Campeão dentro e fora de campo

Ibson fala sobre título Brasileiro pelo Amazonas e fala de identificação com cidade e o clube

Integrante da comissão técnica da Onça falou sobre a conquista logo no primeiro ano em nova função e diz que agora tem sido mais reconhecido como o Ibson do Amazonas FC

Camila Leonel
camilaleonel@acritica.com
30/10/2023 às 16:06.
Atualizado em 30/10/2023 às 16:06

Ibson com a taça de campeão da Série C do Campeonato Brasileiro em entrevista que aconteceu na sede do clube, na zona Leste (Jeiza Russo)

Campeão da Série C do Campeonato Brasileiro com o Amazonas, Ibson adiciona um título nacional no currículo, desta vez como membro da comissão técnica permanente da Onça Pintada. O feito vem logo no primeiro ano exercendo a nova função que além dos desafios, trouxe também uma nova sensação: a de acompanhar um título ao lado do campo, já que a primeira taça da competição veio quando ele ainda jogava como meio-campo no Flamengo de 2009.

“É uma sensação diferente, a gente sofre mais porque não pode chutar a bola. Em 2009 foi muito bacana também, mas eu atuava e é muito mais tranquilo porque a gente tá dentro de campo, tá conseguindo ajudar jogando. Você tá do lado de fora sofre muito, apesar de que neste jogo [da final] eu estava muito tranquilo e tinha certeza que a gente ia conquistar o título. Graças a Deus isso aconteceu. É meu primeiro ano trabalhando como comissão e estou muito feliz”, disse.

A confirmação de que Ibson assumiria um cargo na comissão técnica do Amazonas veio no fim de abril, antes do segundo jogo da final do Campeonato Amazonense de 2023, que foi vencido pela Onça Pintada. O retorno aos campos de futebol, ainda que fora de campo, aconteceu menos de um ano após a aposentadoria pelo Muriaé-MG, aos 38 anos.

Após pendurar as chuteiras, ele admite que tinha outros planos: curtir a família e ficar pelo menos dois anos em casa com uma rotina mais tranquila, além de fazer cursos, mas após o chamado do presidente do Amazonas, Wesley Couto, ele aceitou a missão de integrar a comissão permanente da Onça. A ideia de voltar para ajudar a equipe fora de campo já existia, mas pegou Ibson de surpresa quando ele veio a Manaus para uma viagem de passeio.

“Ano passado eu fiquei três meses no Amazonense e já estava naquela de querer parar de jogar e o Wesley, que é um amigo, sentou e conversou comigo: [ele disse] ano que vem você volta e me ajuda de alguma forma. Fiquei um ano sem fazer nada, curtindo minha esposa e meus filhos. E tinha um jogador que ele trouxe pra cá era um amigo meu e eu falei, já vou aí e aproveito o passeio para rever meus amigos. Só que o Wesley, na mesma hora, falou: vai lá que você vai virar auxiliar. Eu falei: calma, presidente, que eu não trouxe nem roupa. Estou só com uma malinha de mão. Recebi o convite e aceitei de braços abertos, coração aberto e, graças a Deus, o trabalho foi bem feito”, relembrou.

Ibson chegou entre as finais do Campeonato Amazonense deste ano, quando a Onça levou o título inédito do estadual. Ele também esteve durante toda a campanha da Série C do Brasileiro (Jeiza Russo)

Nova fase

 Mesmo com a aposentadoria recente e reencontrando, desta vez do outro lado, atletas com quem já jogou junto, Ibson diz que a transição foi tranquila graças ao temperamento tranquilo e brincalhão. E a tranquilidade foi essencial para ajudar na transição que precisou acontecer após a demissão de Rafael Lacerda e a chegada de Luizinho Vieira durante o quadrangular do acesso.

“Essa transição Lacerda e Luizinho foi bem tranquila porque o Luizinho sabe lidar bastante bem com os jogadores. Como eu já estava aqui uns cinco meses, eu sabia mais ou menos a característica de cada jogador e foi isso que eu pude passar para ele, tanto que nos jogos ele sempre me levava para o banco e foi uma experiência muito boa. E teve o belo trabalho que o Lacerda vinha fazendo também. Conseguiu ser campeão amazonense, subiu da D pra C e deixou uma estrutura muito boa para o Luizinho pudesse chegar e fazer esse belo trabalho que ele fez”, contou.

Novato na função, Ibson busca conversar com ex-companheiros de campo e que agora vivem em outros cargos, como o caso de Felipe, ex-Vasco e Flamengo, e que hoje é técnico de futebol com passagens por Bangu e, mais recentemente, Volta Redonda. Outro é Athirson, ex-lateral esquerdo e que hoje é comentarista.

“Eu converso muito com o Felipe, que é um amigo que eu tenho quando eu comecei no profissional. Em 2003 ele já estava e é um cara que me abraçou, que me ajudou muito dentro do Flamengo, então a gente vem conversando muito o próprio Athirson também”, explicou salientando sobre a importância do aprendizado do dia a dia com os técnicos que passaram pelo Amazonas.

“Tenho aprendido no dia a dia com os treinadores que aqui estão. Começou com o Lacerda, que eu aprendi bastante. Sempre conversava muito com ele para que ele pudesse me ajudar porque começamos do zero e depois, com a chegada do Luizinho também e, graças a Deus, eu estou galgando meu espaço na comissão, então espero que eu consiga ficar ai bastante tempo. Hoje já me sinto manauara, tenho bastantes amizades, meu filho mora comigo aqui em Manaus ele joga o sub-16. Ano que vem se Deus quiser, trago minha esposa, trago minha filha e espero que possa ficar por aqui por bastante tempo”, completou.

Para o futuro, Ibson diz que a curto prazo a preocupação é em fazer uma boa Série B com o Amazonas. Já para os próximos anos, ele conta que pretende fazer os cursos que já planejava: o de Gestão no Futebol e o de técnico, mesmo deixando claro que não pretende exercer a função.

“A curto prazo é continuar o trabalho. Ano que vem vai ser uma competição mais difícil até por conta da logística. As equipes do lado de cá sofrem bastante, os voos são bem longos, os jogos são duas vezes na semana, então tem que ser uma logística muito. Vou sim fazer o curso, quero fazer o curso de gestão e fazer o de treinador, mas no momento não quero ser treinador não tenho vontade, treinador tem muita dor de cabeça. Auxiliar tá bom que tu fica no meio do caminho (risos) então meu primeiro objetivo é esse”.

Ibson durante treinamento do Amazonas FC. O ex-jogador compõe comissão técnica pelo primeiro ano (João Normando)

A arrancada

 Apesar de conquistados em times, divisões e com Ibson executando funções diferentes, os dois títulos brasileiros da carreira do auxiliar técnico guardam uma semelhança: a necessidade de arrancar na tabela para chegar ao objetivo. Em 2009, quando conquistou a Série A, o Flamengo estava 11 pontos e nove posições atrás do líder e conquistou o título na última rodada com a vitória sobre o Grêmio por 2 a 1.

Já na Série C, após perder os dois primeiros jogos do quadrangular, o Amazonas precisava fazer uma campanha perfeita nos quatro jogos que restavam para conquistar o acesso, o que se concretizou. Sobre a semelhança, Ibson diz que a circunstância dos títulos de 2023 fez lembrar de 2009, mas que a todo momento esteve tranquilo.

“Lembrar a gente lembra. A gente tava conversando com os jogadores pra que eles possam ficar tranquilos, mas eu não tinha dúvidas. Tanto que quando chegou, eu falei que tinha certeza que ia classificar. E no futebol você não pode ter dúvidas, você tem que ter certeza e eu tinha certeza de que a gente ia classificar. Nós fomos indo, indo e nos dois primeiros jogos contra o Volta Redonda eu tinha certeza que a gente ia chegar e seriamos campeões”, explicou.

A certeza de Ibson vinha das boas atuações nos dois primeiros jogos apesar do resultado adverso.

“Primeiro jogo lá contra o Botafogo nós jogamos bem, mas faz parte do futebol. Contra o Paysandu, em casa, jogamos super bem, infelizmente acabamos fazendo aquele pênalti e o Paysandu ganhou de 1 a 0, mas foi um jogo que o time pressionou o tempo inteiro, tivemos a chance de ganhar. E teve a mudança de treinador e alguns jogadores que estavam desanimados acreditavam que poderiam ter uma chance maior e com a chegada do Luizinho e ele deixou o grupo muito leve e eu sou um cara que eu deixo também sempre muito leve”.

Ibson atuou no Amazonas como jogador em 2021 e no estadual de 2022 (Jadison Sampaio/ Amazonas FC)

Identificação

 Ibson desembarcou em Manaus para fazer parte de um Amazonas que acumulava medalhões em seu plantel. Ele havia sido anunciado para jogar o Barezão em 2020, mas o campeonato acabou parando por conta da pandemia. Capitão na maior parte das vezes em que entrou em campo, ele disputou três Campeonatos Amazonenses, atuou em 22 partidas e marcou três gols.

Apesar da eliminação precoce, a Onça acabou ficando com a vaga para a Série D, já que o regulamento previa que em caso do Manaus – que estava na Série C – chegasse à final, a vaga iria para a melhor campanha da primeira fase. O líder foi o próprio Gavião, mas como a Onça teve a segunda melhor campanha, acabou indo para o Brasileiro de 2022, onde conquistou o acesso.

Fazendo parte de um projeto que, na época, tinha apenas dois anos de existência, Ibson diz que vir para o Aurinegro acabou ajudando a abrir portas e mostrar o valor do campeonato amazonense.

“O futebol tá crescendo muito. Naquela época era um pouco mais difícil porque muita gente não queria vir pra cá e acaba criando uma imagem ruim e é o oposto. Aqui a cidade é maravilhosa, só tem um problema: é quente demais (risos). O povo é muito receptivo, os estádios são bons e eu tenho bastante amigos aqui também porque na época do Flamengo, tinha uma parceria com o Nacional e tinha uns amigos que até pararam de jogar. Um está jogando comigo no Peladão, que é o Glauber, tem o Fabinho, que é da Compensa, o Alex, que virou advogado. A gente já tinha uma relação boa com a rapaziada daqui e quando você chega, vê que é totalmente diferente e eu falo sério: pode vir que você vai ser bastante feliz que o lugar é muito bom e muito maravilhoso”, disse.

O auxiliar hoje mora em Manaus com o filho mais velho, Ibson Júnior, de 15 anos e que faz parte do time sub-16 do Amazonas. O jovem já começa a dar os primeiros passos e disputa o Campeonato Amazonense da categoria, atuando na mesma posição do pai, o meio-campo.

“É um orgulho ver o teu filho trilhar o mesmo caminho que o pai trilhou durante a vida inteira. E eu sempre falei que é uma responsabilidade muito grande pra ele porque, quer queira quer não, as pessoas acabam querendo comparar, mas não tem que haver comparação. Ele é o Ibson Júnior eu sou o Ibson. Ele tem as características dele e eu tenho as minhas. Antes ele não queria jogar futebol porque ele não queria sair de Tombos. Nunca insisti, nunca forcei a jogar futebol, tanto que eu vou lá e torço. Não me meto em nada porque quem tem que cuidar é o treinador”, explicou.

Quando não está trabalhando, Ibson aproveita o tempo livre para encontrar os amigos e jogar futevôlei, atividade que o filho também gosta bastante, mas  não chega a jogar competições pela programação dos torneios que, muitas vezes, tem uma duração longa. Adaptado à cidade, Ibson fala que se quando chegou em Manaus era muito tietado e lembrado por ter jogado no Flamengo, hoje as pessoas também o abordam por fazer parte do Amazonas.

“As pessoas lembram muito por causa do Flamengo, mas está mudando porque hoje eu tô no meu terceiro aqui e ano que vem vai ser o quarto e, realmente, hoje é o Ibson do Amazonas”, finalizou.
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