Amazônia é nossa ou não é?

Rodrigo Junqueira
Rodrigo Junqueira
28/08/2019 às 22:01.
Atualizado em 24/03/2022 às 22:11

(Foto: Reuters/Bruno Kelly)

A pauta ambiental segue palpitante e o oportunismo de Emmanuel Macron, que fez da Amazônia um salva-vidas para tentar se livrar de uma incômoda impopularidade em seu país, bateu fundo no nosso eterno complexo de vira-latas.

Quando um Presidente da França diz que "a internacionalização da Amazônia está em aberto", vem aquele frio na barriga e nós, que já comemos X-caboquinho com pão francês, agora nos imaginamos desgustando o tucumã e o queijo coalho num croissant com foie gras. Uma coisa horrorosa.

Naturalmente, a frase do líder francês causou indignação no Brasil. O Presidente Bolsonaro considerou uma grave afronta a nossa soberania e reagiu dizendo que não aceitaria recursos da França para combater as queimadas, enquanto Macron não retirasse o que disse. Uma parte dos brasileiros, contudo, não reagiu. Ficou aquela pergunta no ar: será que Macron tem razão? Seria melhor entregar a Amazônia pros estrangeiros?

Particularmente, tenho minhas dúvidas. Afinal, os europeus acabaram com as florestas deles. Enquanto o Brasil mantém intacta quase 70% de sua cobertura vegetal, lá é uma tristeza só. É como entregar a senha da sua conta no banco pra um ladrão condenado, que agora se diz regenerado. Fica aquela desconfiança no ar... Mas, por amor a discussão, vamos fazer um exercício imaginativo e admitir a hipótese da internacionalização. Nesse caso, como funcionaria uma Amazônia juridicamente internacionalizada?

Alguém poderia dizer: primeiro seria preciso que um grande número de ONG’s internacionais fizessem a gestão dos projetos conservacionistas de toda a região... Depois, se criaria um Fundo da Amazônia para que os países gestores da Amazônia internacionalizada pudessem depositar os recursos que financiariam essas ONG’s... Finalmente, pra evitar a tentação da população local expandir suas cidades ou tentar usufruir dos minérios no subsolo e acabar desmatando, eles poderiam transformar grandes áreas de floresta em reservas indígenas...

Ora, mas que coincidência! E não é que nos últimos 20 anos milhares de ONG’s estrangeiras realmente se instalaram no Brasil, e mais especificamente na Amazônia? E em 2007, foi criado o Fundo Amazônia, para o financiamento dessas entidades do Terceiro Setor. Outra coincidência: 23% da Amazônia já é Terra Indígena. Grande parte dessas demarcações também ocorreu nos últimos 20 anos. Eu me pergunto se a Amazônia já não estava internacionalizada...

O fato é que Bolsonaro assumiu com uma agenda clara de recuperar determinadas áreas ricas em minério, colocadas estrategicamente dentro dos limites de terras indígenas. Ao mesmo tempo interferiu na gestão do Fundo Amazônia (escrevi sobre isso no artigo da semana passada). Mexendo no Fundo, mexeu com as ONG’s  e, consequentemente, mexeu com uma classe mundial mais unida que arroz de sushi, a dos ambientalistas.

Talvez por isso, as queimadas de verão na Amazônia - fenômeno que ocorre todos os anos - nessa gestão Bolsonaro estão sendo tratadas como a “destruição da Amazônia”. O tom caótico serve à oposição do Presidente e também a estrangeiros como Macron, que precisam fazer uma média com as bancadas ambientalistas europeias. Alarmismo mundial com direito a fotos fake, sentimentalismos baratos e negação da nossa soberania. Nunca pisaram aqui, não preservaram suas florestas, mas se dizem amantes da floresta. Tudo bem, mas creio que ninguém tem tanto amor pela Amazônia quanto os que nela vivem: 20 milhões de amazônidas que escolheram morar, trabalhar e construir suas famílias e vidas aqui.

Alguns anos atrás, por um ou dois dias, lembro bem, a gente amanheceu com a cidade coberta de fumaça, por conta dessas mesmas queimadas de verão... Estranhamente, nem o Leonardo DiCaprio, nem a Madonna, ou outras celebridades protestaram à época... Nenhum presidente europeu pegou carona na onda ambientalista ou criticou o governo de então. Não se viu 10% da comoção que se viu agora. O que mudou de lá pra cá?

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