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CMM deixa de fora judeus, umbandistas e outras religiões em debate sobre liberdade religiosa

De iniciativa do vereador Professor Samuel (PL), tribuna popular convidou apenas representantes de apenas duas religiões: católicos e adventistas do sétimo dia. Entidades classificaram evento como 'desrespeitoso'

Malu Dácio
online@acritica.com
06/04/2022 às 16:23.
Atualizado em 06/04/2022 às 16:23

A Câmara Municipal de Manaus realizou na manhã desta quarta-feira, 6, uma tribuna popular como objetivo de tratar da importância da liberdade religiosa com a presença de padres e pastores, mas sem convidar representantes de  Religiões de Matriz Africana, Espíritas ou das comunidades judaicas e islâmicas.

Proposta pelo vereador Professor Samuel (PL), a tribuna durou mais de 1 hora e 40 minutos e não possibilitou a votação das pautas agendadas para o dia. Participaram o Arcebispo de Manaus Dom Leonardo Steiner, o pastor Luis Mário de Souza, vice-presidente e líder de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista para toda a América, além dos pastores da mesma denominação: pastor Sérgio Allan, Presidente da UNOB, o pastor Nelson Succi, presidente da Aceam, o pastor Mark Wallacy - Presidente da Aamar e o pastor Vanderson Costa, Departamental da Liberdade Religiosa da UNOB.

Samuel defendeu que não é necessário que um estado seja laico para que a liberdade religiosa venha a existir. “Quero dizer que um país como o nosso, onde nós temos mais de 80% da população formada por cristãos e a liberdade religiosa está muito notória mas existem neste mundo muitas ações que contrariam tudo isso”, disse.

O vereador citou que em Manaus, no ano de 2021, a capital registrou 31 casos de intolerância religiosa em 2021, segundo dados da  Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), de acordo com o vereador.

De acordo com o vereador, uma missa teria sido invadida por manifestantes durante o ato da celebração. Dom Leonardo contestou. 

“A invasão mencionada pelo senhor não foi durante uma celebração de eucaristia. Foi depois de uma celebração. Mas nós temos realidades onde os centros de religiões de matrizes africanas foram queimados. Existe uma dificuldade de liberdade religiosa, de culto e de expressar publicamente”, afirmou o arcebispo. 

“Nós da igreja católica vamos as ruas celebrar nossas religião, como no caso da semana santa. Mas as outras religiões também devem ter a oportunidade. Não demonizarmos as outras religiões. Tudo isso tem a ver com a liberdade religiosa”, defendeu. 

O vereador Rodrigo Guedes (PSC) também trouxe à tona o assunto quando afirmou que sentiu falta de representatividade dos que não seguem o cristianismo. “Particularmente, me permitam dizer que senti falta de religiões não cristãs. Por exemplo, das religiões de matrizes africanas. Poderíamos ter aqui uma grande congregação de religiões. Judaísmo, Islamismo que também sofrem intolerância religiosa”, disse o vereador.

"Há forte preconceito com as religiões evangélicas. Mas se acreditamos na liberdade nos princípios bíblicos, nós precisamos respeitar as outras religiões, inclusive daqueles que não acreditam em Deus. Esse preconceito estrutural precisa acabar. Acabar também com a intolerância institucional", defendeu Guedes.

Ao A CRÍTICA o vereador, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos, Povos Indígenas e Minorias da Câmara Municipal de Manaus (COMDIHPIM/CMM) disse que propôs a tribuna para defender a liberdade religiosa e salientou os dois casos de intolerância a igrejas cristãs.

“Esses exemplos de intolerância não trazem nada de positivo. Essa revolta de algumas pessoas que não tem ‘direção espiritual’ porque nós sabemos que mais de 80% da população Brasileira é cristã. A maior concentração das pessoas são as do cristianismo”, reafirmou. 

A justificativa de Samuel para não convidar representantes de religiões de matriz africana, Espíritas ou das comunidades judaicas e islâmicas foi de que a tribuna só permitia a fala de 2 representantes, mas disse que não convidou membros das religiões de matriz africana.

“As Matrizes Africanas, de Umbanda ou qualquer outra não foi possível porque só podemos trazer para mesa da tribuna 2 falas. Se fosse uma audiência pública, podemos chamar todas essas religiões sem problema nenhum. A maioria no Brasil é o catolicismo e seguido pelos protestantes. Houve a representação e as duas falas”, disse.

NOTA DE REPÚDIO

A Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana - ARATRAMA, repudiou a atitude, que chamou de desrespeitosa, da Câmara Municipal de Manaus. Para a articulação, a casa excluiu os Representantes da Sacralidade dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana de Manaus, no evento ocorrido hoje em seu Plenário, onde se pretendeu tratar sobre Liberdade Religiosa.

“Evento restrito as representações religiosas hebraico-cristãs. A hipocrisia foi tanta, que o presidente do ato, vereador Samuel, evangélico, ao ser questionado pelo vereador Rodrigo Guedes, católico, sobre a ausência de outras lideranças religiosas, alegou que ali estavam os representantes das maiorias religiosas, 80% da população de Manaus (sic)”, diz a nota.

Para a articulação, tal enunciado usado, liberdade religiosa, foi usado levianamente. “Pois deveria ter usado como tema, apenas e tão somente, liberdade religiosa cristã fundamentalista e intolerante. Particularmente, com raríssimas exceções, essa legislatura da CMM não passa de um reduto de pessoas que não representa o Estado Democrático de Direito, pois se reduziu a um circulo de interesses perversos, racistas e promotores da exclusão”, destaca outro trecho.

O sacerdote de Matriz Africana Alberto Jorge, coordenador geral da Articulação Amazônica e Conselheiro Titular no Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas afirmou que não foi convidado para o evento. 

“A Câmara Municipal de Manaus se tornou um lugar que é feudo de pastores evangélicos, onde não há espaço para as Sacralidades / Religiões de Matriz Africana, um reduto de intolerância religiosa e de racismo institucional e estrutural. A CMM não nos respeita nem como Sacralidade / Religiosidade, nem enquanto Povos Tradicionais”, criticou.

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