ESTUDO

Pesquisadores lançam em Manaus pesquisa inédita sobre infância indígena na Amazônia

Os participantes do estudo vão se dividir entre os estados do Amazonas e Mato Grosso para mapear condições de vida, desafios e experiências das crianças indígenas do Brasil

Carolina Givoni
online@acritica.com
15/02/2024 às 15:36.
Atualizado em 15/02/2024 às 15:36

(Arte sobre foto de Marcio Silva/A CRÍTICA)

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) lançaram em conjunto com entidades e estudiosos indígenas da Amazônia, a primeira pesquisa sobre a infância dos povos tradicionais nesta quinta-feira  (15), no Auditório da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), localizado na Avenida Ayrão, bairro Presidente Vargas, zona central de Manaus.

O professor doutor e coordenador do estudo no Amazonas, Gersem Baniwa, fez a abertura dos trabalhos, que serão realizados em dois dias, convocando os representantes para compor a mesa diretora, para discursar sobre o papel de cada um dos entes parceiros na iniciativa.

“Nesse primeiro momento, faremos a troca de ideias, a acolhida dos pesquisadores para nos ajudar e que todos que vieram, possam entender bem o que é o projeto e o que será desenvolvido. Este é um projeto experimental, no sentido de fazer uma pesquisa com essa característica - que não é uma scrito sensu acadêmica, mas que envolve parcerias, movimentos sociais, pesquisadores indígenas, comunidades e aldeias. Uma pesquisa aberta para todo e qualquer tipo de colaboração”, explicou.

(Foto: Márcio Silva/A CRÍTICA)

A professora doutora Vanessa Maria de Castro é a Coordenadora-Geral da Pesquisa capitaneada pela UNB. Ela detalhou a gênese do projeto, que meio do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinar (Ceam) e do Observatório dos Povos Indígenas e suas Infâncias (OPOInfância), operacionalizou a ação, financiada por emenda parlamentar de Erika Kokay (PT-DF).

“Foi mobilizado uma equipe enorme, que agora será liderada pelos professores Gersem e Isabel no Amazonas e Mato Grosso, a partir do que já foi produzido no observatório. (…) Essa pesquisa só faz sentido se conversar diretamente e construir coletivamente com os povos indígenas que é a questão das infâncias e como essas vozes são importantes. Isso é um sonho realizado”, agradeceu. 

Isabel Taukane, do povo Kura Bakairi, é a professora doutora e coordenadora do estudo no Mato Grosso, que encerrou as apresentações dos representantes do estudo. “Cada região tem um contato diferente sobre as etnias, mas todas tem as mesmas problemáticas que afetam crianças e adolescentes indígenas. (…) mas não quero falar apenas dos problemas, mas sim sobre o ritual da infância, sobre coisas boas. Temos tanta coisas e costumes que de alguma forma estão se perdendo nesse mundo capitalista. Então estamos nesse construção que vão trazer resultados positivos para as comunidades indígenas”, finalizou. 

(Foto: Márcio Silva/A CRÍTICA)

Apoio de representantes

Luís Tukano, biólogo formado pela primeira turma indígena da UNB, vindo de São Gabriel da Cachoeira e atualmente coordenador de operações da Coiab, discursou como anfitrião do lançamento da pesquisa e também falou sobre a importância de levantar informações sobre os desafios da educação indígena. “Hoje a Coiab tem um centro de formação nas aldeias, o que não é barato, é caro. Fazer educação nas terras indígenas tem um custo alto, por isso essa formação dificilmente chega lá. No fim, educação não é custo e sim investimento”, determinou. 

Joede Miquiles, da etnia Sateré Mawé, participou da cerimônia como representante da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), na ausência da Coordenadora-Geral da representação, Mariazinha Cordeiro Baré.

“É um momento feliz de partilhar conhecimento e formação. Que assim possamos, como povos indígenas da Amazônia, unir forças para trocarmos ideias e possamos ser os porta vozes, de iniciativas como essa, que vão levar mais informações lá na ponta, onde se mais precisa, para os povos e aldeias”, comentou.

Marcivana Sateré Mawé, liderança representativa da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), alertou sobre o contexto de inviabilidade dos indígenas moradores das principais capitais da Amazônia.

“Historicamente Manaus foi referência de troca dos povos que vivem no Amazonas. Nós somos 53 povos diferentes, uma aldeia pluriétnica, que vivem diversas realidades e vulnerabilidades, principalmente as crianças, que são o foco desta pesquisa. Aqui em Manaus, muitas delas escondem a fome comendo um pirulito no dia. Isso é gravíssimo”, lamentou.

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