'Lua de leite’: período após o parto é destinado à criação de vínculos entre mãe, pai e o bebê

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16/04/2018 às 14:25.
Atualizado em 24/03/2022 às 22:20

(Exemplo de famosos que aderiram à lua de leite foi o casal de ex-BBBs Adriana Sant'Anna e Rodrigo (Foto: Su Florentino/Divulgação))

Por Laynna Feitoza

Quando um bebê nasce, nasce também uma nova rotina para criar vínculos com o novo membro da família. É nesse momento que, para vivenciar o pós-parto e para concretizar o sucesso do aleitamento materno, muitas mães e pais decidem dar um tempo nos amigos, nas baladas e nos encontros casuais e não desejam receber visitas neste período – a chamada lua de leite. Nesse momento, ter uma rede de apoio é crucial para a fase de transformação e para o alimentar do amor no dia a dia.

Ainda grávida, a funcionária pública Rayza Araújo, 30, lia bastante sobre parto, puerpério e amamentação. “Foi nessa busca que entendi os benefícios, tanto para a mãe quanto para o bebê, de vivenciar a lua de leite, e então pude me entregar a esse momento de pura conexão com a minha cria. Foi de fundamental importância pra mim fazer um curso para gestantes e ter o acompanhamento de enfermeiras obstetras no pré natal.”, conta ela.

Ela teve uma cesárea intraparto e, por isso, todo o processo de trabalho de parto foi o primeiro passo para dar início à lua de leite. “É quando somos invadidas pela ocitocina e o leite desce”, diz. Mas foi em casa que Rayza pôde, de fato, se entregar à lua de leite, se despir das conveniências da sociedade e curtir a cria. “Passava o dia bem à vontade, vestido e roupas que facilitavam a amamentação, a maior parte do tempo sem blusa, seios descobertos, nada de protetores de seios ou bicos de silicone. Liberdade e doação”, relembra ela.

Foi criada uma força-tarefa para a vivência da lua de leite na família de Rayza. O marido e a mãe de Araújo cuidavam das compras, pagamentos; a tia e sogra se revezavam nos cuidados da casa, comida e ajuda com o bebê. “Tive a sorte de ter uma rede de apoio excepcional, só me preocupava comigo e o bebê. Aproveitava os intervalos das mamadas para comer e tomar banho. Só saímos com 7 dias para a consulta com o pediatra”, assegura.

O sensorial também teve seu papel neste processo. “Lembro muito bem que não usava perfume, usava sabonete sem cheiro e só passava água nos seios para que meu bebê pudesse reconhecer meu cheiro. Eu e meu marido fizemos bastante contato pele a pele, e não menos importante o bebê não usou chupeta nem outros bicos artificiais que pudessem causar confusão e recusa do seio. O berço ficou do lado da cama, mas foi pouco utilizado, principalmente a noite, quando fazíamos cama compartilhada”, conta.

Hoje Rayza enxerga que teve uma oportunidade única de formação de vínculo com o filho que levará para o resto da vida. “A troca de olhares, o próprio encantamento pela maternidade, o apaixonar-se pelo filho recém chegado, tudo aconteceu naqueles momentos. Outro fator muito importante foi que consegui passar essa primeira fase da amamentação sem tanto sofrimento, o que é bem raro. Nunca senti dor ao amamentar, o leite não “pedrou”, o bico do peito não feriu, não saiu sangue, absolutamente nada”.

Visão médica

Segundo a médica pediatra Rossiclei Pinheiro, assim como na lua de mel, em que os casais buscam privacidade para curtir o momento a dois, na lua de leite essa privacidade é para os pais e o bebê. Ela fala que não existe uma regra de tempo para deixar o período acontecer. “O tempo necessário é aquele que o casal optar para ficar a vontade com seu filho, variando de 2 a 6 semanas”, explica.

Alguns casais falam que seguiram o isolamento total neste período, ficando apenas com o bebê. Mas, conforme a médica, isso é opcional. “Uma boa dica é a família estar certa de suas opções, como o aleitamento materno, aconchego e atenção ao bebê. Neste momento, os pais precisam estar amparados para que todas as dificuldades iniciais de adaptação sejam superadas. Então, se os avós compartilharem os ideais, serão bem vindos”, pondera ela.

Porém, ela adverte que alguns familiares têm tradições que podem interferir neste relacionamento inicial, como por exemplo: deixar o bebê chorar no berço para acostumar, colocar chupeta para evitar a sucção no peito e isso pode prejudicar a interação dos pais com o bebê. “Os filhos não tem manual de instrução e aos poucos vão se conhecendo”, enfatiza.

A pediatra acredita que se os pais viverem intensamente o momento de vinculação com o bebê, diminuindo as atividades de rotina (como ir ao shopping, cozinhar e limpar a casa) e o contato com o mundo e o tempo real, a chance de sucesso da lua de leite será maior. “A lua de leite envolve muito contato pele a pele entre o bebê e a mãe/ pai, pouca atividade física e mental, e, claro, bastante leite materno, pois marca o início dessa relação que é amamentar”, diz ela.

Para se preparar para a lua de leite, os pais podem mandar um e-mail para  amigos e parentes explicando o desejo de ficar a sós com o bebê no período de tantos dias após o nascimento, explicando os motivos, que precisam de um tempo com o bebê. “Faça consulta pré-natal e converse com a equipe médica (incluindo o pediatra!) sobre as vantagens do contato pele a pele (quando o bebê nasce bem, ele pode ir direto para o colo dos pais) e da amamentação na primeira hora de vida”, coloca.

Ela lembra que, muitas vezes o bebê vai apenas cheirar e lamber a mãe, mas alguns sugam com avidez o peito e isso é importante para a descida do leite ser mais breve. Outra dica é o fortalecimento de sua rede de apoio. “Isto é, aquelas pessoas próximas, que respeitam o seu desejo e entendem a delicadeza do pós-parto, com quem você poderá contar para ir ao mercado, passar na farmácia, limpar sua casa, e que também estejam dispostas a ouvir sem julgar, dar um ombro para você chorar e fazer carinho quando mais precisa”

Segundo a médica, a lua de leite libera a mulher da necessidade de entreter os outros, fazer comida ou arrumar a casa; no lugar disso, há repouso (na medida do possível), silêncio (idem), mergulho interior, contato verdadeiro. “Essa dedicação dos pais com o bebê também facilita o início do aleitamento: o contato pele a pele promove a liberação de ocitocina (hormônio do amor, do arrepio e da ejeção do leite), o peito em livre demanda (sem controle da hora) aumenta a produção de leite, bem como a confiança e a habilidade da mãe”, pondra.

Além disso, a médica avalia que o contato social reduzido diminui a chance de se expor a comentários que podem destruir o processo delicado de amamentar. A idéia é reduzir as visitas e as saídas para diminuir as cobranças sociais. “Os pais precisam da ajuda dos amigos, dos familiares e de colaboração para se dedicarem ao bebê. Então, que tal preparar o ambiente para ficarem livres de preocupações com a casa (alguém pode apenas fazer a faxina, sem interromper os horários da amamentação)?”, interroga ela.

Os pais podem receber os alimentos preparados na casa dos avós ou podem congelar com antecedência. “É importante lembrar que a mãe deve ter uma alimentação saudável e não fazer dieta. Se os pais têm outros filhos, alguém da família pode se responsabilizar pelo transporte para escola e outras atividades da criança. Os irmãos podem ajudar no cuidado do bebê, mas lembrando de que a mãe fica muito cansada e as mudanças hormonais a deixam mais sensível a qualquer stress”, completa ela.

Modo

Exemplo de famosos que aderiram à lua de leite foi o casal de ex-BBB's Adriana Sant'Anna e Rodrigo. Eles optaram por se isolar dos familiares. "Li que muita gente fazia isso. Preferia ficar só com o pai do filho e o bebê para todos se conhecerem. Achei interessante. Minha mãe e minha sogra estavam dando muitos palpites e, como eu estava muito sensível, ficava irritada com com isso, o que me deu certeza de que a coisa certa a fazer era ficar eu, o Rodrigão e o Rodrigo", afirmou ela, em entrevista ao site DécimoMês.com.br.

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Laura Oliveira, 32

Advogada e mãe do Felipe, de 1 ano

“Os dez primeiros dias foram super complicados. Meu bebê quase não dormia. Nos três primeiros dias que praticamente não dormi, comecei a ficar estressada e impaciente. Foi quando minha doula veio me visitar, e conversou bastante comigo. Disse que quando eu tivesse um intervalo era para procurar descansar, para não me preocupar com a rotina de casa, e para ver alguma pessoa ao meu redor que podia me ajudar com supermercado e contas para que eu pudesse me dedicar ao meu filho. Depois de 10 dias, eu realmente foquei no meu filho e esqueci o restante das coisas”.

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