As agressões sofridas por Tadeo deixaram o seu rosto completamente desfigurado.
(Foto: Agência Brasil)
A morte de um indígena, Tadeo Kulina, 34, em Manaus, exige providências firmes por parte dos poderes executivo e do judiciário na busca dos responsáveis e na definição de regras que garantam segurança a indígenas em situação de vulnerabilidade que são enviados a Manaus ou a qualquer outra cidade.
Tadeo acompanhava a esposa, encaminhada à maternidade Ana Braga. Não era falante do português e não tinha conhecimento sobre a cidade onde chegou no dia 6 de fevereiro. Na maternidade, o casal ficou sem tradutores, conforme dados de organizações indígenas que nesse momento tentam saber o que ocorreu de fato. O Boletim de Ocorrência (BO), feito no dia 16, cita espancamento como a cauda da morte. As agressões sofridas por Tadeo deixaram o seu rosto completamente desfigurado.
Há sentimento de revolta por parte de lideres e membros de diferentes povos indígenas tanto por esse assassinato quanto pelos procedimentos, considerados omissos, desde a fase de deslocamento do casal para Manaus, assistência adequada na maternidade, no período em que Tadeo ficou desaparecido e na confecção do BO.
No ano de 2019, o assessor da Cáritas Arquidiocesana, Humberto Peixoto, 37, da etnia Tuiuca, sofreu espancamento brutal que o levou à morte. Peixoto retornava para casa, após participar de reuniões de associações das quais participava. Dados do Atlas da Violência, publicação elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostram o aumento das mortes de indígenas. No período de 2009/2019 foram mortos 2 mil indígenas (aumento de 21.6%). Somente no ano de 2020 foram 216 assassinatos.
Tadeo Kulina morava na aldeia Foz do Acuraua, no município de Envira, a 1.214 Km de Manaus, no Juruá. O espancamento e consequentemente morte do indígena ainda são parte das muitas perguntas que familiares de Tadeo Kulina, organizações indígenas e de apoio aos direitos indígenas fazem. Outros questionamentos são: servidores públicos acompanharam o casal até Manaus e na maternidade, qual é o protocolo de atendimento de mulheres indígenas grávidas, parturientes, e de seus acompanhantes, e no caso de não falantes do português ou que pouco compreendem a língua?
Esse é mais um crime e mais uma marca dos aspectos da perversidade com que indígenas ainda são tratados em Manaus, a capital com maior população indígena do Brasil. É uma realidade que envergonha e constrange os cidadãos do Amazonas.