João Paulo Tukano

Tese de pesquisador indígena do Amazonas entre as 49 melhores do Brasil

João Paulo Tukano recebeu o prêmio Capes de Melhor Tese 2022, em Antropologia, pela tese intitulada ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro

Amariles Gama
online@acritica.com
12/08/2022 às 18:36.
Atualizado em 12/08/2022 às 18:55

Especialista Dr. João Paulo Tukano (Foto: Alberto César Araújo / Amazônia Real)

O doutor em antropologia, João Paulo Tukano, indígena do povo Ye’pamahsã (tukano), conquistou o Prêmio Capes de Melhor Tese 2022. Nascido na comunidade de São Domingos, no Rio Tiquié, município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), João Paulo foi responsável por trazer o único prêmio ao Amazonas, na categoria melhor tese de doutorado na área de Antropologia Social. 

João Paulo recebeu o prêmio pela tese intitulada ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro. Traduzido para o português ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse’ quer dizer ‘O mundo em mim’. Você pode ler clicando aqui.

“Ganhar esse prêmio é um reconhecimento de que nós povos indígenas podemos contribuir com o conhecimento em todos os níveis”, destacou João Paulo, que é graduado em Filosofia, doutor em antropologia social, pesquisador do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai) e fundador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi. 

De acordo com João Paulo, a tese premiada teve como objetivo central explorar a noção de corpo do ponto de vista dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro, comumente conhecidos como “pajés”. Ele destaca que veio de uma família com vários desses líderes indígenas: “meu avô era pajé, meu pai é e meu irmão também é. Eles também cuidam da saúde das pessoas”, disse.

“Ao longo do processo de construção histórica, a ciência sempre discriminou o nosso conhecimento, fazendo uma leitura na chave da religião. Portanto, daí vem esses palavreados de ‘rezador, benzedor, curandeiro’, que na lógica da ciência não é conhecimento, mas sim o senso comum. Mas, do ponto de vista nosso (indígena) não é senso comum, é um modelo diferente de entender e cuidar da saúde, que opera por outras lógicas”, explicou João Paulo a respeito do ponto de partida da sua pesquisa. 
O doutor em antropologia afirma que ao receber a notícia sobre a premiação da Capes sentiu um misto de emoções. Mas, ele destaca que o trabalho é resultado de uma luta coletiva.

“Esse trabalho premiado não é um trabalho solitário, é um trabalho dentro de um coletivo indígena que luta para trazer o conhecimento indígena para dentro da academia e para além desses conhecimentos que são difundidos [chamar pajé de rezador, curandeiro e etc]. Nós fazemos um esforço para colocar os conhecimentos indígenas nos seus conceitos e para um diálogo simétrico ao conhecimento científico”, explicou. 

A relação dos 49 premiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foi publicada e divulgada na quinta-feira (11). A iniciativa reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil no ano de 2021.

O trabalho premiado e desenvolvido pelo indígena foi orientado pelo Prof. Dr. Gilton Mendes dos Santos, e apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A pesquisa também teve como coorientadores Kumu Ovídio Lemos Barreto, Kumu Manoel Lima, Kumu Durvalino Moura Fernandes.

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