TRAGÉDIA NA BR

BR-319: área da ponte onde ocorreu acidente tem contrato sem licitação

A empresa contratada pelo Dnit por quase R$ 34 milhões afirma que não chegou a realizar obras no local, pois o contrato foi rescindido. A Associação amigos da BR-319 disse que a empresa "pegou o dinheiro e sumiu"

Giovanna Marinho
29/09/2022 às 08:20.
Atualizado em 29/09/2022 às 08:20

Vários veículos pesados estavam em cima da ponte no momento do desabamento (Foto: Junio Matos)

Contrato firmado sem licitação pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), de quase R$ 34 milhões, prevê serviços emergenciais de recuperação e erosões na BR-319, do Km 13 ao Km 174, segundo dados do Portal da Transparência do Governo Federal. 

Firmado em 31 de janeiro deste ano com vigência até o final de outubro, as obras de manutenção envolvem o trecho do Km 25 (antigo Km 12) onde ontem despencou uma ponte de concreto. Vídeos do local mostram a deteriorização da pista na cabeceira da estrutura. O desastre provocou ao menos quatro mortes. Mas há 18 pessoas desaparecidas. 

Com sede no Paraná, no Município de Medianeira, a A G 0 Engenharia de Obras, de acordo com  o Portal da Transparência,  é a responsável pelos serviços de recuperação da rodovia na área que abrange a ponte sobre o rio Curuçá, que desmoronou. De janeiro a setembro deste ano, o Dnit já pagou a empresa R$ 31,2 milhões. A firma venceu, de 2021 a 2022, ao menos três licitações do órgão federal para obras na rodovia que liga o Amazonas a Rondônia. 

A reportagem entrou em contato com a A G O e uma mulher atendeu a ligação, que não se identificou,  se limitou a dizer que  empresa não está  mais realizando obras na BR-319, serviços que teriam sido repassados a outra firma, cujo nome não soube informar. 

“Me parece que foi outra empresa que assumiu. Ah, você me fala sobre a queda da ponte?”, disse sem que a 
reportagem tivesse citado o acidente. Depois de uma pausa ela retomou a ligação e disse: “Fui ver com o rapaz que chegou aqui, mas também a gente não sabe de nada”. A mulher orientou o  jornal a entrar em contato com o Dnit.

No Diário Oficial da União (DOU) a rescisão unilateral do contrato foi publicada no início do mês, no dia 5 de setembro. Segundo a publicação, o rompimento passaria a valer a partir do dia 2 de setembro, ou seja, nove meses após a contratação dos serviços pelo Dnit. Ainda no Portal da Transparência não há registro de novas contratações para os serviços na rodovia. A filial da empresa que ficava situada em Humaitá não está mais em funcionamento.  

“A gente não chegou a fazer esse trecho da ponte. O contrato já foi rescindido antes, já foi outra empresa”, afirmou.

 “Pegou dinheiro e sumiu”

 A Associação dos Amigos e Defensores da BR-319 confirmou a falta de operação da A G O Engenharia. Um dos membros da entidade informou ao A CRÍTICA que há seis meses já haviam informado o Dnit sobre os problemas estruturais do Km 25 nas proximidades da ponte, mas os comunicados foram ignorados. 

“Ela [A G O] simplesmente pegou o trecho pegou dinheiro do trecho e sumiu. Eles só jogaram um barro foram embora”, disse um dos membros da associação que preferiu não se identificar, mas encaminhou à reportagem as mensagens enviadas ao Dnit nos últimos dias.

Questionamos o Dnit sobre a manutenção e recuperação das obras da BR-319 e os contratos com a A G O Engenharia, mas o órgão se limitou a encaminhar a nota genérica, a mesma encaminhada a reportagem pelo Ministério da Infraestrutura, sobre o acidente informando que o Km 25 está interditado e que as equipes da autarquia estão no local e se mobilizam para “ações necessárias, alinhadas com as forças de segurança”. O Dnit estuda alternativas para restabelecer o tráfego no local.

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