Produtores e empreendedores de Codajás apostam na popularidade do fruto amazônico para atrair renda.
A confeiteira, Daiane Correa tornou-se especialista em doces feitos com o ouro negro da Amazônia. (Foto: Semcom/Codajás)
Codajás - Filho de Moadir Braga, um dos pioneiros no beneficiamento de açaí, aos 75 anos, Moacir Braga nem lembra a primeira vez que provou o sabor do ouro negro da Amazônia. Nascido e criado em um seringal, na zona rural do município de Codajás (a 240 quilômetros de Manaus), onde o fruto nativo era amassado na gamela - um tipo de tigela de madeira -, ele vê o avanço da cultura ganhar novas perspectivas para exportação em uma plantação livre de desmatamento.
Assim como 1,2 mil produtores rurais do município às margens do Rio Solimões, o agricultor sempre teve no açaí boa parte do sustento da família. No fim dos anos 60, um amigo do pai dele que morava na capital foi um dos primeiros amazonenses a adquirir um trio de despolpadeiras industriais. Um dos equipamentos foi parar em Codajás mudando a forma de venda do produto e dando início a fama do pequeno município, hoje reconhecido legalmente como a Terra do Açaí.
Nos anos 2000, Moacir decidiu seguir o caminho do pai, mas queria fazer algo diferente da concorrência que desmatava a floresta para cultivar as palmeiras.
Os mais variados produtos feitos com polpa do açaí foram expostos na 33ª Festa Cultural do Açaí de Codajás (Foto: Semcom/Codajás)
Preservação
E assim foi feito. Ele aproveitou a mata nativa, com as seringueiras, castanheiras e jatobás, para construir o futuro. Hoje, as palmeiras de açaí dividem os 20 mil hectares da propriedade com diversas outras espécies. “Todo mundo de fora que vem no terreno vê que esse sítio é diferente, porque a matéria orgânica cobre a bota”.
Moacir prevê a colheita de 1 mil sacas de açaí para esse ano e o melhor disso tudo, segundo ele, é que com a conquista do Selo de Indicação Geográfica para Codajás e a organização dos produtores, o valor do produto só cresce abrindo horizontes inclusive no exterior.
Boa safra
Mesmo com as previsões de seca para esse ano, a prefeitura de Codajás prevê que a safra seja quase o dobro do ano anterior, segundo o secretário municipal de Produção Rural, Francisco Brasil. Em 2023, mesmo com a perda de 70 hectares de plantação por conta das queimadas, 18 mil toneladas do fruto foram retiradas do município, para esse ano a estimativa é de que 32 mil toneladas do fruto sejam escoadas.
Moacir Braga segue legado do pai e decidiu plantar açaís de forma sustentável (Foto: Semcom/Codajás)
O secretário credita o aumento da produção ao acompanhamento dos produtores pelo município e pelo Instituto de Desenvolvimento do Amazonas (Idam). Além disso, as condições para escoamento ganham novos contornos com a abertura de e pavimentação de áreas estratégicas que devem ampliar a chegada de produtos até a sede.
Gargalos
Apesar dos avanços, a produção ainda tem limitações. Do total de produtores cadastrados, apenas a metade é assistida devido a extensão territorial do município e a carência de técnicos agropecuários e de agricultura para atender a demanda.
O açaí produzido atualmente em Codajás é vendido para empresas como Bela Amazonas, Fruits, Norte Polpas e os 65 pequenos batedores que mandam polpas para a capital, além dos atravessadores. O maior fluxo ainda é intermunicipal para Manacapuru e Manaus, seguido do Pará, mas há envio do produto beneficiado no município para o Brasil e exterior.
Se depender dos codajenenses, o açaí puro não e a única opção para os amantes do fruto (Foto: Semcom/Codajás)
Mil e uma possibilidades
As mil e uma possibilidades do uso do açaí é o que move parte do empreendedorismo codajense. Marinelfas Bastos Peroti, 46 anos, por exemplo, aproveitou a expertise na cozinha e o gosto particular por pimentas para criar um produtos autorais à base da fruta. Parte do que o marido produz no sítio vai para a panela e se transforma em molhos, geleias e frutas cristalizadas. O primeiro produto foi pensado para dar a cara de Codajás.
Foi assim que ele criou o molho de pimenta com açaí que logo chamou atenção dos clientes nas redes sociais e criou a marca Molhos da Mary. Merendeira concursada, ela e o marido mantêm os três filhos, que são atletas de vôlei, em Manaus, com o complemento da renda que vem das vendas.
Doce sonho
A confeiteira, Daiane Correia Praia, 29 anos, é uma especialista nos doces de açaí, chegando inclusive a fazer demonstrações no Rio de Janeiro. No cardápio não faltam opções deliciosas que vão de de brigadeiros de açaí, trufas de açaí com tapioca, pudim, mousse, até a pasta americana dos bolos.