes, na região metropolitana de Manaus, que registraram centenas de focos de calor entre setembro e novembro de 2023, colocando a capital sob fumaça por mais de três meses. Ambos os municípios estão no início da BR-319 e são alvos de desmatamento para uso da terra.

Há ainda os possíveis danos causados pela rodovia a territórios habitados por indígenas de diferentes etnias ao longo da rodovia. É por este motivo que o GT se reuniu com a Funai, mas também é a razão pela qual chamou a atenção a ausência do Ministério dos Povos Indígenas entre os integrantes do grupo.

A prévia do documento divulgado pelo site cita o monitoramento conjunto da rodovia por meio de um modelo de gestão intergovernamental incluindo órgãos ambientais estaduais, Polícia Federal, Exército e Ibama. Diz que deve ser implementado um mosaico de Unidades de Conservação, que servirão como "escudo" contra a penetração do crime ambiental.

"Para isso, é necessário um planejamento contínuo e monitoramento ambiental eficaz, incluindo a gestão das Unidades de Conservação, segurança, preservação do extrativismo e controle do fluxo de veículos para evitar o aumento do desmatamento", diz a minuta, segundo o site.

Memória

No dia 3 de agosto de 2023, durante entrevista a radialistas da região amazônica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que criaria um grupo de trabalho para emitir um parecer sobre a viabilidade ou não do asfaltamento da BR-319 e condicionou a obra a questão ambiental.

“Na minha opinião pessoal acho que a gente pode fazer a BR-319. Você pode montar uma base de fiscalização. Você pode botar até Forças Armadas pra tomar conta dessa parte da estrada para evitar que haja invasão transtorno de ocupação, madeireiros, garimpeiros”, disse Lula à época.

Grupo de trabalho

No dia 17 de novembro do ano passado, o Ministério dos Transportes criou um grupo de trabalho para discutir a viabilidade econômica e ambiental da BR-319. O grupo tem as seguintes competências: realizar levantamento sobre a situação atual da BR-319, com foco na identificação de desafios para a otimização rodoviária; analisar estudos técnicos e científicos, projetos e relatórios produzidos por outros grupos que já tenham tratado do tema; propor medidas, inclusive normativas, para a melhoria da infraestrutura da BR-319, tendo em vista a sustentabilidade, a segurança viária e a mitigação de impactos ambientais.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2024Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por