Deficientes físicos

Acessibilidade em Manaus e ingresso no mercado de trabalho são desafios para PCDs

Sebastião Marque Neto e Thiago Costa relatam suas histórias de superação

Michael Douglas
cidades@acritica.com
04/12/2022 às 08:46.
Atualizado em 04/12/2022 às 08:56

Sebastião Marques Neto, agente administrativo, aos 16 anos de idade viu sua vida mudar completamente ao ser vítima da violência em Manaus (Foto: Arquivo pessoal)

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que até 2021 o Brasil possuía pouco mais de 17 milhões de pessoas com deficiência (PCDs), sendo mais de 230 mil destes, residentes no Amazonas e com pelo menos 10 anos de idade. Entre estes milhares de indivíduos e histórias, está Sebastião Marques Neto, um agente administrativo que aos 16 anos de idade viu sua vida mudar completamente ao ser vítima da violência em Manaus. 

“Aos 14 anos tomei um tiro, uma bala perdida, que atingiu a coluna e me fez perder os movimentos das pernas”, conta Sebastião, que agora possui 42 anos e um completo entendimento do que pessoas como ele passam na capital. Isso porque desde o seu acidente, em 1994, até 2016, ele precisou utilizar o transporte coletivo, algo que segundo ele é quase  inacessível para um deficiente físico.  

“Quando ando por aí, é tudo muito bonito, mas as pessoas parecem que esqueceram o plano-diretor implantado na cidade. Às vezes me deparo com situações de usar uma rampa na calçada e a quatro metros tem um poste me bloqueando, isso quando existe a rampa, que ao meu ver não estão mais colocando, a não ser a iniciativa privada, que é obrigada a ter essa acessibilidade. O governo e os próprios políticos não estão pensando nisso aí”, opina o agente administrativo, que também é membro e sócio-diretor da Associação de Deficientes Físicos do Amazonas (Adefa).

Ainda no quesito acessibilidade, outra pessoa que também sofre com tais condições, principalmente dentro de um contexto escolar, é o estudante Thiago Costa, que em seu último ano do ensino médio analisa os problemas encontrados dentro e fora das educandários pelo qual passou. 

“Bem, a escola não é 100% adaptada. Com isso, eu preciso de ajuda das pessoas pra ir pra algum canto da escola. Desde que eu comecei a estudar nessa minha atual escola, as dificuldades se tornaram poucas, porque rampa já tinha, e o banheiro ajeitaram esse ano. A minha única dificuldade é de ir pra quadra na hora da educação física”, relata o estudante, que também é paraplégico, mas (diferente de Sebastião) desde que nasceu. 

Segundo o jovem, pior do que a questão da acessibilidade dentro do ambiente escolar é a falta de acessibilidade nas ruas da capital.

“Andar pelas ruas é sempre complicado. Quando eu ando com a minha cadeira na rua, tem muitas calçadas quebradas, com buracos e isso faz com que a cadeira danifique”, afirma Thiago.

Diante deste contexto, bem como a convivência com o próprio preconceito existente com PCDs na sociedade brasileira, o jovem buscou uma forma de lhe ajudar a abstrair de tudo isso, encontrando na dança uma resposta satisfatória. 

“Para não ficar parado, minha mãe me colocou para fazer atividade em um projeto de atividade motora e esporte da UFAM. E com um mês participando, a professora veio na minha direção e me perguntou ‘você quer participar da dança?’.  Na hora eu disse não, mas com muito incentivo da minha mãe e da minha irmã mais velha, eu resolvi experimentar. Quando eu entrei, meu pensamento mudou completamente, pois pensava que cadeirante não podia dançar”, diz o jovem, que afirma ainda que a dança lhe ajudou a superar diversas questões, entre elas a timidez.  

Estudante do ensino médio, Thiago Costa, encontrou na dança uma forma de superar as dificuldades do dia a da (Foto: Arquivo pessoal)

 Foi pensando em pessoas como Thiago e Sebastião, que a União das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 3 de dezembro, este sábado, como o dia Internacional da Pessoa com Deficiência, uma data que busca incentivando a reflexão e conscientização acerca da inclusão social, do combate à discriminação e da inserção das pessoas com deficiência (PcDs) no mercado de trabalho. 

Mercado de Trabalho 

De acordo com Ministério do Trabalho, o direito ao trabalho, em ambiente acessível, inclusivo e com igualdade de oportunidades, está assegurado no Estatuto da Pessoa com Deficiência, sendo vedada a restrição ao trabalho e qualquer discriminação. A Lei nº 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas, estabelece que empresas com 100 ou mais empregados estão obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com funcionários PcD.  

No entanto, mesmo com a legislação, ainda é possível notar um mercado de trabalho desigual. Isso porque, segundo o estudo “Pessoas com deficiência e as desigualdades sociais no Brasil”, divulgado em 2022 pelo IBGE das mais de 17 milhões de pessoas que possuem algum tipo de deficiência, apenas 28,3% têm participação no mercado de trabalho, o que equivale a menos da metade da taxa referente a pessoas sem deficiência, de 66,3%. 

No Amazonas 227 mil Pessoas com Deficiência estão dentro de uma faixa de idade considera como legal para trabalhar, e apenas 18,3% trabalhando deste total está maneira formal. Além disso, segundo o IBGE, apenas 44 dos 62 municípios do Estado possuem um fundo municipal e gestão que desenvolve política ou programa de promoção de Direitos da Pessoa com Deficiência.  

Números no Amazonas 

De acordo com o IBGE, pelo menos até 2019, o Amazonas possuía cerca de 238 mil pessoas com dois anos ou mais de idade (6,2%) tinham alguma das deficiências investigadas na pesquisa. Deste total, 59,1% são mulheres e 40,9% homens.

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